... a indiferença !
A todos que passavam aquela menina atraía, pois seus traços não a davam como miserável, mas ela era uma miserável, pois nem mesmo atenção as pessoas lhe dava.
Sequer os passantes davam conta de seu murmúrio que outra coisa não era senão um pedido de um pouco de comida e atenção.
Um ou outro que passava percebia sem, no entanto parar, que alguma coisa estava errada pois com o clima ameno não poderia estar aquela menina com seu corpo todo trêmulo.
Viam que algo estava errado, porém, a pressa que tinham para chegar em casa, para os preparativos do natal era tanta que, três passos adiante já não impunha, a nenhum dos passantes, a obrigação de pensar no tremor da pequena pedinte.
Os ponteiros do relógio andavam sem parar; o órgão governamental naquele dia não trabalhara, o grande supermercado arriavam suas portas.
O famoso e suntuoso hospital começava a apagar suas luzes externas, num recado que a partir daquele momento diminuiria o ritmo de suas atividades e, por isso, seria bom que ninguém mais precisasse dele.
A menina dos olhos azuis-brilhante continuava ali a estender suas mãos trêmulas que cada vez se continham menos, dada a fraqueza de seu frágil corpo.
Agora já eram poucas as pessoas que passavam por ali, pois a grande maioria já se encontrava em casa para a esperada festa de natal.
Seus olhos azuis, seus cabelos loiros e encaracolados, seu tremor, seus pedidos nada mais representavam; não eram mais lembranças para ninguém.
Para todos que por ali haviam passado ela era uma simples miserável, e que a única coisa que merecia era mesmo o esquecimento.
Nada mais tinha importância às pessoas, somente aguardavam o “nascimento de Jesus”, pois a noite era de natal.
O relógio continuou em sua marcha, pois a ele nada mais competia senão “marcar horas”, ele nada tinha a ver com aquele ser, e fez, por isso, bater doze badaladas.
Era meia noite; Jesus nascia, era noite de natal, a festa, em muitos lugares era uma só alegria.
Somente para a frágil menina que não, pois não tinha ninguém por companhia, não tinha presentes, não tinha atenção e sequer esperança, pois não havia nem mesmo para quem mais pedir, pois o local virara um deserto, ninguém mais naquela hora passava por ali.
Uma coisa só ela tinha: bastante fome.
Eram seus companheiros a solidão, a fome e o tremor constante.
Uma outra companhia, a morte, a espreitava de longe, pois queria não chegar até aquela menina, mas sabia que deveria, em breve, cumprir
sua missão ...
O espocar dos fogos já chegara ao fim, os champanhes já não eram mais brindadas e as pessoas em suas casas, enfastiadas de tanto se fartarem na comida, procuravam acomodarem-se cada qual em seus cantos.
Já não queriam conversas com ninguém e nenhuma preocupação tinham, com elas estava tudo muito bem ! o resto ...
Os ponteiros do relógio continuavam sua marcha e já se aproximavam da marca das 6 horas da manhã do dia 25 de dezembro; era o dia do natal, quando o movimento das ruas retomavam seu ritmo, embora lento.
As primeiras pessoas já passavam pela calçada onde, desde a tarde do dia anterior, tinham visto aquela criança sentada e em constantes gestos de pedidos.
Viam seu corpo coberto por tosco pedaço de pano sem que, no entanto, lhes despertasse a vontade de ajudar.
Os olhares eram muito mais de pena e curiosidade do que de carinho.
Cada vez mais pessoas passavam por ali, porém, nenhuma delas tinha preocupação com aquela que estava ali envolta num sujo pedaço de pano.
O importante hospital reiniciava suas atividades e o contínuo entra-e-sai de carros, médicos, ambulâncias e pessoas sequer davam conta daquela criança que à sua porta estava.
O relógio em sua caminhada fez bater novamente doze badaladas; já era meio dia.
O grande supermercado, com suas centenas de milhares de itens de alimentos, ante o horário, reabria suas portas, embora fosse natal.
A menina continuava ali, deitada e coberta, somente suas pernas estavam expostas e indicavam que eram frágeis e não sustentavam sequer aquele corpo fino.
Nem mesmo precisava !
