Diferente
Diferente
Nas aulas falava pouco, seus amigos o criticavam, era motivo de chacota, mas mesmo assim mantinha seu silencio muita das vezes respondendo apenas o que os mestres o perguntavam. No intervalo das aulas deixava de participar de certas brincadeiras com os colegas para ficar na biblioteca foliando livros e revistas. Menino quieto em casa, não por ser preso pelos pais, criticado pela vizinhança por não sair com os coleguinhas de rua, por não andar em gangues, por não praticar certas atividades, que para os outros era comum, preferia estar em casa lendo, aos fins de semana saia com os pais, ia para o sitio, para clubes, e sempre fazia questão de estar junto de seus pais, não por que eles o obrigassem a isso e sim pelo prazer da companhia. Gostava sempre de conversar com pessoas mais velhas e prestava muita atenção ao que elas lhe contavam, desde cedo muito católico e preocupado em entender o que se dizia nas escrituras sagradas, em aprender o que igreja o ensinava por vezes se ocupava em longas conversas com seu pároco, catequistas. Freqüentador da santa missa com assiduidade, praticante de tudo o que podia ser feito em prol da comunidade. No cotidiano sempre muito observador e silencioso, quando lhe davam a palavra em algum evento religioso, sempre muito solto e falava com autoridade. Seus maiores confidentes e amigos eram seus pais, a quem ele orgulhava sempre e sempre demonstrava ser orgulhoso de pais tão aplicados a Deus e a família, Cristãos autênticos e verdadeiros conselheiros. Ele era diferente de todos da sua vizinhança, lhe deram vários apelidos ofensivo, por vezes o era deixado de lado pelos vizinhos, pois o achavam muito estranho. Não gostava de piadinhas torpes ou de falas promiscuas e nem se aplicava em assuntos de natureza eróticos junto a seus vizinhos da mesma idade. Suas descobertas na puberdade foram vividas com muita naturalidade e dialogo familiar, ao contrario de seus colegas que apenas comentavam entre si. Chegaram a chamar de louco por sua opção a família a religião, a Deus.
Um dia foi questionado por um profissional da saúde, um psicólogo a quem a escola o havia encaminhado, Ele perguntou para o amável jovem:
- Porque você insiste em manter este comportamento diferente de todos da sua idade?
- Não vê que isso só lhe causa sofrimento?
- Não percebe ou sentes a solidão em que vive?
- Por que não tenta ser igual a todos?
- Acha que algum dia será feliz assim?
E o menino em sua simplicidade começou a falar:
- Olha me sinto sim um bem diferente dos outros da minha idade e prefiro ser assim, se ser diferente significa ter coração, querer ser alguém na vida, amar e honrar os meus pais, ser uma pessoa verdadeiramente humana.
- Não tenho nenhum sofrimento em ser como sou, aprendi desde cedo que na essência sou filho de Deus imagem e semelhança Dele. Se houve neste mundo alguém que sofreu em ser diferente foi Jesus. Sofrimento por muitas vezes vejo em meus amigos que não tem nenhuma meta, nenhum objetivo, Eu tenho. Quero o Cristo.
-Viver da forma que vejo meus amigos? Entregues ao mundo, melhor dizendo entregues a situações de morte, drogas, sexo desenfreado, prazer imediato e sem limites. Almejo imitar ao Cristo, mesmo sabendo ser impossível ser igual, quero chegar perto; Quero viver verdadeiramente, ter um sentido para minha existência.
- Não acho que ser feliz algum dia sendo assim. O que posso dizer é que sou feliz agora, vivo feliz a cada instante, pois venho aprendendo a observar todos os detalhes da vida e procuro viver intensamente cada momento como se fosse meu ultimo momento nesta existência, Consegui assim do meu jeito entender que, Deus não esta no meu coração, pois meu coração é muito pequeno para a imensidão de seu amor e sim que Ele me tem dentro de Seu imenso coração de Pai. Então vivo feliz a cada momento sempre aprendendo com as dificuldades e me atirando a frente, buscando assim em minhas limitações superar o amor ao mundo e me entregar ao amor de Deus.
Quando ele saiu daquela consulta com aquele psicólogo, percebi que o jovem não havia mudado em nada seu jeito de ser, mas aquele psicólogo, cético, que não suportava ouvir falar de Deus, que tinha respostas para tudo e para todos, hoje vive buscando na eucaristia sustento para ser cada dia melhor.
Aquele jovem que para todos era estranho havia passado pela vida daquele psicólogo como Jesus passou pela vida dos discípulos de Emaus. E com seu jeito simples de ser, apenas deixando que ele visse sua fé, gerou uma fé tão imensa no coração do psicólogo que ele resolveu a ser diferente como o jovem era buscando sempre ser diferente como Jesus foi.