A MANÍACA DA TOALHA
Ela era bonita.
Era?
Bem, suas olhadelas no espelho certas vezes diziam a ela: Sim, tu és bela! Noutras horas: estás esquisita hoje! Uma arrumada no cabelo, um novo tom de cor para o batom, uma roupa mais “transada”...
Estou bem? Mas ela era de fato bonita. Muitas pessoas diziam isso e por muitas vezes. Certas vezes ela cria na opinião dos outros, mas nunca ficava convencida em definitivo.
Mas o terrível espelho era sempre o juiz fatal e impiedoso. O maior defeito do espelho é o fato de ele sempre nos dizer a verdade.
O danado não mente nunca, jamais nos faz um mimo sequer, nem ao menos esconde uma ruga ou marca de expressão, mas ao contrário, está sempre com um enorme indicador apontado para nossa face.
Ele, o espelho, este cruel revelador da nossa aparência, infelizmente ficava com a última palavra: Hoje você não está muito bem! Parecia que o vidro que nos reflete nunca lhe dava uma plena convicção sobre sua aparência. Era difícil para ela convencer-se que realmente era bonita e desejada.
Talvez, muito mais do que propriamente ter um sem número de aventuras amorosas, era mais importante o fato de ser vista, ser desejada, ser querida.
Para ela um olhar de desejo, um doce apreciar de sua pessoa, um gesto que demonstrasse a sua condição de especial, única e querida, um olhar de alguém que fosse dela cativo, encantado, em demasia arrebatado, que sonhasse com ela durante o dia e a noite, este olhar, este quase impossível sonho romântico, esse olhar, essa quimera de coração apaixonado, esse olhar, esse desejo inalcançável de um coração iludido, era por ela muito, mais muito por demais desejado.
A moça já estava na idade das balzaquianas e muitos conflitos ainda pululavam em sua cabeça. É verdade, os tais conflitos não lhe davam paz, nunca. Por algum tempo podia haver clarões de sanidade, de descanso. Mas, suas maiores questões insistiam em permanecerem alojadas ali no lugar em que a mente é mais frágil, mais exposta às inseguranças e incertezas da vida.
Mais de trinta anos, um casamento infeliz, uma carreira medíocre, não conseguira passar da condição de remediada na vida, os sonhos de felicidade pareciam se desmanchar em frente aos seus olhos... Sabia-se finita. E vislumbrava o tempo de vida que lhe faltava como alguém que admira o cair lento da areia fina de uma já antiga e cansada ampulheta.
Certa vez, ela implicou com o marido por causa de uma toalha molhada em cima da cama. O marido disse a ela: “dane-se”.
Dane-se? Tá bom. Ela pensou.
Então começou a pensar numa maneira de acabar com o hábito ruim do marido. Pensou em diversas coisas, como por exemplo, conversar com ele. Mas ele respondia sempre que não estava nem aí.
“Que se dane!”
Era o que ele sempre repetia. E para ela era a morte ver a toalha molhada em cima da cama. Molhava toda a cama, ficava com o cheiro ruim e ainda a visão da toalha dava um aspecto horrível, para ela, insuportável.
O seu desprezo pelo marido crescia a cada dia. Uma raiva muito grande e um desejo enorme de vingança lhe corroíam a alma. Era preciso de alguma forma dar um corretivo naquele idiota.
Havia um funcionário na empresa em que ela trabalhava que sempre lhe dava cantadas. Ela não simpatizava em nada com ele, tinha até nojo do cara, mas este já havia dito que para transar com ela faria qualquer coisa.
- Qualquer coisa? Perguntou ela ao colega de serviço.
- Com certeza. Tenho um enorme tesão por você. Faria qualquer coisa por momentos de prazer contigo. Disse o colega do trabalho.
- Então tá. Vá até minha casa hoje às 19h00. Meu marido vai jogar futebol. Podemos nos divertir.
- Você tem revólver? Não, respondeu o colega.
- E algemas? Também não, respondeu novamente.
- Então trate de providenciar esses dois itens, eles serão necessários.
O colega estava embriagado de tesão e nem questionava sobre para que ela queria aqueles “itens”.
Só pensava nela, o tempo todo.
Ela jamais ficaria com aquele cara, mas seu intuito maior era vingar-se do desgraçado do marido. Chegando na casa dela, foi recebido aos beijos, com ela de lingerie.
Ela o instruiu sobre o que ele tinha que fazer com o marido, assim que chegasse. O colega relutou um pouco, mas a visão da mulher naqueles trajes sumários não lhe dava outra alternativa a não ser obedecê-la.
Sentaram-se e começaram a conversar enquanto o marido não chegava.
Finalmente o marido batia à porta. Ela o recebeu como estava, com os trajes sumários. O marido abriu logo um sorriso e esfregou as mãos:
- É hoje! O que deu em você?
- Estou muito inspirada hoje.
Nisso, o colega apareceu como haviam combinado. Ele apontou o revólver para a cara do marido e ela o algemou numa cadeira, de modo que ele ficou sentado de frente para a cama.
Então disse ao marido:
- Assista agora ao espetáculo!
Começou então a transar com o colega na frente do marido algemado e completamente perplexo, tentando entender se aquilo era sonho ou realidade. Ela fez com o colega tudo o que não fazia com o marido, claro, de propósito.
Finalmente, depois que a transa acabou, ela disse ao marido:
- Agora é sua vez!
O colega pegou o marido e o algemou à cama pelas mãos e pelos pés. De modo que este ficou de com a barriga voltada para baixo.
- Vamos, Marcão!
Marcão, o colega, pegou uma toalha foi até o banheiro e molhou-a completamente em água fria. Torceu um pouco para tirar o excesso de água e enrolou-a completamente. Então começou a bater com a toalha nas costas, nas pernas e na bunda do marido.
Foram 39 toalhadas ao total. A mesma quantia de chicotadas que os romanos aplicavam aos criminosos. Foi idéia dela infligir esse tipo de castigo ao marido e ainda contou a ele, em tom professoral, sobre os tipos de tortura que os romanos costumavam aplicar.
O marido não podia acreditar em tudo que via e ouvia.
- Eu entro na história agora! Disse ela.
Então pegou a toalha toda enrolada e envolveu no pescoço do marido que já pedia pelo amor de Deus para que parassem com tudo aquilo. O bundão chorava e pedia perdão por tudo. Ela respondeu a ele:
Dane-se!
Apertou a toalha com toda a força no pescoço do imbecil e matou o marido sem dó nem piedade.
Hoje esta casada com o Marcão e tem dois filhos lindos.
Marcão nunca deixou uma toalha molhada em cima da cama.