MEIAS DE SEDA

Hoje não sei bem porque, estive a me lembrar das meias de seda que usei. Gostava da cor de cacau que escurecia um pouco minha pele clara. Uma vez usei meias pretas de seda. O vestido era justo e de mangas compridas de um tecido macio e meio flanelado na cor cinza com uma lista preta bem em cima do busto. Fiquei bem não fosse minha aversão pela cor cinza que até hoje não compreendo porque o comprei.

Mas as meias de seda da cor da pele, eu adorava. Mais como um artifício que deixava minhas pernas lisinhas e esbeltas. Usava sempre com vestidos justos acima dos joelhos. Tinha vestido vermelho, branco, azul-claro e os pretos... Um de crepe com as costas quase toda de fora e o inesquecível de veludo negro ao qual não faz muito tempo dediquei-lhe uma crônica quase perfeita.

Mas nessa época ainda não era quarentona e as curvas ainda eram sinuosas. Mas não posso me queixar. As curvas ainda são bem sinuosas apesar dos quarenta e poucos anos. Apenas algumas gordurinhas localizadas que, não faz nem seis meses, me obrigaram a renovar o guarda-roupa. Entretanto nada de meias de seda ou vestidos. Apenas calças Jeans. Mas já me acostumei. Sou uma mulher que adere fácil às mudanças radicais do corpo, não sem antes travar lutas interiores de auto-estima. Mas nada que dure mais de quinze dias.

Mas hoje, ao me lembrar das meias de seda corri até a gaveta onde supunha tê-las guardado há quase uma década. Numa ânsia incontrolável remexi o conteúdo ali e finalmente a encontrei adormecida entre minhas peças de roupa íntima. E eu que pensava que a havia destruído em uma dessas mudanças de moda. Mas não... Lá estava ela. E em bom estado.

Com um sorriso nos lábios e como se entregasse a maior das aventuras, a calcei e não pude deixar de sentir saudade de uma época tão bela. Por um instante compreendi minha afeição às meias. Elas me davam uma segurança que eu não compreendia. A segurança que perdi por causa da roleta da moda que gira buscando valorizar a mulher moderna. Sei apenas que me sentia segura. Talvez porque ela escondesse um pouco minha cor clara e me dava uma falsa ilusão de beleza perfeita. Afinal hoje se excluem as brancas e amam-se as morenas. Será que estou certa? Perguntei-me enquanto guardava as meias de seda como se guarda uma relíquia.

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 25/08/2006
Reeditado em 12/12/2008
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