SEMPRE FALTARÁ UMA ROSA EM NOSSOS JARDINS

Ela fazia as malas sem excitar de voltar atrás com a sua decisão, pois não agüentava mais aquela situação. Rogério sempre chegava de madrugada e embriagado.

Anne tinha casado com ele por amor, apesar da diferença de idade, mas ele jamais lhe deu o devido valor nem o respeito que uma esposa merece. O álcool e os amigos de botecos sempre estiveram à cima de seu casamento. Foram 3 anos tentando levar aquela relação que já tinha começado falida.

No segundo dia de casamento ele já a deixou em casa e foi para o bar com os amigos, lhe deixando em casa sozinha com todos os sonhos de menina de 15 anos tinha em relação ao amor e ao casamento

Enquanto ela fora para o banho se preparar para uma noite de amor, se perfumando, colocando um baybe-dol sexy, ele já tinha saído e só teve o seu retorno na madrugada, e embriagado sem poder saciá-la em plena lua de mel. Deitou-se ao seu lado e adormeceu até o outro dia às 10:30, quando despertou com uma ressaca, dor de cabeça e indisposto para o sexo.

Durantes esses três anos, ela venha procurando aquele “garanhão” tarado e fogoso que tinha lhe pegado de quatro em uma cama de caminhão dentro da cerâmica do seu pai.

Ela tinha um corpo de manequim; pele clara, pouco rasada, olhos esverdeados e cabelos castanhos claros caídos pelos ombros; semblante de menina, logo tinha deixado Rogério atraído e com muito desejo de possuí-la.

No inicio, era um homem educado, carinhoso, que soube lhe atrair e conquistá-la. A levava para os barzinhos e baladas, cinema... Fazia os seus desejos; embora o pouco período de namoro de 3 meses; pois logo na segunda semana de namoro,num sábado a tarde, e chuvosa de inverno; foram visitar a olaria do pai de Anne, não tinha mais nenhum empregado no local, quando ele a convidou para entrarem num caminhão 0K que estava parado ali. Ela aceitou o convite, e entre caricias e desejos, ele foi tirando o casaco, depois a blusa, o sutien. Foi acariciando os seus seios, e por fim possuindo o seu corpo de menina moça.

Não demorou para que o seu pai o descobrisse. Logo fez casar, pois ela engravidou já na primeira vez que transaram.

Ali arrumando os seus pertences para ir embora, ela pensava: ” Por que não enfrentei meu pai e fiquei em casa com barriga e tudo? Não teria passado tantas noites sozinha, e com certeza teria o meu filho comigo. Hoje saio desse casamento sem nada. Tenho que recomeçar a minha vida do zero. Irei agora enquanto é cedo, sou nova e não tenho filho”.

Quando estava no quinto mês de gestação, Rogério chegou em casa bêbado, depois de uma noite na urgia com os amigos, ela foi reclamar, levou um empurrão, caiu e perdeu o bebê.

Enquanto colocava as roupas nas malas, refletia o que teria sobrado do seu casamento, o que levaria de positivo para a vida afora.

Hoje não se considerava mais uma menina, seu lado mulher tinha aflorado e não aturava mais as atitudes do marido.

Voltaria para a casa dos pais por um tempo, até se estruturar. Iria voltar a estudar, trabalhar, formar-se numa faculdade, ser independente. Já não sonhava mais com o principie encantado, pois há tempo que ela sabia de que o mesmo só existia nos livros de histórias infantis.

Ela acaba de arrumar as suas coisas, liga para um táxi, e dá uma ultima vasculhada pela casa para verificar se estava esquecendo de alguma coisa, e encontrou o seu álbum de casamento. Abriu e folheou o mesmo com muita nostalgia; quando escuta a buzina do carro lhe chamando. Abre a porta da rua, vai até ao portão com duas malas e pede ajuda ao motorista para ir em buscar o resto das coisas.

..........

Rogério olha às horas e decide ir para a casa mais cedo. Passa na padaria para comprar pão, olha uma torta alemã no balcão, pede para a balconista ¼ para levar para a esposa, pois achava que estava em divida com a Anne. Com certeza ela precisava de mais atenção, pois pela manhã, quando saiu para o trabalho, Anne tinha falado novamente em abandona o lar, mas ela sempre falava, mas nunca o deixaria, pois fui o primeiro homem de sua vida, pensava ele: ela nunca precisou trabalhar fora, nem estudar. “Sempre dei o que precisou, mas vive reclamando que chego tarde em casa. Mas sempre gostei de tomar uma cervejinha com os amigos, quê mal tem nisso? Trabalho o dia inteiro no pesado, acho que mereço um pouco de lazer.”

