Marineusa e suas flores

Marineusa recebeu de presente do maridão um cartão de crédito de uma floricultura para poder enviar flores para os amigos em ocasiões especiais. Ela guardou o cartão na gaveta da escrivaninha. Certo dia ao recolher a correspondência - que fique bem claro, ela jamais violou a correspondência do maridão pois não achava de bom tom fazer isso, mas... – um dos extratos era da floricultura. Esse ela resolveu abrir: era conta da entrega de flores. Ela não enviara ou recebera flores, que estória seria essa? O marido estava viajando e quando retornou Marineusa foi apanhá-lo no aeroporto com o extrato da floricultura nas mãos. Ele respondeu que não sabia de nada, que era engano da floricultura e que no dia seguinte tudo seria resolvido. Só que no dia seguinte, ela ligou para a floricultura e a entrega das flores fora feita dias antes. Aí o maridão lembrou: ah foi no dia da secretária. Marineusa até hoje não sabe porque ela não fez secretariado, porque o maridão gosta do ramo. Marineusa não teve duvidas, passou a mão no telefone e ligou para a floricultura e encomendou rosas colombianas grandes e vermelhas. Queria um buquet todas as semanas. A primeira entrega foi muito singela para os padrões de Marineusa, apenas uma dúzia de rosas e muito mato verde, não era bem isso que ela desejava, pois mato ela já tem no seu jardim. O que ela desejava era fartura e passou a receber duas dúzias de rosas vermelhas colombianas por semana. Na primeira semana, ela colocou as rosas na sala de jantar para o marido notar, só que ele não notou. Na semana seguinte, a dona da floricultura ligou para saber se ela não desejava receber outras flores para alternar com as rosas colombianas, pois aquelas duram quinze dias. Ela não concordou, ela queria rosas colombianas vermelhas! Quinze dias depois, na casa de Marineusa, não havia mais vasos para colocar tantas rosas e ela passou a colocar as rosas no balde de vinho, nos vidros que decoravam a sala intima, no balde da cozinha, na varanda, churrasqueira, sala de TV, banheiro, lavabo, quartos, não tinha mais onde colocar as rosas colombianas. Ela ligou para a floricultura e encomendou, junto com as rosas, que a floricultura enviasse mais vasos de cristal. Dois meses depois, a casa já cheirava a velório. Ela presenteou os amigos, fez tanto espalhafato que estava começando a se cansar. Foi aí que chegou a conta, e o maridão indignado com o tamanho da conta, mas não reclamou, verdade seja dita. Eram tantas rosas que ela passou a jogar as pétalas no jardim, para adubar as plantas e hoje ela cultiva, no jardim, rosas vermelhas e as rosas chamam atenção pela sua beleza. Mas isso não é auto punição. É só um lembrete: que a Marineusa perdoa mas não esquece.