A água e o velho
A água e o velho
Enquando eu me recostava
com os cotovelos apoiados no assoalho da janela
um senhor me pediu um copo d'agua.
Eu não neguei.
Fui, procurei o último copo em que eu beberia água
e o entreguei preenchido.
Ele me fitava com os olhos enquanto bebia
e eu fingia não perceber.
Quando não pude mais
disfarçar, corri meus olhos pelo rosto do velho.
Era como uma poça cheia de ondas.
Por dentre as rugas, espremido, passava um suor escorregadio.
Seus olhos eram castanhos como duas enormes gotas de mel
rodeadas pelas pegadas compridas do tempo.
A boca embora imunda, era cheia de dentes
que me pareciam fortes.
Mas não posso dizer o mesmo de seus lábios:
dois troncos descascados e moles.
Eu não sabia
porque prestava tanta atenção
naquela pobre criatura.
Não sentia pena.
Não sentia vontade de ajudar,nem sabia se ele queria ajuda..
Os lábios trÊmulos
me agradeceram e as enormes gotas de mel
sorriram para mim.
Aquele conjuto de pele murcha
parecia fazer um enorme esforço para sorrir
e eu soube reconhecer isso.
Já não era tão miserável como antes.
O observei até perde-lo de vista
com sua coluna demasida curvada pra frente e
seus pés que mesmo pregados À enormes pernas
davam passadas pequenas.
Não sei pq
uma enorme calmaria tomou conta de mim
Naquela tarde, depois de dar adeus ao velho
percebi que ele me ajudara
muito mais do eu a ele.
Aquele homem que ja sentira o peso dos anos envergando
suas costas
me mudou a vida.
E nem eu sei pq...
Já não era tão miserável como antes.