Reflexões sobre o mundo
Reflexões sobre o mundo
Rapaz morto a facadas na região Oeste de Belo Horizonte;
O Jovem R.P.C – 16 anos, foi morto a facadas nesta noite na região do bairro Bom Sucesso. Região oeste de Belo horizonte. O crime se deu durante a madrugada. A policia investiga o caso e apura denúncia de que o menor teria dívidas de comércio de drogas com um grupo de traficantes que atua na região. Segundo a delegada da D.P. de homicídios de Belo Horizonte, Joana Joanita, a dívida teria sido adquirida por seu pai J.S.S, que consumia “crack” junto com o filho, e que ambos eram comparsas no consumo de drogas e amigos. No momento do crime a pai da vítima não se encontrava no local. Segundo testemunhas que presenciaram o crime, quando J viu os indivíduos, responsáveis pelo tráfico, se aproximarem, fugiu pela janela do barraco que ocupavam. O jovem R.P.C não teve a mesma sorte e foi alcançado pelos bandidos que o esfaquearam 9 vezes em face do não pagamento da dívida.
(Estado de Minas – 23 de outubro de 2009).
Lúcia mulher bem vivida, que tiveram uma vida harmoniosa com um casamento sólido, até aquela hora não acreditara no que estava ocorrendo. Com seus cinqüenta anos, nunca se imaginara tão fraca a ponto de ficar sem reação diante da vida como naquele momento.
A droga - que tinha denominação inofensiva “crack” adentrara em seu lar há cerca de um ano, e, desde então, dilacerara tudo o que havia sido construído com muita luta e esforço.
O marido - atualmente desempregado vendera todos os móveis para sustentar o vício, que crescera sem limites desde que experimentara a droga pelo primeira vez.
O filho mais velho, após dezesseis anos jazia - naquele momento, sem vida, justamente aquele que tinha um futuro promissor, que sempre fora o melhor da turma na escola, e que era as esperanças da mãe, perdera vinte quilos no último mês, tornara-se uma alma penada a perambular pelas ruas e vivia somente em busca da próxima “pedra” para fumar, acabara e não existia mais em função da droga.
Agora, ocorrera o golpe final em seus cinqüenta anos de idade – esposa de um viciado e chorando com pesar a perda de um filho, limitava-se a não tentar entender mais nada.
Estava naquele momento sentada junto ao meio fio de uma rua nem sequer asfaltada, debaixo de uma grande árvore, e, a chuva rarefeita que caía ao seu redor pouca diferença fazia - a não ser aumentar-lhe a solidão e a sensação de ser invisível.
Tudo ocorreu como deveria ser naquela tarde chuvosa e nublada em que os pássaros voavam baixo e o silêncio era total. O choro que saia da mulher mãe de família era como areia lançada ao mar - eram fragmentos sonoros que uma vez externados se misturavam ao universo, e pareciam seguir um caminho sem direção a não ser a certeza de chegar ao infinito.
Materialização de sentimentos sinceros e de sensações da alma, - o que por natureza não se pode interromper, deveriam ter o destino certo do reino espiritual, fonte de todos os sentimentos e sensações espirituais.
O silencio conspirava em uníssono com aquele choro de uma mãe-mulher alguém abandonada em uma ilha deserta do amor e da compreensão com diversos elementos da entrega, cercada por todos os lados pela indiferença do mundo, pelo desprezo do homens pelo próximo, e do descaso moral por si mesmos. Só uma mãe poderia realmente sentir o que era aquilo quando via o fruto do seu ventre entregue às correntes selvagens do arrebatamento mundano.
Sentia-se como o desaguadouro de uma corrente de águas - as pedras que ficam abaixo das quedas de cachoeira, recebendo em si todo o choque daquela massa de indiferença e de desprezo, sem que nada pudesse ser feito uma vez que a própria natureza a fizera nascer, crescer e se desenvolver ali, naquele local por desígnio divino.
Nada a fazer, senão acolher em si todo o sofrimento de uma vida de luta e de dedicação, de amor e de entrega, resultando em nada, nenhum fruto, nenhuma retribuição, apenas lembranças na mente, que iam passando como um filme em preto e branco, como fotos de viagens de verão, que ficam guardadas em um local isolado da mente, retratando momentos passados e coisas que se foram para nunca mais voltar.