Chegou em casa com o doce para a Anne, abre a porta e encontra todas as luzes apagadas, num silencio anormal. Acendem algumas, vai ao quarto e não encontra a mulher. Volta na cozinha na esperança de encontrá-la, e nada. Pergunta-se onde ela tinha ido e não retornado até àquela hora da noite?(22:15) Foi na geladeira, tirou a sobra de comida do almoço e esquentou para comer. Alimentou-se e voltou para o quarto para tomar um banho. Leva um susto quando abre o guarda-roupa e não encontra uma muda da roupa de Anne. Recorda da promessa de que ela tinha feito naquela manhã. Tinha lhe falado de que iria lhe abandonar. Não dera muita atenção do que ela falava, pois cada vez que brigavam, a esposa prometia ir embora.

Ia dormir, com certeza tinha ido para a casa dos pais. Amanhã ligaria e tudo seria resolvido. Pediria desculpas, lhe prometeria uma mudança de atitudes, que conseguiria na primeira semana, depois tudo voltaria ao normal, pois jamais iria deixar de tomar sua cervejas com os amigos.

Naquela noite dormiu ”feito um anjo”, apesar de sentir a sua falta, mas tinha a certeza de que no outro dia ela retornaria para a casa.

...........

No táxi, o motorista lhe pergunta qual era o seu destino? Anne que estava decidida ir para a casa dos pais para recomeçar a vida, mas por um momento de magia ou loucura, resolveu ir para a rodoviária. Pois se fosse para a casa dos pais, teria que dar satisfação do motivo que saíra de casa. Rogério no outro dia já iria atrás dela, e por pressão da família poderia acabar voltando para aquele relacionamento falido.

Pegaria um ônibus para a capital e lá arrumaria emprego de domestica talvez. Ia estudar e fazer a sua vida. – Para rodoviária, por favor!

Comprou a passagem e esperou 15 minutos para o embarque. No ônibus, foi conversando com uma amiga que ia para o mesmo destino para estudar.

Na rodoviária as duas se separaram. Anne por um momento se sentiu perdida, mas pegou um carro de praça e foi logo se informando com o motorista onde teria um hotelzinho, ou uma pensão mais em conta. Explicou em poucas palavras que tinha vindo atrás de emprego, queria estudar e vencer na vida honestamente.

O motorista por sua vez a interrogou: - Moça, você fugiu de casa e não tem para onde ir?

- Sou casada... Melhor falando... Eu era casada até a algumas horas atrás. Abandonei o meu lar porque o meu marido nunca me deu valor. Em três anos que estávamos juntos, ele nunca chegou em casa antes das 22:00 horas. Esse horário quando chegava cedo.

Os amigos sempre foram mais importantes do que eu na vida dele. Como que eu ia passar o resto dos meus dias do lado de um homem que mal me tocava umas 3 vezes por mês?

- Não tiveram filhos?

- Engravidei, mas quando estava no quinto mês de gestação ele chegou em casa bêbado, começamos a brigar, ele deu-me um empurrão, levei um tombo e perdi a cria.

- Sua idade moça?

- Acabei de completar dezoito anos. Estávamos juntos a três.

- Você não acha que deveria ter voltado para a casa de seus pais?

- Bem, se achasse não estaria aqui. Hoje quando sair de casa era para lá que eu ia, mas decidir ir além, deixar de viver sobre as asas deles ou de quem quer que fosse, alçar voos mais altos e ir mais distante.

Quando chegaram na pensão de dona Picurrucha, Osvaldo, o motorista, foi logo apresentando a Anne.

A dona da pousada foi logo ditando as regras para que pudesse pousar ali. Nunca poderia trazer homens para pernoitar, jamais poderia chegar embriagada, tinha os horários de café, almoço e janta; depois das 22:00 horas teria que fazer silencio e o pagamento teria que ser adiantado.

Anne falou para dona da pensão: - Concordo com todas as regras dona Picurrucha. Quero que saiba de que não vim para a capital atrás de homem. Estou saindo de uma relação, e tão cedo não pretendo entrar em outra. De mais a mais, estou aqui na capital para trabalhar, estudar, vencer na vida. Se a senhora souber ou tiver algum serviço para mim, ficarei feliz. Também quero saber quanto a Sra irá me cobrar para dormir e me alimentar? Pois não tenho muito dinheiro. Logo, logo, preciso arrumar um emprego.

