Sr. Jean Marie e Dona Blanche
Sr. Jean Marie francês? Ele era de boa cepa, charmoso, educado, trabalhou a vida inteira no metrô; morava em uma casa de metroviário no subúrbio e era de origem simples, mas amava as artes. Sempre que podia dava uma passadinha nos achados e perdidos da estação de metrô. O que procurava? Livros, revistas. Lia tudo o que encontrava. Outra paixão do Sr. Jean Marie era cinema. Sua casa era enfeitada com pôsteres de artistas famosas. Amava a sétima arte. Quando recebia seu salário de metroviário, o Sr. Jean Marie separava o dinheiro para o cinema. Isso era sagrado. E o resto do dinheiro era entrega para dona Blanche. Uma vez por mês, toda a família ia ao cinema. Sua mulher, Blanche, era costureira das boas, fazia de tudo; de vestido de noiva a lençóis e cortinas, camisas, roupas femininas em geral. Seu talhe era famoso no subúrbio onde moravam. Quando chegava uma freguesa querendo cortinas ou lençóis, dona Blanche não recusava serviço. Somando o que ele recebia mais o que faturava dona Blanche com suas cortinas, dava para viver com dignidade. Ela também gostava de cinema e, uma vez por mês, todos usavam roupas novas para ir ao cinema. Tiveram quatro filhos e todos os quatro filhos, três meninas e um menino receberam nomes de artistas famosos por conta da paixão de seus pais por literatura e sétima arte. Jean Marie e Blanche não nasceram na França. Suas famílias eram de pessoas bem informadas sobre a cultura francesa. Os pais de Jean Marie trabalharam anos na casa de uma família tradicional e viajaram várias vezes, como serviçais, com os patrões para a Europa. Branche era prima em segundo grau de Jean Marie, seus pais não trabalhavam com pessoas de alto nível, mas aprenderam com os pais de Jean Marie boas maneiras e sabedoria regular. O casal criou os filhos com nomes de astros de cinema para não fazerem feio. Estudavam, iam ao cinema, igreja e a medida que ganhavam asas, saiam da casa dos pais para estudar e trabalhar. Todos foram bem sucedidos. Scarlet casou com um professor universitário. Ingrid não casou, mas escrevia cartas contando seus progressos na arte dramática, E Sandra Dee contava os seus progressos na dança. Richard era professor de faculdade. O curioso é que com tanto progresso nunca apareceram para visitar os pais. Já estava perto de dez anos que saíram de casa, um após o outro. Não voltaram nem quando dona Blanche faleceu. Após o funeral, onde o senhor Jean Marie explicou a ausência dos filhos tão ocupados, ele voltou para casa onde encontrou uma lata de achocolatados com as economias que o casal fez para visitar os filhos. Contou o dinheiro, chorou a morte da sua fiel companheira de luta e decidiu, vou ver meus filhos. Telegrafou para Scarlet avisado que estava a caminho. Comprou passagem de ônibus e foi. Durante a viagem foi conversando com seus companheiros e mostrando as fotografias de sua linda família e não escondia seu orgulho dos filhos tão bem sucedidos. Chegou na cidade depois de vinte e quatro horas de viagem e não encontrou Scarlet à sua espera. Pegou um taxi e foi para o endereço da filha, esperando encontrar uma bela casa em um bairro bonito, ajardinado e arborizado. De bonito, o bairro não tinha nada. Na casa antiga encontrou só o neto que não conhecia o avô e contava sete anos, mas sabia tudo sobre o avô e contou das dificuldades da família. Sua mãe dava aula numa escola pública e o papai era vendedor de móveis planejados. Disse que quem sustentava a casa era a mamãe porque o papai não tinha salário fixo, só comissões. O menino era muito inteligente e educado. Na hora do almoço, o menino esquentou a refeição, serviu o avô, disse que à tarde ficava na escola e ia sempre sozinho. O avô perguntou pela tia Ingrid, a que fazia teatro. O menino apanhou uma agenda e entregou para o avô. Lá estavam anotados todos os endereços e telefones. Ele não telefonou, deixou o neto da escola, e foi, conforme recomendação do neto, de ônibus até o centro, e lá pegou um taxi. Ingrid não se encontrava em casa. Ele perguntou para vizinha onde encontrá-la. A vizinha, mal encarada, lhe entregou a chave do apartamento onde ele foi esperar pela filha. Quando ele entrou na sala um bebê estava assistindo televisão num volume muito alto. Sr. Jean Marie desligou o aparelho e o bebê chorou. É que o bebê estava acostumado a ter como companhia a TV e a vizinha tomava conta dele à distancia. Final da tarde, Ingrid chegou e ficou vexada. O pai lavara as roupas acumuladas, limpou a pia, fogão e o chão. Não pediu explicações. Na boca da noite voltou para a casa de Scarlet e jantou com a filha, o marido e o neto. Também não pediu e não teve explicações. No dia seguinte, ele deixou o neto da escola, e rumou para a casa de Richard (o professor Richard). Não encontrou o filho, a nora que era muito simpática e era manicure de barbearia, avisou que o marido saira cedo para fazer uma venda de tapetes. Ele era vendedor de carpete. Da casa do filho esticou até a casa de Sandra Dee, já sabendo o que esperar, ou por outra, o que não esperar. Sandra Dee estava casada com um rapaz muito bom, bancário e fazia faculdade à noite. E ela era bilheteira em um teatro mambembe no centro. Ele acompanhou a Sandra Dee até o teatro mambembe e não conheceu o genro bancário. Dia seguinte ele reuniu os filhos e familiares em uma pizzaria do subúrbio para festejar o reencontro e aproveitou para se despedir, pois a vida segue. E os filhos estavam realizados, casa qual com a vida que escolhera.
