PAIS DE METIRINHA - parte 1

Yvy procurava dirigir o mais rápido que podia naquele fi-nal da tarde, pois um grande temporal se avizinhava e ela queria chegar em casa antes que desabasse,

Levou um grande susto quando uma meninazinha entrou na frente do carro obrigando-a a uma brecada violenta.

Dando graças a Deus por ter evitado o atropelamento, desceu apressada e viu que a pequena assustada estava a menos de um metro do carro:

-Me leva pra casa!

-Onde é a sua casa?

-Não sei.

-Por que está sozinha na rua? O que lhe aconteceu.

-Não sei.

Era evidente que estava perdida.

Que fazer?

Não podia ir embora sem ao menos tentar ajudá-la. A chuva já começava a cair e ela chamou:

- Entre aqui. Eu levo você para minha casa e daí vamos ver o que fazer.

Igor, o marido já havia chegado e esperava pela esposa.

Surpreendeu-se ao vê-la chegar com uma criança e, ciente do ocorrido, disse:

- Vamos dar o jantar para ela e depois a gente resolve o que fazer.

A chuva desandou violenta. Em poucos minutos as ruas estavam alagadas impedindo qualquer tentativa de transitar por elas.

- Eu acho que devíamos avisar a polícia.

- Ou seria o juizado de menores?

O temporal provocou uma pane nos telefones e eles não poderiam, mesmo que quisessem avisar ninguém.

Todas as tentativas para descobrir quem era a menina fo-ram em vão, pois ela não sabia nem o nome do pai.

- É papai.

- E a mamãe?

- Não tenho mamãe.

- E o seu nome?

- Rosaly.

A menina estava cansada e logo dormiu na caminha im-provisada no sofá da sala.

O casal estava atônito. Ele acabava de entrar em férias e já tinham alugado uma casa na praia para passar uma quinze-na.

Deviam viajar na manhã seguinte, mas agora tinham que mudar os planos.

Igor olhou a menina adormecida e sugeriu:

- Vamos ficar com ela?

- Você está louco? A estas horas já devem estar procuran-do. Se souberem que ficamos com ela aqui é bem capaz de termos muita dor de cabeça até provarmos que não somos la-drões de crianças.

- Mas a gente podia ao menos levá-la a praia conosco. Cri-anças gostam tanto de praia.

- Isto é uma loucura! Uma incensa tez!

Uma insensatez?

Mas quem foi que disse que Yve e Igor eram sensatos?

No banco traseiro, agarrada à mochila nova comprada por Ivy com roupas, brinquedos e tudo mais de que uma criança precisa para passar uma quinzena na praia, Rosaly contem-plava extasiada a magnífica paisagem da descida da serra.

Na inocência de seus poucos anos não lembrava o que já se fora nem temia pelo que estava por vir. Para ela só havia aquele momento de alegria. Estava indo para a praia!

Igor lhe dissera antes de saírem:

- Nós vamos fazer uma brincadeira. Faça de conta que eu sou o seu Papai e a Ivy sua Mamãe

- Mas você não é meu Papai.

- Claro que não. Sou o seu Papai só de mentirinha.

Rosaly entendeu e riu divertida.

Ivy e Igor, preocupados, mantinham o rádio ligado aten-tos aos noticiários esperando a qualquer hora ouvir a chamada sobre a menina desaparecida. Se isso acontecesse, imediata-mente retornariam.

Mas não ouviram nada a respeito e nos dias seguintes le-ram todos os jornais, assistiram os noticiários da televisão, mas, surpreendentemente, ninguém parecia estar procurando uma criança perdida que pudesse ser a Rosaly.

A temporada foi diferente e muito mais divertida do que todas que já tinham passado na praia.

Em vez de estirar-se sob o guarda-sol tomando interminá-veis caipirinhas ou comendo camarões regados a chope gela-do, agora comiam pipoca, milho cosido, algodão doce, maçãs do amor, picolés.

Resgataram um pouco da infância brincando com bóia, prancha, castelos de areia, bolas, petecas e pipas.

À noite, os barzinhos e as baladas foram trocados pelo jo-go de mico preto, mas todos dormiam cedo, pois os dias eram muito cansativos e queriam aproveitar, no dia seguinte, a praia antes que o sol esquentasse muito.

Rosaly estava muito alegre. Seria uma passagem divertida para ela contar mais tarde para os amigos.

Uma ponta de preocupação, porém não abandonava o ca-sal. Que loucura estavam fazendo! Isto podia custar-lhes mui-tos aborrecimentos, mas estava sendo tão bom!

Teriam que entregá-la aos pais, ou, quem sabe, ao juizado de menores, mas não queriam pensar nisso. Queriam fazer de conta que ela era realmente a sua filhinha.

De volta à cidade, nova surpresa os aguardava.

Maith
Enviado por Maith em 13/05/2010
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