Para chegar até ali, tinha furtado mil e quinhentos reais que seu marido tinha guardado para pagar a prestação do caminhão caçamba que tinha. Sabia de que não tinha agido certo, mas achava que ele nunca tinha lhe dado o valor que ela merecia.

Dona Picurrucha viu a sua sinceridade e fez por 500 reais o quarto, café da manhã. Almoço e janta; mas sempre deixando bem claro de que ela iria comer o que tinha na mesa.

Anne não excitou nenhuma de suas exigências, pois fazia quase 18 horas que tinha saído de casa.

Estava cansada, precisando de uma ducha, uma cama cheirosa e quentinha, porque no dia seguinte teria que começar a procurar emprego. Deu 250,00 reais de adiantamento e logo estava no seu quarto tomando um banho quente.

******

Rogério despertou-se cedo e para ir trabalhar. Ao meio dia foi em casa na esperança de encontrá-la de volta, mas vã foi a sua esperança.

Quando foi pegar o dinheiro para pagar a prestação do caminhão, não o encontrou. Revirou todas as gavetas de onde tinha colocado e nada. Logo desconfiou de que a mulher tinha levado. Ligou para a casa dos pais de Anne atrás dela, e descobriu de que não tinha aparecido lá.

Rogério começou a ficar preocupado, pois Anne tinha saído de casa no dia anterior e não estava na casa dos pais, ou estariam mentindo para ele?

Iria até lá verificar. Com certeza acharia alguma notícia sua, pois não podia ter ido muito longe, mas chegando na casa dos seus sogros, contou que tinha chegado em casa na noite anterior perto das 22:00 horas e não a encontrou e casa. Também falou do desaparecimento de mil e quinhentos reais.

Perguntaram o motivo dele não ter procurado por ela na noite anterior? Falou que tinha certeza do seu retorno para o lar no dia seguinte.

A procuraram nas casas dos parentes e amigos, mas não receberam nenhuma noticia que viesse acalentar os corações dos familiares. Foram na delegacia e deram queixa, e perguntando pelas ruas e praças, descobriram que Anne tinha tomado um táxi até a rodoviária e de lá um ônibus com destino a capital.

Rogério ficou desesperado com a noticia do desaparecimento da mulher, e com a falta do dinheiro da prestação do seu caminhão, pois era com o mesmo que ele a sustentava sem nunca reclamar dela não trabalhar fora. Achava de que era obrigação sua sustentar a esposa. Que por fim, não lhe deu valor. Partiu levando suas economias.

Não iria atrás, nem ficaria pelos bares bebendo e reclamando da vida, mas a medida em que foram passando os dias, ele foi sentindo a falta do seu perfume, dos seus carinhos, da sua comida e companhia. Pois muitas vezes só damos valor para as pessoas depois que a perdemos.

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Anne despertou cedo para começar uma nova etapa na sua vida. Tomou um café com pão e perguntou para a dona da pensão onde era o SINE daquela cidade, pois precisava de um emprego com urgência. Dona Picurrucha não sabia onde ficava, mas lhe deu um classificado de jornal para que ela pudesse achar alguma vaga. Ela riscou duas de doméstica e uma de balconista em uma loja de roupa, e já na primeira entrevistas foi contratada como domestica, mas não podia pernoitar na casa, e o salário seria a conta para pagar a pensão. Claro que iria pedir um abatimento na pensão por que não precisar de se alimentar ali de segunda a sexta, só na janta.

Ia ganhar 650 reais, mas podia arrumar outro emprego a noite, e foi o que fez. Trabalhava numa pizzaria até meia noite para ganhar mais 650 reais.

ligou para a casa após três dia e falou com a mãe, a qual aconselhou voltar para o marido. Ela disse que quando melhorasse de vida, iria visitar a família.

O trabalho não era nada fácil. Era das 7.00 à meia noite ou até à uma da manhã. Aos sábados dormia quase o dia inteiro, e só trabalhava de noite. Domingo também aproveitava para descansar, mas não demorou mais que um mês e meio para descobrir de que estava novamente grávida do marido. Quando tomara a decisão de sair de casa, ainda não tinha sentindo nenhum sinal de gravidez. Agora corria o risco de perder os dois empregos. Os de garçonete não demoraria muito, e o de domestica também, pois estava em fase de experiência nos dois.

