Passeio matinal
Levantava, diariamente, bem cedo para dar seu costumeiro passeio pelas ruas do bairro. Cumprimentava a todos que encontrava pelo caminho, sem se importar se conhecia ou não. – Bom dia “Seo” João... Bom dia, Dona Néia... Bom dia, “Seo” Pedro... – Para as pessoas a quem não conhecia dava um sorriso acompanhado de seu simples, mas sincero bom dia.
Era um passeio matinal que obedecia, rigorosamente, o mesmo horário e os mesmos caminhos. Às vezes notava a ausência de uma ou de outra pessoa e procurava saber o porquê de não haver aparecido naquele dia. – Será que está doente? Será que se mudou do bairro? Será que morreu? – Perguntava-se antes de buscar as informações sobre a pessoa.
Certo dia, os moradores do bairro notaram que, no horário habitual, ele não havia passado por aquela rua. Afinal, isso não era normal. – Será que morreu; que está doente; que está bem; que precisa de ajuda? Estas eram as perguntas que os vizinhos faziam entre si. Queriam saber por que razão ele não havia passeado naquele dia.
Ainda não eram nem dez horas da manhã e ele já havia recebido dezenas de visitas. Todos queriam saber o que havia acontecido. E olha que muitos nem sabiam o seu nome. Tudo o que conheciam era o velho sorriso que sempre chegava acompanhado de um bom dia. Antes de ouvir as perguntas ele se antecipava: – Está tudo bem, meus amigos. Apenas estou sem coragem de sair pra dizer bom dia às pessoas. Ontem fui assaltado ao desejar bom dia a um cidadão que se aproximava de mim. É... A cidade está muito perigosa...