Uma Tarde no Shopping.
Salvador-BA -1984.
44 anos, vendendo saúde. Entrando na idade do “lobo” com todo o gás. Era assim que eu me encontrava naquela época.
Meu casamento ia de mal a pior. Tentava uma reconciliação, mas via que não iria dar em nada.
Trabalhava numa firma de petróleo, (me formei em prospecção de petróleo) franco-brasileiro na cidade de Catú – BA e tirava meus dias de folga para passear e azarar no shopping ( XX ) em companhia de meu filho caçula, já rapazinho com 17 anos.
Cheguei bem antes da hora marcada para encontrar-me com meu filho. Resolvi passear sozinho pelas lojas e ver se encontrava algo que me interessasse.
Eu era amarrado em áudio. Fabricava meus próprios misturadores de sons, caixas e efeitos sonoros. Um autodidata no assunto que me valeram noites acordadas pesquisando. Então, nada mais lógico do que ir direto visitar lojas do ramo.
Entrei em duas lojas. Cada uma exibia aparelhos de ultima geração. Fiquei namorando um pick-up Akay lindo. Decidi que no final do mês eu o compraria.
Ao sair da ultima loja, me vi diante da Mesbla. Uma bela loja de departamentos. Tudo do bom e do melhor havia nesta loja. Senti que deveria entrar e examinar os calçados. Precisava mesmo de um par de sapatos esportes. Fui direto ao departamento de calçados.
Opa! O que vejo diante de um grande espelho examinando sapatos nos lindos pezinhos? Um bela morena. Devia ter 1.65 metro de altura. Aparentava ter não mais que 30 anos. Cabelos negros, lisos abaixo dos ombros. Corpo bem delineado. Trajava um costume preto de um tecido leve e sedoso.
Fiquei observando aquela mulher que mais parecia uma miragem. Ela percebeu meu indiscreto olhar, mas não se importou. Afastou-se do espelho andando de costas e já há uma boa distancia, pressionou com o dedo indicador direito o canto do olho do mesmo lado.
Sorri. Ela era míope. Eu também era míope, mas grau bem fraco, por isso não usava óculos, mas usava deste artifício para ter uma visão melhor à distância.
Notei que ela me viu sorri. Isso a deixou perturbada.
Sempre fui afoito e ousado quando se tratava de uma conquista. Aproximei-me. Senti certa segurança para fazer isso. Quando me sentia seguro, as palavras saiam lisas de minha boca. Brotavam cheias de gentilezas sem o menor esforço.
Ela agora já estava mais perto do espelho. Viu que eu me aproximava. Não olhou para mim, mas aguardava sim a minha iniciativa.
- Você é míope, não é mesmo? – falei olhando-a nos seus olhos. E que olhos! Castanhos amendoados.
Espantada com minha pergunta e afirmação, seus lábios soltaram um belo sorriso antes de responder-me com outra pergunta:
- Como descobriu?
Que labios... Lindos, carnudos e quando ela falava parecia dizer: "Me beija homem"
Então expliquei que eu também era míope e que a tinha visto pressionando o olho direito com o polegar. Coisa que alguns míopes sempre fazem.
E a conversa fluía com bastante receptividade. O convite para dali irmos a praça de alimentação já tinha feito e ela havia aceito.Tudo se encaminhava no maior clima.
Quanto mais conversávamos, mais eu me convencia que aquela tarde seria inesquecível. Realmente foi. Olhem só eu aqui contando a vocês.
Estava tão entusiasmado quie já nem lembrava mais do que tinha ido fazer ali. Estava sim, babando aquela linda baiana.
De repente, uma mão apertou meu ombro e alguém falou em auto e bom tom.
- Oi paizão! Numa boa ai veio? Paquerando a gata em plena tarde?
Virei e dei de cara com meu filho e o amigo que o acompanhava com os risos mais descarados que podiam ter.
Não quis responder. Procurei a morena... Êpa! Pra onde ele foi? Estava bem aqui pertinho de mim...
Avistei-a após uns 5 minutos de intensa busca visual pelos departamentos da loja. Ia apressada em direção a saída.
Meu filho e o amigo soltaram uma grande gargalhada.
- Fica triste não veio. Depois tu podes achar outra - mais risos - mas agora vamos lá comprar meus discos.