Achou-se azarada demais pela situação, mas teria que dizer a verdade para os dois patrões, na esperança de que ao menos um deles a deixasse empregada até ter o bebê. Criá-la sozinha ali na situação a qual se encontrava, ia ser muito difícil. Não estava na hora certa de ser mãe, pois estava começando ou recomeçando a sua vida naquela cidade grande e sem ninguém conhecido, uma amiga ou um amigo. Conhecia as outras garçonetes e as empregadas da pensão, mas não tinha muita amizade. Com certeza, quando a dona Picurrucha soubesse de sua gravidez iria lhe colocar para fora por causa do choro do bebê.

Estaria num “mato sem cachorro”, sem emprego e nem lugar para ficar. Realmente a vida tinha lhe dado uma rasteira. Mas o destino sempre dá um jeito para tudo na vida, e com a Anne não fora diferente, quando ia falar para a patroa da casa onde ela trabalhava, a mulher deu um AVC hemorrágico, que levou a ter uma paralisia onde afetou a coordenação motora da fala, o lado direito como perna,braço, visão e audição ficou muito comprometido. Com isso o marido pediu para ela sair do outro emprego, deixar a pensão e que passasse a morar ali para cuidar da casa, do filho e dela. Claro que teria mais pessoas para ajudar da esposa, mas como ainda não sabia da gravidade da enfermidade, e nos quase quatro meses de que ela estava trabalhando com eles, sempre foi muito pontual, limpa e carinhosa com o filho do casal, gostaria da sua colaboração.

Anne por sua vez, não excitou por nenhum instante em aceitar a proposta, pois seria a única saída para a sua situação, mas seria a hora de contar para ele da sua gravidez? Mas se não falasse correria o risco de ser colocada para a rua quando a sua barriga começasse a crescer.

- Você aceita a minha proposta Anne? Saiba de que me estarias nos ajudando muito neste momento tão difícil na nossa vida.

- Seu Renato, antes de aceitar preciso lhe contar a minha história. Vim para a capital para vencer na vida. Meu casamento estava falido, mas descobrir a poucos dias que estou grávida, e vim hoje para falar para a dona Carmem, pois tinha um problema muito grande para resolver com ela, mas ao chegar aqui encontrei o senhor com um maior do que o meu, e precisando muito da minha ajuda. Saiba de que estou disposta a colaborar com o Sr na recuperação de sua esposa, se me aceitares com uma gravidez de uns dois meses e meio a 3 meses. Quando deixei o meu marido e sair de casa, não imaginava dessa gravidez, pois se soubesse não teria a coragem deixá-lo para vim para cá criar o meu filho sozinha.

Era casada há três anos, e quando fazia um ano engravidei a primeira vez, e com cinco meses de gestação, meu marido chegou embriagado em casa, começamos a discutir, ele me deu um empurrão que cair e perdi o bebê.

Sei que agora não era a hora do meu filho nascer, nem queria que o pai desse neném fosse o meu ex-marido, mas tadinho, ele não teve culpa de nada. Eu que devia de ter me cuidado mais...

- Desde primeira vez que entrasses nessa casa, percebi que estavas passando por um momento difícil, mas que eras do bem. Nos poucos momentos que fico em casa, quando estás, percebo o carinho que tratas o meu filho, e agora com a mãe doente, pois ainda não sabemos da gravidade do AVC dela, o Juliano irá precisar muito mais de você.

Pelo que o médico me falou no primeiro momento, não deu muito fraco não. Ela está no CTI. Daqui a pouco terei que voltar para o hospital, o Juliano ainda não acordou, daqui a pouco ele irá despertar perguntando pela mãe, e terás que me ajudar a segurar essa barra Anne.

Quando eu voltar do hospital, nós três iremos à sua pensão pegar as suas coisas, podes ocupar o quarto de visita. Acho que esse apartamento vai ser pequeno com a doença da Carmem. Terei que procurar uma casa maior. Pois irás precisar de um quarto maior para você e seu filho. Vamos precisar de uma enfermeira para cuidar dela, pois irás ter a casa e o Juliano para tomar conta... Mas fique tranqüila que quando precisar de mais uma empregada para te ajudar nos últimos meses de gestação, eu colocarei. Quero que você tome conta da casa enquanto a Carmem estiver doente.

