A última lembrança do "cara"
Esfregou o nariz com força. Sentiu o barato do momento. Aos poucos "viajava" no universo paralelo. "Legal" pensou.
Há seis anos, Junior entrara naquele barato. A vida mudara em nome da prioridade de se viver paralelo ao sistema.
Nada de nada, valia mais a pena do que estar com os "amigos" curtindo a "balada" no "lance que controlava".
Estava então no auge dos 16 anos.
Afinal era a moda, e ele era "o cara". Fazia e pronto!
Alí estava ele, na esquina do condomínio. Era mais uma madrugada, a manta negra, que montava o cenário em o "preto e branco".
Foi mais uma. Depois outra. Logo depois mais uma. Afinal "Era o cara". Controlava o lance. Era só curtição. Onda.
De súbito, sentiu o corpo tombar. Abria os olhos, mas não viu o que viu. O coração disparou descompassado. Não sentiu as mãos. Tentou controlar as ações, mas não deu.
Faltou ar. Tentou gritar, a voz não saiu. A mente confusa em pensamentos e desespero, pensou na mãe, dona Vitória. Ainda teve tempo de "rever" as muitas madrugadas em que chegou em casa e se deparou com a imagem da velha senhora e sua constante frase: "Graças a Deus você chegou meu filho".
Sentiu o quente de uma lágrima rasgando o rosto barbudo.
O sorriso aliviado da mãe foi sua última lembrança.