No quarto azul
Num súbito momento voltou da “viagem” e despertou no mundo real. A cabeça latejava. O rosto ensebado, barba por fazer. Olhou e só viu Amanda deitada com um sorriso esquisito e olhando para “o nada”. O quarto, pequeno, pintado de azul. O clima frio fez com que Eduardo, ou melhor, Duca, se encolhesse em forma de defesa. Estava assustado. Olhos arregalados. Pele pálida e um medo esquisito de algo que “não sabia bem o que”.
Há quanto tempo estava ali? Quando foi a ultima refeição? E a ultima vez que deitou numa cama e dormiu? Perguntas sem respostas desde que escolheu o caminho da “fuga”. Não tinha noção exata do tempo em que foi apresentado ao “passaporte” da onda. Alguém surgiu de algum lugar e disse que a “coisa” não era tão ruim assim. Havia um barato legal na “parada”. Era só um experimento, sem compromisso. Foi, até porque toda a galera ia...
No principio era só onda, nada mudou. Trabalhava com o pai, na firma de transporte, namorada Juliana... “Juliana” pensou lembrando da pele morena, dos cabelos negros e da feição angelical. Lembrou também dos Natais, dos aniversários, dos passeios e principalmente dos sorrisos.
Depois a viagem foi ficando mais freqüente e a “fuga” passou a ser diária e que provocou mudanças nos pensamentos e o carinho pelos pais, pelos amigos e pela vida ficou em segundo plano. Havia um lance de ir cada vez mais fundo. E foi, foi, foi... Até chegar a lugar nenhum.
De súbito voltou ao quarto azul. Tentou acordar a menina, “Qual o nome?”... Amanda... Não conseguiu... Tentou levantar, mas algo como uma corrente o mantinha deitado ainda que o corpo cambaleasse. Não havia nada mais importante do que... Aquilo. A vida continuava, mas não era mais a dele. O tempo passava, mas não naquele quarto. Sentiu saudades, mas não tinha forças para voltar. Sentiu uma lágrima se misturar a secreção nasal. Não sabia o que fazer...
Alguém tem a resposta?