PITO APAGADO, MAS NEM TANTO...
Zulma recém tivera seu sétimo filho. Agora eram três meninas e quatro guris, e todos tinham o nome do pai: João Luís, Pedro Luís, José Luís e Antonio Luís, enquanto as meninas chamavam-se Luísa Maria, Ana Luísa e Lélia Luísa. Luís Jacó, o pai, estava feliz, Quer dizer, às vezes chorava abraçado a Zulma e repetia,”Não mereço tantas bênçãos!”
A mulher atribuía as lágrimas à emoção do marido. Afinal, como caminhoneiro, pouco tempo tivera para acompanhar o crescimento dos filhos e o permanente estado de gravidez de Zulma. Talvez, culpava-se por isso.
A mãe de Zulma falecera de tifo, quando sua única irmã tinha dez anos. Seu pai estava em lugar ignorado: saíra, uma tarde de maio, para comprar farinha e sumira do mapa. Dizem que foi para o Amazonas catar ouro com um amigo muito chegado.
Zelmira ficara aos cuidados da irmã e de seu tio Jacó—era assim que o chamava desde pequena. A menina era doze anos mais nova do que Zulma, a qual, quando a acolhera em sua casa, já era mãe de dois filhos.
Luís Jacó olhava para sua ninhada e lágrimas rolavam em seco silêncio. Ficava em casa, barba por fazer, banho vencido, esgualepado na cadeira preguiçosa, a olhar as galinhas , com o palheiro apagado, dependurado na boca caída. A sanfona ficara num canto da salinha.
Comadres de Zulma falavam em quebrante ou ‘trabalho’ dos brabos contra Jacó. Conheciam casos de várias pessoas, na colônia, que haviam ficado muito mal depois de despachos em encruzilhadas, sapos de boca costurada, cabritos sangrados à meia noite de uma lua nova.
Passou a quarentena e Jacó só ia para a cama para deitar e tentar dormir. A mulher queria saber o que acontecera ao homem, sempre, tão fogoso: tinha, agora, a seu lado um saco velho de batatas murchas. E, a cada noite, caprichava mais em roupas, cabelos, unhas, perfume Flor de Maçã--o favorito dele.
Nada, nem roncos, sim, porque o espiava e via, através do luar que clareava o quarto, ele lá, com os olhos arregalados, um tempão.
Zelmira ajudava a cuidar das crianças e da casa. Disse para Zulma que achava uma bobageada ficar preocupada com tio Jacó: estava apenas cansado do trabalho que, por sinal, aumentaria, ainda mais, com essa criançada toda. A mulher considerou as palavras da irmã: quem sabe não estaria com razão?
Chegou o Natal e seus preparativos, como biscoitos caseiros enfeitados com confeitos, guirlandas de papel de bala e ourinho dos bombons saboreados ao longo do ano e guardados numa caixa de sapatos de Jacó. Além disso, havia a escolha da árvore , na plantação de pinheiros de um compadre.
No dia de Natal, quando a árvore estava pronta, o jantar servido , as velas acesas, Jacó e Zelmira apareceram na sala, com mala e uma trouxa.
“Estamos deixando vocês, Não aguento mais contemplar a inocência e beleza que vocês são. Sou um maldito desgraçado! Amo vocês! Vou embora com Zelmira. Mesmo te amando, Zulma, me apaixonei por ela. Tinha que ser hoje! O bebê já está quase nascendo. Sei que tu, Zulma, poderás dar conta de tudo. Perdão!”
Jacó, depois de falar, abriu a porta da frente e saiu com Zelmira, que , calada, não conseguia esconder sua felicidade.
imagem:
http://www.worldwidephotos.org/pics/5041_b.jpg
História baseada em fatos reais coletados pela autora, em pesquisa sobre o tema "traição".
Zulma recém tivera seu sétimo filho. Agora eram três meninas e quatro guris, e todos tinham o nome do pai: João Luís, Pedro Luís, José Luís e Antonio Luís, enquanto as meninas chamavam-se Luísa Maria, Ana Luísa e Lélia Luísa. Luís Jacó, o pai, estava feliz, Quer dizer, às vezes chorava abraçado a Zulma e repetia,”Não mereço tantas bênçãos!”
A mulher atribuía as lágrimas à emoção do marido. Afinal, como caminhoneiro, pouco tempo tivera para acompanhar o crescimento dos filhos e o permanente estado de gravidez de Zulma. Talvez, culpava-se por isso.
A mãe de Zulma falecera de tifo, quando sua única irmã tinha dez anos. Seu pai estava em lugar ignorado: saíra, uma tarde de maio, para comprar farinha e sumira do mapa. Dizem que foi para o Amazonas catar ouro com um amigo muito chegado.
Zelmira ficara aos cuidados da irmã e de seu tio Jacó—era assim que o chamava desde pequena. A menina era doze anos mais nova do que Zulma, a qual, quando a acolhera em sua casa, já era mãe de dois filhos.
Luís Jacó olhava para sua ninhada e lágrimas rolavam em seco silêncio. Ficava em casa, barba por fazer, banho vencido, esgualepado na cadeira preguiçosa, a olhar as galinhas , com o palheiro apagado, dependurado na boca caída. A sanfona ficara num canto da salinha.
Comadres de Zulma falavam em quebrante ou ‘trabalho’ dos brabos contra Jacó. Conheciam casos de várias pessoas, na colônia, que haviam ficado muito mal depois de despachos em encruzilhadas, sapos de boca costurada, cabritos sangrados à meia noite de uma lua nova.
Passou a quarentena e Jacó só ia para a cama para deitar e tentar dormir. A mulher queria saber o que acontecera ao homem, sempre, tão fogoso: tinha, agora, a seu lado um saco velho de batatas murchas. E, a cada noite, caprichava mais em roupas, cabelos, unhas, perfume Flor de Maçã--o favorito dele.
Nada, nem roncos, sim, porque o espiava e via, através do luar que clareava o quarto, ele lá, com os olhos arregalados, um tempão.
Zelmira ajudava a cuidar das crianças e da casa. Disse para Zulma que achava uma bobageada ficar preocupada com tio Jacó: estava apenas cansado do trabalho que, por sinal, aumentaria, ainda mais, com essa criançada toda. A mulher considerou as palavras da irmã: quem sabe não estaria com razão?
Chegou o Natal e seus preparativos, como biscoitos caseiros enfeitados com confeitos, guirlandas de papel de bala e ourinho dos bombons saboreados ao longo do ano e guardados numa caixa de sapatos de Jacó. Além disso, havia a escolha da árvore , na plantação de pinheiros de um compadre.
No dia de Natal, quando a árvore estava pronta, o jantar servido , as velas acesas, Jacó e Zelmira apareceram na sala, com mala e uma trouxa.
“Estamos deixando vocês, Não aguento mais contemplar a inocência e beleza que vocês são. Sou um maldito desgraçado! Amo vocês! Vou embora com Zelmira. Mesmo te amando, Zulma, me apaixonei por ela. Tinha que ser hoje! O bebê já está quase nascendo. Sei que tu, Zulma, poderás dar conta de tudo. Perdão!”
Jacó, depois de falar, abriu a porta da frente e saiu com Zelmira, que , calada, não conseguia esconder sua felicidade.
imagem:
http://www.worldwidephotos.org/pics/5041_b.jpg
História baseada em fatos reais coletados pela autora, em pesquisa sobre o tema "traição".