O adeus da Rosa
O adeus da Rosa
Ele era apenas um menino de 7 anos e estava descalço como sempre, afinal seu chinelinho de dedo estava tão gasto, que nem adiantava mais usá-los. Ele caminhava pelas ruas à horas, desde cedo. Caminhava meio lento, meio bobo, meio confuso com toda aquela gente e com todo aquele barulho, afinal era tanta novidade. Ele ia sendo puxado por uma bela mulher, uma negra de vestido verde manchado, cabelo maltratado e rosto profundamente sofrido. Via-se pelo seu rosto uma agonia profundamente crua e absurdamente dura. Qualquer um, que para ela olhasse, perceberia, mas ninguém a olhava, apenas o menino. Este tentava incansavelmente puxar assunto, fazendo-lhe perguntas, as quais ela respondia apenas com: “sim”, não”, “é”. O garoto estava tão encantado com tudo, que nem percebia o que estava acontecendo com sua mãe. Ele nem percebeu, que quando ela tinha parado num bar para ir ao banheiro, ao voltar seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Mas, apesar de tudo o menino, em determinado momento, quis saber o que acontecia com sua mãe: _ Oh, mãe, que foi, mãe, que foi?
_ Foi nada, não, filho, foi nada não.
_ Cê tá calada, mãe, cê não tá falando nada, cê não é assim, mãe, tô falando contigo, mãe...
A mulher, chamada Rosa, virou-se para o filho:
_ Que foi, filho?
_ Cê não tá me ouvindo, mãe.
_ Me desculpa, querido, mamãe estava distraída.
_ Que que foi, mãe?
_ Foi nada, não, filhinho.
_ Mãe cê tá chorando.
_ Tô não, filho, tô não.
_ Pode falar, mãe, num pricisa ter vergonha, não, as muié e as mininas choram mermo.
_ Ah, meu filho, todos choram algum dia, todos choram algum dia...mas, eu num to chorando não.
O menino cansado parou de andar de repente e disse:
_ Mãe, to cansado, não vou mais andar, não. Eu quero descansá.
A mãe olhou para o menino, sentiu pena, carinho, amor e até remorso; afinal o pobrezinho já estava andando a quase quatro horas. Haviam saído às 7:30 da manhã e já eram 11:30, conforme ela olhou no seu velho relógio de pulso (a única herança deixada por seu amado marido). Ela viu uma praça, viu um banco vazio e disse:
_ Vamos ali nos sentar.
E assim, eles fizeram: foram juntos, Rosa e o filho, no banco se sentar. E quando lá chegaram, se sentaram e ao se sentarem, se olharam. E, então, o garoto, que desde a tarde do dia anterior não havia comido, sentiu o estômago de fome roncar. Ele sentiu vontade de chorar, mais sentiu pena da mãe, afinal ela parecia tão tristinha, disse apenas:
_ Tô com fome, mãe, tô com fome.
A mulher olhou para o filho, colocou às mãos no bolso e ali encontrou apenas uma bolacha velha, a qual entregou para o filho. O garoto pegou a bolacha e não reclamou e nem pediu mais nada. Ele sempre soube, que a mãe lhe dava tudo que podia e às vezes até mais. Comeu a bolacha, olhou o olhar triste da mãe e disse:
_ Tava uma delícia, mãe, obrigadinho.
A mãe tentou arreganhar os dentes em algo parecido com um sorriso, mas sua expressão cadavérica não permitiu que tal sorriso ocorresse. Ela olhou para o garoto e disse:
_ Que bom, meu menino!
E de repente, ela fez uma coisa que a muito não fazia, agarrou o menino e ficou abraçada com ele por pelo menos uns cinco minutos. O garoto não entendeu e ao final disse:
_ Que isso, mãe, cê tá me machucando.
Rosa, então disse com voz lacrimosa, quase moribunda:
_ Perdoa, filho meu, perdoa a mãe, perdoa.
O garoto, então, disse:
_ Tudo bem, mãe, tudo bem.
A mãe olhou, então, daquele jeito profundo e tentando mergulhar no fundo daquela adorada alma pequenina, ela disse:
_ Te amo, meu tesouro, te amo mais que tudo no mundo.
_ Eu também te amo, mãe.
E então tudo aconteceu rapidamente: a mulher se levantou, olhou para o garoto uma última vez como se quisesse pedir desculpas e, depois, saiu correndo feito o vento e se atirou na frente de um caminhão.
O garoto nem teve tempo de gritar, de pedir que a mãe não o deixasse, ele só foi gritar depois, diante dos restos mortais de sua adorada mãe.