Passava o tempo; já era uma hora da tarde quando então um curioso transeunte resolvera observar mais de perto aquela criança, pois percebera que ela pouco ou nada se movia.
Imaginara que podia estar morta.
Aproximara-se e pode perceber que ela realmente estava quase imóvel, pois somente seus olhos, que não precisavam de força para ser movidos, ainda assim, com extrema dificuldade, se movimentavam, como num pedido clamoroso de ajuda, de súplica ...
Seus pulmões buscavam, quase que sem resultado algum, o pouco do ar que podia e a respiração já era intermitente.
Naquela situação que o curioso passante observava somente lhe restou gritar para que as pessoas que estavam no imponente supermercado e no luxuoso hospital que o ajudasse.
Foi um corre-corre tremendo. As pessoas do supermercado vinham com água, chás, bolachas e doces e muitos outros itens que compunham seu acervo.
No órgão governamental não se via qualquer movimento, pois em dia de natal ele não trabalha, nem mesmo para cumprir sua missão, que é a de amparar crianças carentes.
Do hospital saíram médicos, enfermeiras, atendentes e ... muitas outras pessoas para socorrer àquela menina.
Uma ambulância com muitos equipamentos para salvar vidas parara ao lado.
Já não havia mais tempo ! ela acabara de morrer !
Em torno de seu corpo ficou aquela multidão de pessoas agora compadecidas, cada uma delas com bens à mão para dar àquela menina.
Já não havia mais tempo; nada daquilo mais agora interessava.
O clamor e o pedido que dirigira às pessoas durante todo dia anterior já não mais precisava ser ouvido; ela já não mais precisava de ninguém.
Suas esperanças e suas forças se esvaíram durante aquela noite de natal, quando as pessoas, em suas casa, alegres se fartavam, se enfastiavam com tanta comida de suas mesas.
Jesus nascera naquela noite e ela se preparara para a morte.
Aquela criança perecera diante da indiferença das pessoas.
Já não havia, para ela, qualquer importância quanto ao tamanho e a centena de milhares de itens, principalmente de comida, que compunham o supermercado.
A tecnologia de ponta e a suntuosidade do hospital que havia, por longas horas, sido seu vizinho, já mais nada lhe representava.
Ela estava morta
Tudo não passava agora de imprestáveis aparelhos.
Quanto ao órgão governamental, nem se fale ...
Em torno de seu corpo permanecia aquela multidão e cada qual fazia seu comentário.
Uns elogiavam – não se sabe porquê – a beleza de seus olhos azuis-brilhante, de seus cabelos encaracolados; outros falavam de suas mãos trêmulas do dia anterior mesmo o clima estando ameno.
Somente comentários, para a ocasião, vazios.
Nada mais interessava.
Um outro arriscou um palpite, depois de olhar ressabiado para as pessoas que o circundavam e falou: “Será que as mãos trêmulas não era de fome ?”
Alguns que ouviram isto, com um olhar de reprovação e disseram que a afirmação era um absurdo, pois como poderia uma criança de 9 ou 10 anos, tremer de fome na porta de um grande e poderoso supermercado, na frente de um órgão de governo que cuida de criança carente e na porta de um importante hospital ?
Alguém ali, com um fingida lágrima no rosto ainda argumenta: “É possível sim e tanto é possível que aconteceu ontem durante o dia todo”.
Das pessoas que ali estavam, cada qual procurava uma justificativa para a indiferença de todos no dia anterior, quando ainda era possível fazer alguma coisa para aquele faminto ser.
De repente para ao lado daquela aglomeração de pessoas um veículo preto e dele descem duas pessoas, uma delas vestida de roupas também pretas, que cuidaria da remoção do corpo para o tenebroso IML e uma de roupas totalmente brancas, um médico, que abrindo caminho entre aquelas pessoas chegam até onde está o corpo inerte da menina.
Eles estão acostumados a lidar com cenas de morte como aquela.
Agora a multidão que ali estava já chamara a atenção da imprensa, da televisão, do rádio, dos jornais, dos defensores dos direitos humanos, dos defensores das crianças e dos adolescentes e já estão todos alvoroçados e o burburinho é grande.
O caso, não se sabe porquê, vira manchete no dia seguinte, pois agora nada mais tem jeito; a morte que de longe a espreitava já chegara e dela se apossara.
