BANZÉ NA CASA DO ZÉ
Estava tudo preparado, como já era tradição naquela vila de casas, a festa do Zé iria acontecer no dia de hoje. Já se passaram dez aniversários e a cada ano sua festa atraia mais amigos. Como já era costume, seria servido churrasco e cerveja, ou refrigerante.
O horário marcado já se aproximava e a galera começa a dar o ar da graça. A churrasqueira estava acesa e a breja geladinha. A trilha sonora da festa era ditada pelo próprio Zé, que colocava seus LP's para tocar agitando a galera e fazendo todos curtirem de montão.
Quando deu onze da noite, não tinha espaço pra mais ninguém. O quintal da casa estava abarrotado de gente, a breja e o churras corria solto. Não tinha miguelagem, todos estavam ali para se esbaldar, afinal eram amigos, muitos de infância.
A festa estava pegando fogo, não somente a festa mas os convidados, que após várias latinhas de cerveja, já se encontravam com o teor alcóolico exagerado. Ninguém perceberá mas nessa altura não havia mais conversa baixinha, todos praticamente gritavam. Competiam a todo custo com a música e com as conversas pararelas, para que sua opinião fosse ouvida.
As conversas eram nostálgicas, pois ali eram lembradas todas as peripécias e algazarras promovidas desde a infância, destes que eram amigos inseparáveis. Lembravam-se de tudo, desde um capote de bicicleta até aquele dia que juntos fizeram a limpa nos pipas da favela.
Porém umas das histórias contadas pelo Zé chamou a atenção de todos que pararam para escutar. E que de agora em diante estarei relatando para vocês:
- Aí rapaziada! Escuta essa que vocês vão delirar!
- Vocês lembram dos rolé de bike, né! Meu como juntava galera ali na rua pra gente curtir. Desenhavamos pistinha com semáforo, posto de gasolina e tudo mais. Porém a gente nunca ficava feliz com tão pouco e sempre acabava inventando uma moda diferente.
- O que eu quero contar é da pistinha que a gente fez ali no Calipal. Mano, o negócio era uma pirambeira danada. Num tinha nada de especial, somente uma descida cavernosa de um lado e a gente parava no morrão. Depois fazia o caminho inverso.
- Daí os doidões inventaram que tinha que descer o morrão inteiro para depois subir a rampa. Só que não tinha espaço depois da subida, tinha uma muretinha, que se num parasse tava ferrado. Pois começaram a descer, foi um, dois, três... Pois é chegou a fez dele, o maluco estava de Caloi Ceci, aquele trambolho num dava estabilidade nenhuma, mas lá foi ele com fé e vontade.
- Num é que ele conseguiu descer o morrão inteiro. Ele desceu no maior gás, esquecendo que depois tinha a subida nervosa, pouco espaço e uma parede. Meu a velô do cara foi tanta que ele fez da subida uma rampa. A bike decolou e adivinha onde que parou, na muretinha. Arrepiou a roda da frente e lá foi ele feito o super homem por cima do guidão.
- Voou uns quatro ou cinco metros e caiu de cara no chão. Ficou todo arregaçado, cara esfolada, olho roxo, joelho e cotovelo sangrando. Mas feliz que tinha conseguido descer e nem tinha quebrado a bicicleta, que era da mãe.
- Voltamos para a nossa rua, e ele ao chegar foi rodeado por um bando de moleque que queria saber o que tinha acontecido. Meu o cara contou a história inteira, depois que acabou falou.
- Mas ainda bem que não aconteceu nada com a....
PPPPOOOOFFFFF!!!!!!!!
- Estourou o pneu dianteiro da bicicleta. Não sei como, mas depois de muito tempo é que o pneu estourou. A molecada, começou a rachar o bico, e ele ficou com uma cara de bunda tão grande que sumiu. Parou até de andar com a gente.
Parece brincadeira, mais a rachação de bico de tempos atrás invadiu o tempo e o espaço, tomando conta de todos que estavam ali na festa do Zé. Porém, ninguém havia percebido uma coisa. O doidão da Caloi Ceci havia reaparecido e estava num canto isolado só observando todos darem risada do fato que aconteceu com ele. Devagar, sem ser notado, deu meia volta e se retirou, já estava quase chegando no portão da sua casa e ainda escutava as gargalhadas de todos na festa, quando teve uma idéia. Iria se vingar, queria desforra.
Voltou para festa e ainda escutando as gargalhadas se dirigiu até o Zé e o cumprimentou, todos ficaram pasmos. Ninguém ali imaginava que ele estaria presente na festa.
- Essa história foi bem louca Zé. Mas agora que todos estão compenetrados e com esse ar de nostalgia vamos dar seqüência. Deixa eu contar uma história sua que garanto que também foi chapada como essa.
- Esse meu camarada aqui, o Zé, era uma figura, num media conseqüências, assim como eu não medi no dia que desci aquele Calipal a milhão com a Caloi Ceci da minha mãe.
- A gente tinha moto, e aqueles que não tinha andava na garupa dos outros pra sair de rolé. O point da rapaziada era a casa do Zé, então era uma movuca generalizada. Neguinho chegava e saia a todo momento, a rua era movimentada que nem avenida. Nesse entra e sai de motoca, sempre todos davam uma entradinha na garagem da casa do Zé que sempre ficava aberta, parecia estar convidando todo mundo. Então a mulecada não dava boi e logo se enfiava no quintal, acelerando, buzinando, enfim atormentando a vizinhança.
- Mas como nosso camarada aqui ia ganhar essa disputa, né Zé. Você resolveu colocar a moto no cavalete. Colocou primeira... acelerou até o talo, segunda... acelerou até o talo, terceira... continuou acelerando. A roda traseira da sua moto estava numa baita velocidade e você, louco como sempre resolveu sentar no banco.
- Foi a conta... ainda com a mão travada no acelerador você sentou. Fez com que o pneu traseiro toca-se o chão e a moto saiu numa velocidade absurda dentro da sua garagem. Claro que não tinha direção, ou melhor, tinha direção sim né Zé. Aliás precisa, acertou a torneira logo na primeira batida na parede, a mão continuou travada e assim você deu mais uma três ou quatro porradas com a moto na torneira estourando o cano.
- Meu voou água para tudo quanto foi lado, e você Zé, se molhou inteiro e ainda teve que dar uma rapa de explicações pra sua mãe, que ficou puta da vida com o prejuízo que você tinha causado.
Pronto... Isso era o que faltava... A galera já tava meio doida por causa do goró e lembrando desse fato, destruiu de dar risada. Foi uma festa de arromba e estamos doidos pra chegar no ano que vem e comemorar pela décima primeira vez o aniversário que a cada ano arma o maior Banzé na casa do Zé.