Mentes Ideológicas

Gostamos tanto de ver os outros opinarem, falarem de si. Gostamos tanto de ouvir as opiniões sobre a copa do mundo, o vizinho que se mudou, as coisas da vida, os impostos a pagar, a corrupção da polícia, a criança que morreu, o pai que em sua filha bateu. Sim, gostamos, e damos ordens, bravejamos cabeças cortadas, fica em nós um sentimento de tudo, tão logo o sentimento de nada quando somos “convidados” a nos retirar e nos distrair com mais uma novela, um casal feliz, um alguém que ganhou bebê, ou uma nova celebridade.

Esse texto meio em tom convidativo queria trazer você para uma viagem... viagem da sua cabeça, a que você manda e a que você pensa que manda. Sim, não fique muito assustado, você é mandado também, e muita coisa que você um dia achou que pensou por si próprio, na verdade foi direcionado, “convidado”, manipulado a pensar que pensava por si próprio. Já pensaram antes por você. Chato, né?

Vamos bravejar, querer cortar cabeças juntos, gritar “Ai, que absurdo!”, mas... ainda assim, seremos manipulados mais uma vez a pensar que estamos pensando. Não são coisas muitas que eles querem... bem, deixe eu explicar quem são “eles”: “eles” são os que estão interessados em determinado assunto e gostariam muito que aquele assunto tomasse um devido rumo. Vamos então falar de interesses, que logo puxará o assunto de poderes, que logo puxará o assunto de domínio, que logo puxará o assunto de ideologia, que logo puxará o assunto de massificação, que logo puxará o assunto do papel dos agentes massificadores, que logo puxará o assunto mídia, e nunca pararemos de falar, falar, falar. Isso é o que eles querem também, eles querem ser ditos. Falados. Não, não querem se esconder, nunca se esconderam, a culpa ainda é sua, o que piora o caso: você é que não percebeu.

Não percebeu que em pequenas coisas, somos “sugestionados” ou “convidados” a pensar, por um segundo, diferente do que pensávamos. E esse pensar convidativo por um segundo nunca é só um pensar, é já um pensar agindo, é já um agir correndo antes de pensar na verdade. E quando percebemos, já fizemos, então não há muito o que voltar. Esses são os momentos mais perigosos de nossa vida. Tomar o rumo sugestionável.

E somos sugestionados, muito, aos montes, não pensar. Não querer, não gritar, não lutar, não perceber... somos treinados a pensar sobre Adriane Galisteu, mas se percebermos, já pensaram antes na Adriane Galisteu, você leu e pensou de novo nela, mas de uma forma muito mais controlada, com poucas informações, poucas direções e poucas situações. Sim, porque se você tiver muita informação, você vira crítico, e crítico critica a favor ou contra, e eles não querem ninguém a favor ou contra, querem apenas que repitam o que foi pensado antes, de forma já agindo. Se eles escrevem “ela é uma puta”, você só tem que dizer “puta! Puta! Puta!” e pronto.

E quem são os interessados nisso? Algum ricaço? Algum político? Algum dono de empresa influente? Não... são os insensíveis. Os desamados. Os que trocaram sua vida pelo poder, simplesmente. E isso, bem sabemos, não tem classe social. Tem alma ou não tem, como um dom, ou um vício. Um complexo, admito também.

Mas quem nos garante que eu não penso que estou pensando algo diferente do que querem que eu pense? É que eu sei que ao lerem isso, vão me ignorar como leviano ou me engolirem com indigestão. Sei que nenhuma manifestação me chegará aos ouvidos, ou aos olhos, mas tenho a certeza em mim: eles estaram tremendo por debaixo da dura casca rígida, por terem sidos entregues sem serem despidos, tal como um raio-x, uma ultrassonografia. É o raio-X das mentes ideológicas.