Amanda não arruma namorado...
Amanda não arruma namorado!
Dona de lindos olhos claros que expressam aquela fome de amar. Amar de verdade é o que ela quer; um amor que revire ela do avesso e que ela se entregue sem perceber.
Já teve alguns relacionamentos, uns sérios, outros nem tanto, mas o adeus dos homens que passaram por sua vida não se transformou em rugas temerosas em sua pele alva, parece que nunca teve um revés amoroso e por isso mesmo anseia por um – sorte ou revés – amor arrebatador. Daqueles quentes mesmo, daqueles amores loucos por quem a vida tem sentido.
Amanda tem pressa e por isso mesmo conseguiu entrar numa encruzilhada, daquelas que arrancam Morfeu de seu estado soporífero. Ela ficou um tempão sozinha reorganizando as idéias; tocando a vida para frente, morando com os pais, terminando uma faculdade, pena que faltava aquele “tchans”, aquela coisa de se abanar quando aparece o homem da sua vida.
Acabou se envolvendo com um rapaz alguns anos mais jovem, bonito e rico, pena que um tanto quanto inculto. Aliás, cultura era o que Amanda mais apreciava num homem, a inteligência, um bom papo sobre tudo e todas as coisas do céu e da terra, pena que o bonitão era só bonitão com o bolso recheado. Aliás, bolso recheado era quase a primeira coisa que Amanda mais apreciava num homem, empatando com a cultura, mas, pensava ela, essas coisas existem: Bonito, rico e inteligente. Pena que o bonitão tinha saído de um relacionamento longo e por enquanto, dizia ele, eu vou borboletear!
A palavra borboletear no sentido amplo do parágrafo subentende-se que o cara queria mesmo era namorar muitas ao mesmo tempo para compensar o tempo perdido com aquela outra que o segurou (contra a vontade, segundo diz) tanto tempo. É mais ou menos isso.
Para Amanda, o bonitão é só mais um bolso recheado, pelo qual ela terá que lutar pela preferência dele contra algumas meninas, tipo vestibular: Bonitão tem 1 vaga para 25 concorrentes.
Nesse meio tempo enquanto o bonitão borboleteia, Amanda se envolveu com um homem muitos anos mais velho, rico e vivido. O papo é bom, mas ele é feio, tem filhos e está em processo de separação, mas a entende, compreende as agruras que ela passa com uma depressão como se fosse o terapeuta dela há uma década. Ele se chama João.
João tem 25 vagas para 1 concorrente. E ele que não é bobo nem nada, sabe que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”, não dá folga para Amanda pensar no relacionamento porvir. Exerce uma pressão psicológica tão grande que por um segundo ela acha que está apaixonada. Ainda bem que esse segundo passa logo.
Agora ela tem medo de despachar aquele bonitão - mesmo sabendo que a inteligência não vai bater naquela cabeça tão cedo - para ficar com o João. E ela tem medo de despachar o João – mesmo sabendo muitas coisas do passado dele – para ficar com o bonitão.
Que indecisão. Daria um poema, pena que não sei fazer um.
Suposição número 1: Amanda largou o João para ficar com o bonitão.
E Amanda foi feliz para sempre, conversando com as paredes sobre a Morte de Ivan Ilicht, enquanto o bonitão calibra os pneus da camionete Land Rover biriri bororó.
Suposição número 2: Amanda largou o bonitão para ficar com o João.
E Amanda foi feliz para sempre, discutindo Orson Welles com o João e dividindo o cartão de crédito dele com as outras ex.
Por isso que Amanda não arruma namorado!