A vizinha.
Era noite de não sei que data em algum determinado horário que se podia já chamar de madrugada. Fiz o mesmo caminho, as mesmas preces. O mesmo !
A música era alta o que não era novidade. As luzes eram vibrantes e de todas as cores. O lugar pequeno com muita gente. Muita gente num lugar pequeno. E assim ela tropeça em mim ou eu tropeço nela. Só sei que nossos olhares se cruzaram num pedido de desculpas mútuo e , ao mesmo tempo, num interesse idem. À principio, apenas da minha parte. “Vais e voltas” ! Olhares, olhares, meio tom de sorriso. “Vais e voltas” . Olhares. Mais perto.
Um toque. Ela para. Apertamos a mãos. Trocamos informações e procuramos um lugar onde a música estivesse menos alta, onde a luz estive menos vibrante e mais estática.
Estamos frente a frente, ainda trocando pequenas e breves informações. As mais rápidas para se saber em quem tropeçamos. Silêncio. Só nosso , porque a música continua. Vontade do beijo. Mais alguns instantes e acontece. É de vontade, com adaptações de praxe de quando se beija a boca desconhecida.
Saímos daquele lugar pequeno com muita gente, de luzes vibrantes e música alta. Agora nos víamos melhor. Nos apreciávamos melhor. Nos queríamos mais. Um caminho longo separava nossa vontade da realização. Enquanto isso, mais informações em meio a desinformações.
É louca atitude de dois. É louca a vontade de apenas dois. Mas de louco, todos nós temos ou nos fazemos um pouco. Completo que toda loucura engorda, mas com moderação e cuidados, sacia.
Chegamos com recepção calorosa e curiosa. Entramos . Era ali onde mais vezes encontraria aquela pessoa que até horas atrás era desconhecida.
Ali, sem luzes altas e música vibrante nos abraçamos melhor, nos beijamos melhor e nos sentimos melhor.
Informações, fotos e coincidências. Descubro que ela é a “vizinha” . De Nelson Rodrigues. Ó minha Nossa Senhora dos Afogados. Já havia visto, mas não percebido. Agora tenho aquela vizinha caricata entre meus braços.
É quase completo o jogo de abraços, beijos, carinhos, palavras diminutivas e aumentativas. Quase!
Acho que me apaixonei pela "vizinha" de Nelson Rodrigues . Ó minha nossa senhora dos afogados!
Deitada sobre meu peito após momentos de carinho, ela levanta a cabeça e olha nos meus olhos profundamente. Ó vizinha . É pré-paixão!
Se é solteira, viúva ou enamorada, eu não sei. É devassa e carinhosa. É esperta, é poderosa. De pele alva, também é vaidosa. Ó vizinha!
Tem olhar de querer. Nos mesmos olhos, prazer. Ó vizinha! Completa-me. Deita-te sobre meu tronco e dorme. Tenho que ir! Voltaremos a nos ver.
Saudade.Vontade. Foi rápido. É pré-paixão. Se é que isto existe. Foi Nelson Rodrigues quem contribui para tal agouro! Tenho que ir. Quero vê-la novamente. E assim meu desejo se realiza!
Era tarde de domingo de um dia qualquer, antes do sol pensar em se por....
Gabriel D´Nasc ®
25/04/2010 13:17