DESPEDIDA DE SOLTEIRO

DESPEDIDA DE SOLTEIRO

O Carlitos era o cara. Certinho, bonitinho, queridinho de todos no banco. Ajuizado ao extremo. Conheceu sua noiva, a Verinha na faculdade. Ficaram amigos, namoraram, namoraram, namoraram. Noivaram. Compraram apartamento, carro, viajaram. Tudo muito esperado.

Os colegas do banco já esperavam o casamento há mais de cinco anos. Desde os primeiros sinais da calvície, que entusiasmada acentuava as linhas da testa, Carlitos se preparava para o evento. A noiva já estava mais que acostumada com ele. Precisava ter certeza de que tudo era seguro, nos mínimos detalhes, quase perfeito.

Aproximou-se a data, todos os preparativos engatilhados. Na última sexta-feira, como reza a tradição, Carlitos resolveu participar da festa que os colegas do banco planejaram com muito carinho. Na verdade Carlitos não fazia questão da festa, pois era muito calmo, tranqüilo, não bebia, não fumava, não sabia dançar, só gostava mesmo de futebol.

Antes de ir para a festinha num barzinho movimentado na zona Sul, ligou para Verinha, e encheu-a de beijos, beijinhos.

Lá pela meia-noite apareceu uma garota muito bonita. Alta, magra, com um vestido escuro bem curto, colado ao corpo. Parece que tinha sido enviada pelos colegas de Carlitos. Ele resoluveu paquerá-la. Alguns de seus colegas divertiam-se muito e comentavam entusiasmados. – Olha como ele está saidinho! Até que enfim tirou o rótulo de “santinho”. Eles continuaram se divertindo. Carlitos estava doido pela garota.

Resolveu dançar coladinhos, ele adorou o perfume dela. E ficaram o resto da noite, dançando, conversando, se beijando. Na madrugada a turma já tinha se dissolvido e Carlitos ainda estava grudado na moça. Resolveu levá-la para uma boate para acabar a noite. Ela disse que não estava interessada. Perguntou, se ele queria ir passear na beira da praia. Eles foram até a Barra da Tijuca. Aquele marzão, a garota descompromissada e muito doce, encantaram Carlitos. Ele jamais imaginou que sua despedida de solteiro seria assim tão boa.

Estavam colados um no outro. Rolando na areia como dois adolescentes apaixonados, beijos, beijos. Até que não agüentaram mais. Despiram-se e foram correndo de mãos dadas para a praia. Mergulharam, se amavam, mergulharam, se amavam, até que a moça farta de tanto prazer, quase cansada, ainda sem largar dos braços dele, começou a entoar uma conversa, olhando para o firmamento: - Nossa você é o cara. Quando te vi, ali no barzinho, não imaginava nada do que estou vivendo. Ele escutou, pensando que ela estava arranjando uma maneira de dizer-lhe que não era o que ele pensava.

Ela continuou falando, até que ele viu os primeiros clarões do sol... A manhã trazia a realidade. Era uma moça tão jovem, bonita e cativante. Começou a sentir-se culpado. E a Verinha? Ela o perdoaria, afinal, ela nem saberia. Aquilo tinha sido armação dos colegas do banco pensava ele. Uma armação das boas.

Bem, a Verinha dançou. Carlitos jamais deixou a garota do bar. Com ela fugiu para Paris, de lá para Londres, onde fixou residência após demitir-se do banco e ir tentar a vida como garçon e ela faxineira. Andam pela Europa, quando ficam entendiados mudam de país.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 22/05/2010
Código do texto: T2272560
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