- Seu Renato, apesar da minha pouca idade, pois só tenho 18 anos, não irei decepcionar o senhor. Vou fazer o que tiver ao meu alcance para ajudá-lo, e tenha fé de que dona Carmem irá se recuperar. Se Deus quiser logo, logo.

- Sim, não pode acontecer o pior com ela, pois ela só tem 39 anos. Nos casamos quando já estávamos mais maduros. Eu tinha 39 e ela 32 anos. Depois de 4 anos, o Juliano nasceu. Agora que ele está numa idade engraçada, três aninhos, acontece isso com a mãe.

- Se Deus quiser tudo irá acabar bem, tenha fé seu Renato, acabo de perceber que Ele não abandona ninguém, pois quando sair de casa nessa manhã, achei que a minha vida estava perdida, mas cheguei aqui, apesar desse ocorrido com a dona Carmem, a minha vida estar sendo resolvida.

Renato foi para o hospital, onde sua esposa permaneceu por 30 dias entre a vida e a morte. Foram duas operações na cabeça, 25 dias de CTI. Os AVCs paralisaram o lado esquerdo, onde pegou perna, braço,voz; comprometendo toda parte motora.

Nesse mês, Renato teve que se mudar de seu apartamento de 3 quartos para uma casa um pouco afastada da cidade, mas com 5 quartos, um jardim enorme onde escutava os pássaros, via a lua e as estrelas como na cidade onde Anne nascera.

Renato colocou uma enfermeira e outra doméstica para cuidar da casa, enquanto ela ajudava a enfermeira a cuidar de dona Carmem, organizava os serviços de casa e cuidava de Juliano enquanto esperava o seu neném.

Os dias e meses foram passando, e Renato não percebia quase nenhuma melhora em sua esposa, e nesse mesmo tempo fora crescendo um sentimento muito sereno por Anne. Primeiro uma amizade misturada a respeito e carinho, mais tarde a atração, por fim paixão e amor. Pois depois que o filho dela nasceu, não levou muito tempo para que o seu corpo voltasse ao normal, e a cada dia ela se tornava mais linda, seus olhos azuis brilhavam mais a cada dia, seu corpo alvo de pele rosada resplandecia a cada manhã; sem falar do seu aroma que tomava conta de todos os ambientes da casa.

Mas Renato relutava para não sentir tais sentimentos, pois tinha a plena consciência de que era casado e que tinha que reunir todas as suas energias, força e fé para que pudesse acreditar no milagre da recuperação de sua esposa.

Anne por sua vez, só tinha olhos para o seu filho, para cuidar de Juliano, olhar na organização da casa, ajudando a limpar e cuidando com carinho e paciência de dona Carmem. Quando as outras serviçais falavam do amor que seu Renato tinha por ela, Anne as chamavam a atenção, falando de que ele era casado e que jamais lhe faltou com respeito.

Ele por sua vez, tinha os seus princípios religiosos, pois tinha sido seminarista por seis anos, até o segundo ano de Teologia, quando num retiro de jovens conheceu sua esposa. Falava ele, de que ela tinha o desviado da batina, pois até a conhecer nunca tinha se interessado por mulher nenhuma. Estava decidido ordenar-se padre, mas depois de ter-se com encontrado Carmem, descobriu de que sua vocação era viver a dois. Logo começaram a namorar e ele saiu do seminário, começou a dar aulas, mais tarde abriram um colégio e casaram.

Hoje ele olha para ela e quase se desespera ao ver tão apática ao mundo que a rodeia. Após quase um ano que ela estava em tratamento, quase não via resultado de recuperação, pois o processo é muito lento, e os tratamentos de um custo significativo por necessitar muitos profissionais como: fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta-ocupacional e enfermeira.

Ele reconhece de que precisaria estar mais em casa lhe dando atenção, a estimulando, mas tem um colégio com mil e quinhentos alunos e mais professores, funcionários e os pais dos alunos para atender.

Era muito grato com a Anne, que apesar de ter tão pouca idade (18 anos ), já assumiu toda responsabilidade de seu lar.

Claro de que não achava correto, mas ela é a sua “tábua de salvação.” Sem ela estaria perdido, pois sua família era de longe, e a de Carmem pouco ou quase nada o ajudava. Claro que no inicio a casa era cheia, mas com o passar dos dias as visitas foram raleando, salvasse a sogra que passa as tardes com a filha, apesar dos seus 65 anos de vida.