Aquele que desceu do veículo preto e que igualmente estava de roupas pretas, com o descaso que, pela continuidade de seus serviços, lhe é peculiar, vira aquele corpo desfalecido e descuidadamente o joga dentro de um recipiente de lata, também mal cuidado, o que provoca um certo protesto das pessoas que ali estavam.
Em seguida a pessoa de branco se aproxima, toca naquele no corpo já sem vida daquela criança e faz seu breve e lacônico diagnóstico, que assenta em um pedaço de papel de sua prancheta: “Causa mortis – inanição – falta de comida”.
Em seguida sobem no taciturno veículo preto, como se nada houvesse acontecido, pois a eles a morte não mais assusta.
Levaram o corpo da menina embora
No dia, seguinte como previsto, houve muitos comentários, muitas notícias, os órgão de defesa da criança, os governamentais, as pessoas, enfim, todos procuravam participar do pomposo e inútil funeral daquela criança, de forma que cada qual quisesse como que reparar o erro da indiferença do dia anterior; quando ainda era natal e enquanto ela estava viva.
Já não havia mais tempo !
A criança morrera à porta do grande supermercado, do importante hospital e do majestoso órgão governamental que lhe devia dar proteção e, o único erro de toda situação que envolveu aquela miserável menina está no diagnóstico médico-legal lavrado, que indicou a inanição como causa do óbito.
Errou o médico, aquele homem de branco que ali viera, pois deveria, para estar correto, para que tivesse diagnosticado certo, ali assentar: “causa mortis – a indiferença”.
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Impõe-nos uma situação desta, a alcançar uma única conclusão: “O ser humano pode, e por certo morrerá por qualquer causa, porém, que nenhuma dela possa ser pela “indiferença" que um humano ao outro”.
Era uma criança de aproximadamente 9 ou 10 anos; seus olhos eram azul-brilhante, seus cabelos loiros e seu corpo fino e lânguido.
Estava sentada na calçada com seus vestidos sujos e maltrapilhos, porém, o local era pomposo, pois perto de um grande supermercado, de um famoso hospital e de um imponente órgão governamental que cuidava de crianças carentes.
O movimento das ruas era incessante, num frenético corre-corre e nos braços das pessoas pacotes e mais pacotes.
Passava um pouco das 3 da tarde do dia 24 de dezembro ...
Passava um pouco das 3 da tarde do dia 24 de dezembro ...
Daquela menina que ali estava três coisas se moviam permanentemente: o olhar para as pessoas que passavam, os lábios e as mãos num contínuo e esperançoso pedir.
A todos que passavam aquela menina atraía, pois seus traços não a davam como miserável, mas ela era uma miserável, pois nem mesmo atenção as pessoas lhe dava.
Sequer os passantes davam conta de seu murmúrio que outra coisa não era senão um pedido de um pouco de comida e atenção.
Um ou outro que passava percebia sem, no entanto parar, que alguma coisa estava errada pois com o clima ameno não poderia estar aquela menina com seu corpo todo trêmulo.
Viam que algo estava errado, porém, a pressa que tinham para chegar em casa, para os preparativos do natal era tanta que, três passos adiante já não impunha, a nenhum dos passantes, a obrigação de pensar no tremor da pequena pedinte.
Os ponteiros do relógio andavam sem parar; o órgão governamental naquele dia não trabalhara, o grande supermercado arriavam suas portas.
O famoso e suntuoso hospital começava a apagar suas luzes externas, num recado que a partir daquele momento diminuiria o ritmo de suas atividades e, por isso, seria bom que ninguém mais precisasse dele.
A menina dos olhos azuis-brilhante continuava ali a estender suas mãos trêmulas que cada vez se continham menos, dada a fraqueza de seu frágil corpo.
Agora já eram poucas as pessoas que passavam por ali, pois a grande maioria já se encontrava em casa para a esperada festa de natal.
Seus olhos azuis, seus cabelos loiros e encaracolados, seu tremor, seus pedidos nada mais representavam; não eram mais lembranças para ninguém.
Para todos que por ali haviam passado ela era uma simples miserável, e que a única coisa que merecia era mesmo o esquecimento.
Nada mais tinha importância às pessoas, somente aguardavam o “nascimento de Jesus”, pois a noite era de natal.
