O POÇO

Em um tempo remoto quando não havia água encanada fornecida ás casas pelas municipalidades ou pelas companhias de águas das cidades cada cidadão ao construir sua morada providenciava para que fosse cavado no terreno da construção um poço e normalmente por meio deste através de uma roldana presa a um suporte no meio do poço com uma corda se puxava em um balde a água que abasteceria a residência. Ao redor do poço era construído o chamado bocal, uma estrutura de tijolos de mais ou menos um metro que protegeria a água do interior de pequenos animais terrestres que pudessem cair dentro do poço e desta forma contaminar a água ou também qualquer objeto que pudesse com facilidade cair dentro do poço também comprometendo desta forma a qualidade da água e também servia como segurança para que as pessoas que acessassem o poço para dele retirar água tivessem a segurança necessária para não corressem o risco de acidentalmente cair dentro do mesmo.

Normalmente a umidade no interior desses bocais e a proximidade da água faziam com que crescesse uma vegetação viçosas de musgos, avencas e samambaias que quase fechavam a boca do poço tornando verde o seu interior.

Uma família mudou-se para uma casa com essas características e apesar de já a algum tempo neste local a água vir por encanamento da rua ainda nessa casa se mantinha o poço para alguma emergência. A família tinha um menino, garoto de seus seis ou sete anos de nome Julio a quem a mãe carinhosamente chamava Julinho, menino quieto calmo mas de mente rápida sempre em busca de algo novo que lhe chamasse atenção ou despertasse sua curiosidade e foi o que se deu logo com o poço que apesar do aviso do pai para evitar a aproximação do poço pois que era muito perigoso e lhe haviam dito se tratar de um poço muito fundo e muito antigo que deu muito boa água por muitos anos aos moradores da casa antes do fornecimento público de água.

Mas Julinho apesar de todos os avisos se acercou do bocal e na ponta dos pés olhou parte do interior, todo verde, uma grande diferença do tom de verde da vegetação de fora do poço que padecia do calor e da falta de umidade comum nessa época do ano e daquela do interior do poço muito verde e viçosa da umidade do ambiente jogou uma pequena pedra dentro que após alguns segundos escutou blup na água lá embaixo, calculando ele assim a distância que haveria até a água lá embaixo e imaginando o que haveria mais abaixo dessa cortina verde espessa de vegetação, mas nesse dia foram até ai os avanços do Julinho e nos outros que se seguiram o poço fazia parte de todo plano de brincadeira do garoto sempre andava na sua volta olhando analisando e conjeturando algo ou alguma coisa envolvendo o poço e eventualmente uma pedra era jogada para ouvir novamente o blup.

Julinho arrumou um amigo morador da vizinhança com idade regulando com a sua e o trouxe para juntos analisarem o poço e assim entre esta ou aquela brincadeira em um determinado momento se viam debruçados no bocal do poço analisando seu interior, Julinho teve a idéia de descer no balde com seu amigo segurando a corda, até passar a vegetação para que ele visse como era , mas seu amigo resistiu dizendo ser muito perigoso e ficaram bem na ponta dos pés e conseguiram como que um espelho lá no fundo era a água pois que o sol estava a pino e permitia uma melhor visão deixando entrar mais claridade para dentro do poço, Julinho insistiu na descida pelo balde mas na relutância do amigo desistiu ou pelo menos adiou o plano.

No outro dia fez uma inspeção minuciosa no balde e viu que realmente estava muito enferrujado com pequenos furos no fundo por certo não resistiria ao seu peso conversou sobre isso com o amigo que disse que em um pequeno galpão nos fundos de sua casa havia um balde semelhante era usado mas em bem melhor estado que aquele foram até lá e o trouxeram e fizeram a troca o desceram até a água e trouxeram um pouco de água do poço cerca de meio balde, era fria passaram no rosto Julinho tomou um gole com as mãos em concha o amigo não quis dizendo que a água tinha cheiro de barro. Mas os planos corriam para que Julinho fosse descido até o fundo do poço pelo amigo que mesmo não concordando inicialmente ia sendo conduzido nas tratativas de organização e planejamento da operação e como a mãe de Julinho envolvida nos afazeres do dia a dia não prestava muita atenção nas brincadeiras dos meninos o dia dos meninos transcorria sempre próximo ao poço, ficando então nesse dia tudo combinado para o dia seguinte fazerem a operação combinada. No outro dia o amigo de Julinho não apareceu indo até lá soube que o amigo estava de resguardo com febre pois sofria de doença respiratória e ficaria acamado por uns dias. Que fazer? Disse ao amigo que esperaria pelo seu restabelecimento para colocarem o plano em prática e juntos descobrir o que haveria naquelas profundezas por detrás daquela vegetação. Retornou assim Julinho para casa e claro foi ao poço dar mais uma olhada avaliando o planejamento da operação e se debruçou no bocal e na ponta dos pés conseguiu novamente quase enxergar a água, mas parece que algo se mexia lá embaixo movimentando a água, ergueu-se mais deixando os chinelos e se levantando no bocal do poço de desequilibrou o centro do peso de seu corpo pendeu mais para dentro do poço que para fora dessa forma despencou Julinho na imensidão vazia do escuro buraco do poço deu-se um estrondo do corpo caindo na água lá embaixo mas abafado pela profundidade e pela espessa vegetação da volta do bocal ninguém escutou. Passou-se o tempo até que próximo ao meio dia sua mãe começou chamá-lo para o almoço lembrando então que já a algum tempo não o via teve um mau pressentimento e correu em direção ao poço e levou um choque ao perceber os chinelinhos na beira do bocal do poço, desmaiou não sem antes imitir um grito de mãe desesperada e acorreram os vizinhos, bombeiros foram chamados mas nada mais pode ser feito a pancada na cabeça ao cair sobreveio o afogamento a não ser prantear a grande perda. No outro dia saiu o enterro e mais tarde um pouco a mudança dos pais do Julinho que não quiseram passar mais nem uma noite naquele lugar amaldiçoado que lhes arrebatou a vida do único filho.

Mas a casa em seguida foi locada novamente agora para um casal com três filhos que já foram avisados para não se aproximar do poço pois dizem que morreu um menino ai mas o mais velho deles de nome Lucas esteve no bocal olhando e não acredita que alguém possa ter caído ali dentro, achou muito bonita a vegetação da volta do interior do poço jogou um a pedrinha que depois de alguns segundos fez blup e disse ao outro irmão que estava próximo hoje já está tarde mas amanhã próximo do meio dia com sol a pino vamos olhar no poço ai por certo conseguiremos enxergar até a água ou o que houver além das avencas.

Diniz Blaschke
Enviado por Diniz Blaschke em 15/06/2010
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