Anne vive estimulando a sua patroa. Quando a mesma consegue fazer alguma coisa diferente como: acenar, rir,murmurar. Ela foi para Internet nas horas de folga, e começou a pesquisar sobre AVC.

Anne saia todas as manhãs com Carmem. Primeiro pelo jardim de casa, na cadeira de roda, e mais tarde os passeios foram para além muros, aponto de Rogério pedir para ela tirar a carteira de motorista para poder dirigir o carro de Carmem.

Anne sabia que por causa da atenção que dava para a patroa, o seu filho e o Juliano ficavam um pouco sem atenção, esquecidos; mas acreditava de que quanto mais Carmem fosse estimulada, mais rápido era seria recuperada.

No primeiro ano a patroa se alimentava só através de sonda. Por muitas vezes tirou o cateter dormindo, quando ninguém estava por perto.

*****

Com o passar dos dias e meses, Renato foi tomando outro sentimento pela esposa, que com o derrame foi modificando o seu corpo, seus atos e suas rotinas. O marido por sua vez, estava cada dia mais apaixona pela empregada. Que se tornava cada dia mais madura, mais mulher.

Amigo leitor me dê licença para voltar ao nascimento de Luís, o filho de Anne. Quando Renato aceitou que continuasse trabalhando mesmo grávida, depois de alguns dias ligou para sua mãe falando da gravidez. A mãe a pediu que a voltasse para a casa e para o marido, pois se demorasse a retornar a cidade, e quando voltasse com um filho nos braços, a cidade toda iriam continuar dando razão para Rogério. Ninguém ia acreditar de que aquela criança era dele; mas ela não voltou, e quando o seu neném completou um ano, seu patrão a colocou no carro com o filho, a esposa, Juliano e foram visitar a família dela. Foi uma viagem de 14 horas, a primeira viagem mais longa que fizeram com Carmem depois do derrame.

Os pais e parentes de Anne ficaram admirados com a aparência de seu neném, o mesmo se parecia muito com o Rogério. Queriam que ela mostrasse para ele, mas ela não queria nenhuma aproximação com o pai. Falava de que queria criar o seu filho sozinha, mas não demorou para avisarem para ele de que a sua ex esposa estava na cidade, e com uma criança de um ano em seus braços, afirmando de que era dele. Ele por sua vez, ficou furioso com tais noticias. Primeiro por ela ter voltado, segundo por ter trazido uma criança nos braços dizendo de que ele era o pai.

Levantou-se da cadeira do bar onde estava tomando uma cerveja com os amigos, e falou: - O quê aquela vaca veio fazer aqui? E que história é essa de dizer que ela voltou com uma criança nos braços falando de que sou o pai? Quem sabe ela quer que eu acredite?

- Você pode até não acreditar, mas vi a criança, e é a sua miniatura. Parece a sua fotocópia. Mas parece que Anne não quer nenhuma agulha de você. Ela só veio visitar a família. Parece de que já parte amanhã mesmo para a capital.

- Ela veio sozinha ou com algum macho?

- Seus patrões a trouxeram. Não vi, mas dizem de que a sua patroa deu um derrame, e não anda, não fala.

- Não acredito que seja meu filho.

Rogério pediu outra cerveja, e naquela noite, ele fora para a casa outra vez embriagado, o que não era diferente dos outros dias. Nesses quase dois anos em que Anne foi embora, ele não tinha modificado em nada.

No dia seguinte, ele mandou um recado de que precisava falar com ela. Mesmo sem vontade ela foi ao seu encontro, mas não levou o filho.

- Oi Rogério, como estás?

- Por que queres saber como estou? Por que voltasses? Dizem que trouxesses um filho nos braços, é verdade?

- Bem, vir falar com você, porque acho que lhe devo uma explicação de minha partida. Fui por causa da vidinha monótona que levávamos. Preferias os amigos, a cerveja, os bares do que a mim. Sempre chegavas embriagado, me batias a ponto de levares a perder o meu filho. Não voltei para ficar; só vir visitar meus pais. Quanto ao meu filho, você é o pai sim. Infelizmente não soube escolher o pai de meu filho.

- Você me roubou 1.500 Reais que estava guardando para a prestação do caminhão.

- Peguei emprestado. Tome aqui de volta o seu dinheiro!

