Um homem e um encontro

Um homem. Em poucas certezas e muitas contradições. Um homem que assim como toda humanidade individual, é afetado pelo meio em que vive em verdades, mentiras e fugas. Não há muito que fazer. Ideologias não sustentam a existência. Viver é antes de tudo, um desafio que precisa ser vencido em cada dia.

Mais que as opiniões que se perdem em caras, bocas e momentos, tomou a decisão de se tornar um cobrador de impostos. Um tipo de fiscal da receita, só que para o país dominante o que representa traição ao seu povo, as suas culturas, as suas doutrinas e, principalmente, a sua família. Um traidor. Assim passou a ser identificado, este que antes, recebeu o nome de Mateus.

Abandonado por todos os que nutriam laços sentimentais, passou a conviver por conveniência e os "novos" amigos passaram a ser os parias da sociedade. Marginais, que assim como ele, convivia com as relações de interesses, onde não cabe o sentimento, o carinho e o amor. Por outro lado, viu sua "conta bancária" aumentar a cada dia. O dinheiro podia, e pode. Abre portas. Compra. Afinal todos têm um preço.

A vida passou a ser de festas, banquetes e prazeres e mais tudo o que o dinheiro pode comprar. Mas ainda assim, havia a saudade. O silencio. O medo e a falta de algo que não identificava. Havia antes do cobrador, o homem. E a incerteza da vida em meio às vozes da existência, confundia mais que explicavam, já que por um lado havia a praticidade das facilidades do "deus" dinheiro e por outro simplesmente um homem, que não se sustentava em si. Um homem que tentava todos os dias justificar suas atitudes, mas que tais explicações não satisfaziam a alma. Com isso a angustia, a ansiedade e as tentativas frustradas de alegria, não respondiam as questões mais simples.

Até que um dia acordou e como todos os dias, se dirigiu ao trabalho. Enfrentou os olhares de rejeição, as cusparadas e a fúria dos "irmãos". Simplesmente foi e iniciou suas atividades com o objetivo de enriquecer mais o dominante, aumentar em porcentagens seus proventos e curtir mais uma noite de prazeres com os marginais. Só que naquele dia, havia também uma vontade louca de descansar. Só que o cansaço não era físico e sim na alma. Suspirou. Olhou para o nada e continuou. A cada olhar, uma chicotada na alma. Sabia que roubava os mais pobres, mas era esta a vida. Os mais fortes dominam. Só não dominava o vazio.

Até que ouviu um burburinho. Parecia que uma multidão se aproximava da alfândega. Olhou com cara de poucos amigos.

De repente, Alguém se aproximou. Parou em frente à mesa de Mateus. Neste momento sentiu uma paz indescritível. Algo além de tudo que experimentara até aquele momento.

Olhou e encontrou com olhar mais doce e sereno que já viu em toda a sua existencia.

Um homem e O Homem. Foi um momento.

Sentiu todas as suas forças se esvaírem. Não havia como resistir Àquele Alguém.

Ouviu assim, o convite que mudou para sempre sua vida de traidor, marginal e devasso: "Vem... Segue-me”.

Mateus, simplesmente, foi...