A agressão que aquela jovem mãe sentia com a perda do filho, e diante da cumplicidade do marido em contribuir para que o jovem ingressasse no vício, era semelhante a uma rosa em um dia ensolarado que, exibindo todo seu esplendor, em uma cor viva e em manifestação da pureza da natureza é arrancada de sua fonte - amor e compreensão, e atirada ao chão do desprezo para depois ser pisada e dilacerada. È uma influência de forças alheias à natureza, que tem como objetivo primordial destruir e eliminar.
O choque recebido fora tal que se desfizera da vontade de encontrar explicações. Tudo o que poderia garantir alguma seqüência de vida àquele ser era a busca do perdão, do perdão incondicional, de esquecer o que lhe fora feito por aquele que amava e se lembrar somente dos momentos construídos em partilha e, guardar no fundo do seu ser (intocadas e imaculadas) as manifestações de amor daquela vida em família que não mais existia.
A incompreensão era fato, ninguém para ouvi-la para dar conselhos ou para ajudar. Aquilo era a regra. O normal do mundo era aquilo, ela estava em algo comum, dentro dos parâmetros mundanos, cujas regras se dirigiam à obtenção de lucro incondicional e de ganhar sempre mais fazendo o menos..
Desde que perdera seu filho para “o mundo das drogas” Lúcia não tinha mais em que buscar consolo, mas infelizmente sabia que ele era somente mais um em meio a tantos outros . Havia outras mães tristes e desoladas e outros jovens em vias de se perderem.
Foi a vida que lhe guardara aquilo como uma surpresa com data para ser descoberta, não havia mais o que fazer e todo o ouro do mundo nada valeria para amenizar aquele sofrimento.
A tristeza de Lúcia saía silenciosa, seca, sem vida, envolvida pela atmosfera de chuva - de nitidez embaçada, pela qual passava a sua mente.
O choro era baixo porque era sincero e era despretensioso, pois sabia que toda a ciência do mundo jamais descreveria, ou sequer se aproximaria do que se passava em seu coração naquele momento.
Não pensava em vingança, nem em apuração de responsabilidade, nada importava para ela, porque era tudo muito sem sentido e o subjetivismo, por si só, já dizia tudo o que se passava em seu coração, eram coisas não codificáveis verbalmente - por palavras - coisas do coração as quais podiam ser exprimidas por meio de sons, e de gestos decifráveis apenas pelos anjos e santos.
E assim seguia o universo com seus diversos sistemas planetários e estrelas infinitas e incontáveis luzes em meio ao tapete negro.
Girava o planeta Terra em seu enorme azul, com todas as suas cores e nuances, seus rios, florestas, desertos, praias, oceanos, e sua esplendorosa beleza - que vista do alto é a própria libertação em direção a Deus.
Imagem linda deste planeta que, no entanto, ao ser aproximada, detalhada, com uma breve descida, tem-se a criação do homem - males como a fome, a miséria, a devastação da natureza, rios secos, florestas queimadas, populações dizimadas por ideologias fanáticas, etc....
E caso a descida continue em direção ao interior do planeta, cada vez mais ficam nítidos os males mundanos - o sofrimento dos enfermos, dos encarcerados, dos esfomeados, dos marginalizados e outros mais.
No interior do planeta ver-se-á a desolação do coração do ser humano, neste mesmo planeta - onde um país para por três dias para celebrar o carnaval ver-se-á o desprezo pela vida alheia e pela dignidade do próximo, a ganância do ser humano, e a busca incondicional de obtenção de lucros.
Enfim, no interior do planeta ver-se-á, diante de toda a tecnologia que vence qualquer distância em questão de segundos, um ser humano, desolado, corrompido, ressentido, magoado e cheio de ódio em relação ao próximo.
A assim fica registrado aquele quadro desolado daquela mulher, em um dia nublado e escuro, sentada no meio fio de uma rua deserta e sem asfalto, em uma favela de uma cidade grande, olhando em uma direção fixa, com olhos sem expressão em direção ao nada, anestesiada pelo sofrimento, e sem interesse por nada, sem querer entender nada, pois sem nada querer do mundo, por ter tido encerrado o próprio motivo que tinha para continuar a viver, e nada mais poder esperar da existência em meio à uma humanidade selvagem e corrompida.
Marcelo Lana