Sr. Jean Marie francês? Ele era de boa cepa, charmoso, educado, trabalhou a vida inteira no metrô; morava em uma casa de metroviário no subúrbio e era de origem simples, mas amava as artes. Sempre que podia dava uma passadinha nos achados e perdidos da estação de metrô. O que procurava? Livros, revistas. Lia tudo o que encontrava. Outra paixão do Sr. Jean Marie era cinema. Sua casa era enfeitada com pôsteres de artistas famosas. Amava a sétima arte. Quando recebia seu salário de metroviário, o Sr. Jean Marie separava o dinheiro para o cinema. Isso era sagrado. E o resto do dinheiro era entrega para dona Blanche. Uma vez por mês, toda a família ia ao cinema. Sua mulher, Blanche, era costureira das boas, fazia de tudo; de vestido de noiva a lençóis e cortinas, camisas, roupas femininas em geral. Seu talhe era famoso no subúrbio onde moravam. Quando chegava uma freguesa querendo cortinas ou lençóis, dona Blanche não recusava serviço. Somando o que ele recebia mais o que faturava dona Blanche com suas cortinas, dava para viver com dignidade. Ela também gostava de cinema e, uma vez por mês, todos usavam roupas novas para ir ao cinema. Tiveram quatro filhos e todos os quatro filhos, três meninas e um menino receberam nomes de artistas famosos por conta da paixão de seus pais por literatura e sétima arte. Jean Marie e Blanche não nasceram na França. Suas famílias eram de pessoas bem informadas sobre a cultura francesa. Os pais de Jean Marie trabalharam anos na casa de uma família tradicional e viajaram várias vezes, como serviçais, com os patrões para a Europa. Branche era prima em segundo grau de Jean Marie, seus pais não trabalhavam com pessoas de alto nível, mas aprenderam com os pais de Jean Marie boas maneiras e sabedoria regular. O casal criou os filhos com nomes de astros de cinema para não fazerem feio. Estudavam, iam ao cinema, igreja e a medida que ganhavam asas, saiam da casa dos pais para estudar e trabalhar. Todos foram bem sucedidos. Scarlet casou com um professor universitário. Ingrid não casou, mas escrevia cartas contando seus progressos na arte dramática, E Sandra Dee contava os seus progressos na dança. Richard era professor de faculdade. O curioso é que com tanto progresso nunca apareceram para visitar os pais. Já estava perto de dez anos que saíram de casa, um após o outro. Não voltaram nem quando dona Blanche faleceu. Após o funeral, onde o senhor Jean Marie explicou a ausência dos filhos tão ocupados, ele voltou para casa onde encontrou uma lata de achocolatados com as economias que o casal fez para visitar os filhos. Contou o dinheiro, chorou a morte da sua fiel companheira de luta e decidiu, vou ver meus filhos. Telegrafou para Scarlet avisado que estava a caminho. Comprou passagem de ônibus e foi. Durante a viagem foi conversando com seus companheiros e mostrando as fotografias de sua linda família e não escondia seu orgulho dos filhos tão bem sucedidos. Chegou na cidade depois de vinte e quatro horas de viagem e não encontrou Scarlet à sua espera. Pegou um taxi e foi para o endereço da filha, esperando encontrar uma bela casa em um bairro bonito, ajardinado e arborizado. De bonito, o bairro não tinha nada. Na casa antiga encontrou só o neto que não conhecia o avô e contava sete anos, mas sabia tudo sobre o avô e contou das dificuldades da família. Sua mãe dava aula numa escola pública e o papai era vendedor de móveis planejados. Disse que quem sustentava a casa era a mamãe porque o papai não tinha salário fixo, só comissões. O menino era muito inteligente e educado. Na hora do almoço, o menino esquentou a refeição, serviu o avô, disse que à tarde ficava na escola e ia sempre sozinho. O avô perguntou pela tia Ingrid, a que fazia teatro. O menino apanhou uma agenda e entregou para o avô. Lá estavam anotados todos os endereços e telefones. Ele não telefonou, deixou o neto da escola, e foi, conforme recomendação do neto, de ônibus até o centro, e lá pegou um taxi. Ingrid não se encontrava em casa. Ele perguntou para vizinha onde encontrá-la. A vizinha, mal encarada, lhe entregou a chave do apartamento onde ele foi esperar pela filha. Quando ele entrou na sala um bebê estava assistindo televisão num volume muito alto. Sr. Jean Marie desligou o aparelho e o bebê chorou. É que o bebê estava acostumado a ter como companhia a TV e a vizinha tomava conta dele à distancia. Final da tarde, Ingrid chegou e ficou vexada. O pai lavara as roupas acumuladas, limpou a pia, fogão e o chão. Não pediu explicações. Na boca da noite voltou para a casa de Scarlet e jantou com a filha, o marido e o neto. Também não pediu e não teve explicações. No dia seguinte, ele deixou o neto da escola, e rumou para a casa de Richard (o professor Richard). Não encontrou o filho, a nora que era muito simpática e era manicure de barbearia, avisou que o marido saira cedo para fazer uma venda de tapetes. Ele era vendedor de carpete. Da casa do filho esticou até a casa de Sandra Dee, já sabendo o que esperar, ou por outra, o que não esperar. Sandra Dee estava casada com um rapaz muito bom, bancário e fazia faculdade à noite. E ela era bilheteira em um teatro mambembe no centro. Ele acompanhou a Sandra Dee até o teatro mambembe e não conheceu o genro bancário. Dia seguinte ele reuniu os filhos e familiares em uma pizzaria do subúrbio para festejar o reencontro e aproveitou para se despedir, pois a vida segue. E os filhos estavam realizados, casa qual com a vida que escolhera.