- Você foi muito ingrata. Sempre lhe dei tudo que querias, nunca lhe faltou nada, não trabalhavas fora.

- Nunca te considerasse um homem casado. Dava-me casa, comida e roupa; mas faltava o principal: o carinho, o companheirismo... Fui em busca de a minha felicidade. Tornei-me uma gaivota que queria alçar novos voos. A vida é muito curta para vivemos com uma pessoa por um prato de comida, uma muda de roupa.

- Já sabias de que estavas esperando um filho?

- Não, ainda não sabia que estava grávida, graças a Deus! Se soubesse, por certo não teria ido.

- Já tens outro homem? – Não. Fui para trabalhar e estudar. No inicio trabalhava como domestica de dia e numa pizzaria à noite, mas a minha patroa deu um AVC e fui morar lá, fiquei responsável pela casa, cuido dela e do filho.

-Estás feliz?

- Essa pergunta é muito subjetiva, pois a conquista da felicidade é uma busca constante; mas estou muito feliz com o meu filho. Ele é a razão da minha existência.

- Posso conhecê-lo?

- Claro, afinal, és o pai.

Na mesma tarde Rogério foi até a casa dois ex sogros conhecer o neném. Percebeu que realmente a criança era parecida com ele. Tentou pegar o filho no colo, mas a criança chorou quando o viu.

No final da tarde do dia seguinte eles voltaram para a capital, o no caminho furou um pneu do carro e Renato não conseguiu segurá-lo na pista. A caminhonete rodou e caíram numa ribanceira, levando ao óbito a sua esposa e o filho de Anne.

Juliano quebrou uma das pernas, Renato algumas costelas e Anne ficou desacordada por algumas horas na CTI. Fraturou 3 costelas, e uma perfurou o pulmão. Ela ficou internada por três dias. O seu filho foi enterrado na cidade dela, graças a Rogério que mandou levá-lo, enquanto ele foi enterrar a sua esposa e mando transferi-la para a capital.

No segundo dia, ele foi visitá-la e falou da morte da mulher e do seu filho. Ela chorou por muitas horas inconsoladamente. Depois desses dias internada, retornou para a casa onde trabalhava, já sem o filho e a patroa que ela cuidou com carinho e dedicação durante 18 meses.

A casa que no inicio do AVC de Carmem era cheia de enfermeiras, empregadas e duas crianças com a dela, agora parece imensa para ela, seu Renato e Juliano. Não seria a hora de arrumar as malas mais uma vez e retornar a sua terra natal onde estava enterrado o seu rebento? Tantas vezes ela já tinha feito as malas nessa sua trajetória em busca da felicidade, e quanta ainda teria que fazer até encontrá-la? Às vezes se perguntava se ela existia, mas não conseguia encontrar uma resposta.

Após alguns dias que ela tinha voltado, Renato chegou em casa mais cedo do colégio e começou a falar sobre a vida, como conhecera Carmem e que mesmo vendo o sofrimento da esposa depois do AVC, estava sentindo a sua falta; talvez não como aquela esposa de antes do derrame, mas aquela casa sem a sua presença e do menino João Alberto, filho de Anne, que aprendera a amar como a amava seu filho Juliano, se tornara vazia, grande e escura. Anne lhe perguntou:

- O quê acontecerá com as nossas vidas agora? O senhor continuará precisando dos meus serviços? Ele a abraçou, levou até a janela que dava para o jardim da casa, e falou:

- Anne, agora mais do que nunca, irei precisar de você para que no jardim de nossa existência, num futuro próximo, possa nascer e desabrochar novos botões de rosas.

- Sempre sentiremos a saudade daquelas que o jardineiro maior colheu antes de desabrochar.

**********

Os dois se casaram após alguns meses, Anne logo engravidou, teve um menino, e mais duas irmãzinha para Juliano, que sempre a chamou de mãe.

Nos dias de sol, aniversários, natais e dias de festas, aquele imenso jardim ficava pequeno para a correria, brincadeiras e para tanta felicidade da família do professor Renato e da pedagoga Anne, que só notaram que a casa voltou a ficar grande novamente, quando seus filhos foram para a faculdade, mas hoje os netos enchem sua casa e seus corações de felicidade com suas brincadeiras não só no imenso jardim, mas por toda casa.

FIM

LUIZ CLAUDIO GANDIM KAU
Enviado por LUIZ CLAUDIO GANDIM KAU em 16/06/2010
Código do texto: T2322315
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