O relógio continuou em sua marcha, pois a ele nada mais competia senão “marcar horas”, ele nada tinha a ver com aquele ser, e fez, por isso, bater doze badaladas.
Era meia noite; Jesus nascia, era noite de natal, a festa, em muitos lugares era uma só alegria.
Somente para a frágil menina que não, pois não tinha ninguém por companhia, não tinha presentes, não tinha atenção e sequer esperança, pois não havia nem mesmo para quem mais pedir, pois o local virara um deserto, ninguém mais naquela hora passava por ali.
Uma coisa só ela tinha: bastante fome.
Eram seus companheiros a solidão, a fome e o tremor constante.
Uma outra companhia, a morte, a espreitava de longe, pois queria não chegar até aquela menina, mas sabia que deveria, em breve, cumprir
sua missão ...
O espocar dos fogos já chegara ao fim, os champanhes já não eram mais brindadas e as pessoas em suas casas, enfastiadas de tanto se fartarem na comida, procuravam acomodarem-se cada qual em seus cantos.
Já não queriam conversas com ninguém e nenhuma preocupação tinham, com elas estava tudo muito bem ! o resto ...
Os ponteiros do relógio continuavam sua marcha e já se aproximavam da marca das 6 horas da manhã do dia 25 de dezembro; era o dia do natal, quando o movimento das ruas retomavam seu ritmo, embora lento.
As primeiras pessoas já passavam pela calçada onde, desde a tarde do dia anterior, tinham visto aquela criança sentada e em constantes gestos de pedidos.
Viam seu corpo coberto por tosco pedaço de pano sem que, no entanto, lhes despertasse a vontade de ajudar.
Os olhares eram muito mais de pena e curiosidade do que de carinho.
Cada vez mais pessoas passavam por ali, porém, nenhuma delas tinha preocupação com aquela que estava ali envolta num sujo pedaço de pano.
O importante hospital reiniciava suas atividades e o contínuo entra-e-sai de carros, médicos, ambulâncias e pessoas sequer davam conta daquela criança que à sua porta estava.
O relógio em sua caminhada fez bater novamente doze badaladas; já era meio dia.
O grande supermercado, com suas centenas de milhares de itens de alimentos, ante o horário, reabria suas portas, embora fosse natal.
A menina continuava ali, deitada e coberta, somente suas pernas estavam expostas e indicavam que eram frágeis e não sustentavam sequer aquele corpo fino.
Nem mesmo precisava !
Passava o tempo; já era uma hora da tarde quando então um curioso transeunte resolvera observar mais de perto aquela criança, pois percebera que ela pouco ou nada se movia.
Imaginara que podia estar morta.
Aproximara-se e pode perceber que ela realmente estava quase imóvel, pois somente seus olhos, que não precisavam de força para ser movidos, ainda assim, com extrema dificuldade, se movimentavam, como num pedido clamoroso de ajuda, de súplica ...
Seus pulmões buscavam, quase que sem resultado algum, o pouco do ar que podia e a respiração já era intermitente.
Naquela situação que o curioso passante observava somente lhe restou gritar para que as pessoas que estavam no imponente supermercado e no luxuoso hospital que o ajudasse.
Foi um corre-corre tremendo. As pessoas do supermercado vinham com água, chás, bolachas e doces e muitos outros itens que compunham seu acervo.
No órgão governamental não se via qualquer movimento, pois em dia de natal ele não trabalha, nem mesmo para cumprir sua missão, que é a de amparar crianças carentes.
Do hospital saíram médicos, enfermeiras, atendentes e ... muitas outras pessoas para socorrer àquela menina.
Uma ambulância com muitos equipamentos para salvar vidas parara ao lado.
Já não havia mais tempo ! ela acabara de morrer !
Em torno de seu corpo ficou aquela multidão de pessoas agora compadecidas, cada uma delas com bens à mão para dar àquela menina.
Já não havia mais tempo; nada daquilo mais agora interessava.
O clamor e o pedido que dirigira às pessoas durante todo dia anterior já não mais precisava ser ouvido; ela já não mais precisava de ninguém.
Suas esperanças e suas forças se esvaíram durante aquela noite de natal, quando as pessoas, em suas casa, alegres se fartavam, se enfastiavam com tanta comida de suas mesas.
