PAIS DE MENTIRINHA = parte 2
Assim que Igor retornou ao trabalho, soube que uma transferência há muito esperada havia saído e ele devia assu-mir imediatamente.
Precisavam resolver o problema da Rosaly, mas se fossem tratar disso não poderiam viajar logo e acabaram fazendo mais uma loucura, levaram Rosaly com eles, já então dispos-tos a ficar com ela.
A primeira dificuldade apareceu quando foram matriculá-la em uma escola e foi pedido seu registro de nascimento.
Ivy disse que haviam perdido na mudança, mas que já es-tavam providenciando uma segunda via.
A secretária da escola aceitou a desculpa e fez a matrícula sem maiores dificuldades, mas o incidente levou-os a uma no-va preocupação. Não podiam ficar com ela sem documentação.
Outras dificuldades apareceriam com certeza. Que fazer?
Quanto mais passava o tempo mais difícil se tornava para eles justificarem sua atitude.
Cleo era vizinha de apartamento do casal e Ivy fez amiza-de com ela.
Ela vivia só com a filhinha, pois o marido estava preso.
Logo se tornaram intimas e Yvy acabou contando a ela a situação da Rosaly.
Cléo estava acostumada com o mundo dos crimes. O ma-rido já fora preso várias vezes e ela, embora não concordasse com o que ele fazia, reconhecia que era muito difícil mudar de vida.
Não era de todo desonesta, mas não tinha tantos escrúpu-los quanto Ivy e sugeriu como uma alternativa aceitável ar-ranjar um documento falso para Rosaly. Conhecia até o falsá-rio, "colega” do marido e prontificou-se a providenciar tudo para ela.
-Mas, isso é crime! Não posso fazer isso!
- Por que não? Você não vai usar esse documento para fins ilícitos. Os fins justificam os meios.
- Ou será o contrário?
Cléo acabou convencendo a Ivy e quando esta falou com o marido houve, como era de se esperar, um primeiro momento de escândalo, mas também ele acabou achando viável com-prar um documento falso para ““ regularizar” a situação da Rosaly.
Passaram uma grande parte da noite conversando, discu-tindo, ponderando os prós e os contras, perdidos em medos e indecisões e na manhã seguinte, logo ao levantar-se Igor de-clarou:
-Já decidi o que vamos fazer! O que já devíamos ter feito há muito tempo. Vamos à polícia, contamos tudo e assumimos as conseqüências.
- Mas, nós vamos perder a Rosaly! Podemos até ser presos pelo que fizemos!
- Mas não há outra alternativa. Vou contar toda a verdade. Se for preciso arranjo um advogado. O que não podemos é fi-car nos enredando cada vez mais em coisas ilícitas.
Igor estava decidido. Nada que Ivy falasse o faria demo-ver de sua intenção
E lá se foram os dois falar com o delegado.
O delegado simpatizou-se com o Igor e acreditou na sua história.
Há tanta criança abandonada, passando necessidades e correndo perigos, por que ele havia de criar problemas com esta que estava tão bem amparada?
Mas, tinha que registrar a ocorrência e só quando ficasse provado que realmente Rosaly são tinha família ela poderia ser adotada.
No juizado de menores também foi tranqüilo. Foi-lhes concedida uma guarda provisória e oportunamente seria con-cretizada a adoção.
E assim, Igor e Ivy deixaram de ser pais de mentirinha.
Acabou a brincadeira. Agora Rosaly era realmente sua fi-lha.