A PORTA BATEU....
Às vezes me encontro em cada situação, por minha culpa mesmo.
Por ser às vezes desligada, relapsa... não sei bem...mas acabo sempre aprontando alguma, quando menos se espera.
Aqui está chovendo muito, acho que como em todo país, o clima está assim.
Então por isso, resolvi trabalhar em casa, no sossego do meu quarto/escritório. E do jeito que levantei da cama, salvo alguns cafezinhos... Pus-me diante do computador e iniciei meu trabalho.
Já estava dando por encerrado, quando ouvi algo... um barulho estranho, na frente da casa, que por sinal, está em reforma...deixando a garagem aberta e a casa um tanto que exposta.
Fui verificar, mas por mais que tentasse não conseguia identificar de onde vinha o barulho.
Resolvi então, Santo Deus, ir ao quintal pela porta lateral... Evitando os pingos aqui e ali, cheguei à porta... Destranquei e após abri-la com cuidado e me escondendo por traz dela, pude ver um pacote no meio da garagem.
Um pacote grande, já molhado, e se mexendo. Pensando no que poderia ser aquilo... olhei para os lados, agucei os ouvidos para saber se havia alguém por perto... Tudo muito quieto, somente o barulho da chuva fina, decidi então, que numa carreira daria para pegar o pacote e voltar para traz da porta sem ser vista por ninguém.
E assim fiz... Quando peguei o pacote... Ouço um barulho atrás de mim... A porta batendo com a força do vento. Senti um arrepio, mas entendi como frio, pois, estava vestindo apenas uma camisola fina, transparente e curta... Sem mais nada. Oh! Meu Deus!
O frio não veio do vento, nem da chuva. Veio do fato de constatar que a porta bateu, com a chave por dentro.
Agora entendi, o que a frase “sem lenço e sem documento” e de camisola queria dizer.
-Calma... Pense não se apavore! Já que estamos aqui, vamos ver o que tem no pacote!
Ele se mexia e assustada e com cuidado, abri. Que isso! Quem mandaria um galo de presente para mim?? Um galo enorme! Bonito e simpático.
Meu espanto foi grande! E agora, assim como estou, com isso nos braços. Não poderia deixa-lo solto. E se for um engano? Terei que devolve-lo. Mas vamos ao que interessa. Vamos ver.
E se eu entrar pela vizinha e pular o muro... Ótimo. Só preciso das chaves da casa vizinha.
Essas chaves estão com o zelador do prédio enfrente. Basta atravessar a rua.
Olhei para um lado, para o outro... Ninguém. Atravessei a rua, na carreira e toquei a campainha, rezando para que fosse atendida logo. A esposa do zelador veio e levou um susto.
- O que houve? Foi assaltada? O que faz com esse galo, é para mim? Não... Com urgência falei o que houve e a minha necessidade das chaves... De pronto fui atendida.
Ao virar-me, um carro. Morador do prédio chegando, um senhor bem de idade, olhou-me como se eu fosse seu ovo de pascoa surpresa sendo entregue. Sem graça, tentando esconder,
o que um lenço não cobria, nem o galo ,corri para minha garagem; esperando que o morador entrasse na sua e então fui abrir a casa da vizinha.
Ufa! Consegui! Depois de dois cadeados e uma tranca, cheguei ao quintal... E agora. No fundo do corredor avistei um banco de madeira; coloquei o galo no chão e o banco ao lado do muro e me preparei para pula-lo. Ao tentar, levei um choque que me jogou para traz, caindo nos braços do senhor, morador do prédio, e ambos diretos ao chão, em cima do pobre galo... Ao tentar levantar, me vi no colo dele. Ao mesmo tempo em que avistei sua esposa entrando pelo portão.
Vermelha de vergonha e raiva do pobre homem que tentou me ajudar, e suja do tombo levantei de um salto! Mas ele com dificuldade própria da idade precisou da ajuda de uma esposa carrancuda e possessa, que o levou dali.
A essas alturas, eu estava totalmente molhada e com o corpo completamente exposto. O galo tentando fugir... Más não podia ficar ali, tinha que tentar. Coloquei o banco na outra extremidade do muro, peguei o galo e com cuidado subi... Dessa vez não houve choque, em compensação, era muito alto do meu lado da moradia, para que pulasse. E a chuva despencou com força.
Diante da cena, comecei a rir... Descaradamente. De tal maneira que chamou a atenção de um
homem que parou na frente do prédio para efetuar uma entrega.
Ele me olhava, sem acreditar! Uma mulher, seminua (para ser gentil), em cima de um muro alto, como a cavalgar, com um galo enorme debaixo do braço, tomando a maior chuva.
- Posso ajuda-la? Precisa de algo?
- Pode me fazer companhia. Afinal, ficar em cima do muro, com essa chuva... Nada mais delicioso. Diante do olhar do homem, “aquele olhar de não quero ver, mas estou vendo tudo e estou sem graça, mas adorando”; novamente fui atacada pela risada nervosa.
Sem nenhuma cerimonia e muito menos dificuldade o homem, que estava muito bem vestido, pulou e sentou no muro de frente para mim.
-Bonito seu galo... É de estimação? Ah! Está ensinando a ele como subir no muro... Ele já sabe cantar? Ah! É a próxima lição... Muito bem.
Agora, ambos, riam... Riamos muito e nos apoiávamos para não cair. À chuva amainou ,os risos também e a vergonha tomou conta... De mim é claro.
-Preciso pular para meu quintal e abrir aquela porta ali, mas não consigo.
-Deixe que eu pule. Assim falou, assim fez. E ainda me tirou do muro.
Senti seus braços fortes, me puxando e meu corpo deslizando pelo seu, meus restos de camisola, subindo; até sentir meus pés tocando o chão... Enquanto o galo, debaixo do meu braço, se debatendo e emitindo um som esganiçado.
-Assim vai mata-lo!!! Quem? Ah!! O galo... E assim meus olhos deixaram os dele.
De volta a terra, larguei o galo no chão, que saiu a procura de abrigo. Eduardo abriu a porta e virando se para mim disse: - Querida, é melhor entrar e tomar um bom banho quente... Senão vai acabar doente.
Disse isso, olhando bem dentro dos meus olhos. Corada até a raiz dos meus cabelos, agradeci.
Após apresentações, desculpas, sem graça me despedi. Eduardo se foi...
Entrei, vesti algo decente e com a chave na mão, fui fechar a casa da vizinha e devolver para o zelador. E ainda acomodar o galo.
Depois desse dia, o senhor em frente, fica empoleirado a espera de outro desastre em minha vida enquanto sua esposa vive gritando para que saia da janela. A esposa do zelador, a me ver, se põe a rir.
Alguns dias passados, eu chegava de um dia estafante, estacionei e desci. Procurava a chave, senti um calor, quando ouvi bem nas minhas costas:
-Posso ajudar? Além de subir muro, e ensinar galo a se equilibrar, sei procurar chaves...
Apesar de feliz, corei e um calor tomou conta do meu corpo...
Hoje sei que Eduardo sabe e muito bem como cavalgar, sem ser no muro. Procurar, sem serem as chaves e adora me ver molhada... Sem o galo, é claro. Que reina sozinho no meu quintal, pois, ninguém o reclamou.
Bate porta, bate....