Jesus nascera naquela noite e ela se preparara para a morte.
Aquela criança perecera diante da indiferença das pessoas.
Já não havia, para ela, qualquer importância quanto ao tamanho e a centena de milhares de itens, principalmente de comida, que compunham o supermercado.
A tecnologia de ponta e a suntuosidade do hospital que havia, por longas horas, sido seu vizinho, já mais nada lhe representava.
Ela estava morta
Tudo não passava agora de imprestáveis aparelhos.
Quanto ao órgão governamental, nem se fale ...
Em torno de seu corpo permanecia aquela multidão e cada qual fazia seu comentário.
Uns elogiavam – não se sabe porquê – a beleza de seus olhos azuis-brilhante, de seus cabelos encaracolados; outros falavam de suas mãos trêmulas do dia anterior mesmo o clima estando ameno.
Somente comentários, para a ocasião, vazios.
Nada mais interessava.
Um outro arriscou um palpite, depois de olhar ressabiado para as pessoas que o circundavam e falou: “Será que as mãos trêmulas não era de fome ?”
Alguns que ouviram isto, com um olhar de reprovação e disseram que a afirmação era um absurdo, pois como poderia uma criança de 9 ou 10 anos, tremer de fome na porta de um grande e poderoso supermercado, na frente de um órgão de governo que cuida de criança carente e na porta de um importante hospital ?
Alguém ali, com um fingida lágrima no rosto ainda argumenta: “É possível sim e tanto é possível que aconteceu ontem durante o dia todo”.
Das pessoas que ali estavam, cada qual procurava uma justificativa para a indiferença de todos no dia anterior, quando ainda era possível fazer alguma coisa para aquele faminto ser.
De repente para ao lado daquela aglomeração de pessoas um veículo preto e dele descem duas pessoas, uma delas vestida de roupas também pretas, que cuidaria da remoção do corpo para o tenebroso IML e uma de roupas totalmente brancas, um médico, que abrindo caminho entre aquelas pessoas chegam até onde está o corpo inerte da menina.
Eles estão acostumados a lidar com cenas de morte como aquela.
Agora a multidão que ali estava já chamara a atenção da imprensa, da televisão, do rádio, dos jornais, dos defensores dos direitos humanos, dos defensores das crianças e dos adolescentes e já estão todos alvoroçados e o burburinho é grande.
O caso, não se sabe porquê, vira manchete no dia seguinte, pois agora nada mais tem jeito; a morte que de longe a espreitava já chegara e dela se apossara.
Aquele que desceu do veículo preto e que igualmente estava de roupas pretas, com o descaso que, pela continuidade de seus serviços, lhe é peculiar, vira aquele corpo desfalecido e descuidadamente o joga dentro de um recipiente de lata, também mal cuidado, o que provoca um certo protesto das pessoas que ali estavam.
Em seguida a pessoa de branco se aproxima, toca naquele no corpo já sem vida daquela criança e faz seu breve e lacônico diagnóstico, que assenta em um pedaço de papel de sua prancheta: “Causa mortis – inanição – falta de comida”.
Em seguida sobem no taciturno veículo preto, como se nada houvesse acontecido, pois a eles a morte não mais assusta.
Levaram o corpo da menina embora
No dia, seguinte como previsto, houve muitos comentários, muitas notícias, os órgão de defesa da criança, os governamentais, as pessoas, enfim, todos procuravam participar do pomposo e inútil funeral daquela criança, de forma que cada qual quisesse como que reparar o erro da indiferença do dia anterior; quando ainda era natal e enquanto ela estava viva.
Já não havia mais tempo !
A criança morrera à porta do grande supermercado, do importante hospital e do majestoso órgão governamental que lhe devia dar proteção e, o único erro de toda situação que envolveu aquela miserável menina está no diagnóstico médico-legal lavrado, que indicou a inanição como causa do óbito.
Errou o médico, aquele homem de branco que ali viera, pois deveria, para estar correto, para que tivesse diagnosticado certo, ali assentar: “causa mortis – a indiferença”.
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Impõe-nos uma situação desta, a alcançar uma única conclusão: “O ser humano pode, e por certo morrerá por qualquer causa, porém, que nenhuma dela possa ser pela “indiferença" que um humano ao outro”.