Melhor idade?

Havia um grande chafariz frente a um dos acessos ao centro de compras, em uma cidade americana. Zenaide contemplava a água penetrando o azul do céu. A seu lado, após deixar seu andador, senta-se uma senhora . Zenaide lança-lhe um sorriso e um alegre, “ Boa tarde! Como vai a senhora?”

E aí, surpresa, a senhora leva Zenaide por meandros de sua vida: chamava-se Megan e nascera, lá pelos anos 30, no Texas; estudara em Harvard; casara-se com filho de banqueiro do Alabama. Tivera três filhos e o mais velho desaparecera em combate, ou morrera, no Vietnã. Tudo ia muito bem--mesmo lembrando que a falta daquele filho trazia-lhe saudade e esperança de que, quem sabe, o encontrassem--até seu marido falecer. Brigas pela herança entre os dois filhos e a mulher do filho desaparecido. A disputa incluia, também, suas coisas, como se já tivesse sido enterrada. Contudo, pemanecia atuante, em seu cargo de administradora de grande financeira. Aposentou-se. Então o caldo entornou de vez: instigada a aproveitar a vida, viajava bastante com um grupo de amigas, todas viúvas e, para facilitar seus comprometimentos burocráticos, deixara procuração oficial para os filhos. Um dia chegou de viagem e, ainda no aeroporto, seu motorista lhe contou que sua casa fora vendida. Inconformada, seus filhos alegaram que  a oferta fora alucinante . Designaram-na para morar em uma ala da mansão de um deles. Tudo que fazia , lá, estava errado. Nem as flores que arranjava, carinhosamente, nos vasos adequavam-se ou ao vaso ou ao contexto. Enfim, foi para um desses apartamentos para pessoas na melhor idade. Diziam os dois que lá seria conveniente, uma vez que teria tudo e, ainda, conservaria sua privacidade. O prédio era luxuoso e caríssimo. Bom, isso durou até que seus meninos falissem e ficassem com uma mão na frente e outra atrás. O que fariam, agora, com ela?

Era já noitinha quando a colocaram num carro e a levaram até uma comunidade do bom viver para pessoas da tal melhor idade.

“De noite não deu para ver muito bem", prosseguiu a Sra. Megan. "Quando despertei, vi que estava em um trailer, com mais duas mulheres que disputavam o banheiro. Vesti o roupão e espiei pela porta: havia um amontoado de moradas iguais a que me destinou o gerente da comunidade de vida boa. Estou lá há dois anos e já me acostumei. Tenho amigas e amigos para conversar, tomar chá, passear...e chorar. Sabes quem vem me visitar, pelo menos duas vezes por mês? Minha nora que continua a esperar pelo regresso do marido. E é ela que , depois que acabou—ou acabaram com—o dinheiro de minhas ações e jóias, me ajuda a pagar contas e a fazer umas comprinhas.”

Chegou a caminhonete para apanhar a Sra. Megan e levá-la de volta à comunidade de vida boa para pessoas da melhor idade.

Por quê? Zenaide ficou ali procurando respostas. Em breves anos, seria a vez dela. Por quê? Lei da vida? Velhos atrapalham? Por quê?


Baseada em fato real.
Imagem: Google


Ilram Rekrem
Enviado por Ilram Rekrem em 07/06/2010
Reeditado em 07/06/2010
Código do texto: T2305130
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