A PRIMEIRA
Um rosto angelical e o sorriso mais encantador que veria na vida. Foi o que ele pensou quando a viu. Diferente das outras que eram apenas efêmera diversão, ela transparecia as aspirações de uma vida. Uma vida que ele nem chegou a ter. Até aquele momento. Seria ela?
Os olhos dela sorriam apertados com os lábios escarando uma felicidade profunda. Nenhuma mais sorria assim. A harmonia da face formava um desenho digno das teorias de Da Vinci.
Não, nao era nenhuma Monalisa. Seu sorriso não inspirava mistério ou até mesmo medo. Ah, não... Seus lábios abraçavam. Falavam sem balbuciar uma só letra.
Ela estava lá, parada, olhando fixamente pro ser inerte, estonteado com sua beleza reveladora. Tão reveladora que não se sabia como decifrar tais revelações. De beleza tão escancarada que parecia intocável, impossível de ter.
Lá estava ela. O olhando com aqueles olhos apertados, o sorriso vibrante, os cabelos finos e desgrenhados. Pela face, adornos incomuns para o mundo do jovem observador. Adornos que falavam, tão por si quanto a imponência de sua figura curvada.
Ele resolveu que tentaria alcança-la de alguma forma. Mas como conseguir uma aproximação sem proteção para os olhos? Eram poucos os que conseguiam aproximar-se. O brilho daquela criatura ofuscava íris indignas.
Mesmo assim ele tentou. Tentou da forma mais óbvia possível. E despencou. Enquanto lágrimas formavam um mapa pelo rosto, ele se deu conta que meninos eram proibidos de brincar com bonecas e aquela estava na prateleira mais alta da estante.
O menino desistiu fácil, preferiu um carrinho qualquer, mas nunca esqueceria da boneca na prateleira. Com luz própria e, nas costas, em canetinha preta, um coração partido.