Couroupita guianensis
Existe no fim daquele campo, onde os lírios nascem e morrem todos os dias, onde as abelhas voam sozinhas, lá existe uma árvore. Esta árvore é bonita, tem uma copa jovem, um caule bastante resistente, que se dobra com as chuvas, mas não se quebra. Essa árvore fica ali, sozinha, quieta. As vezes ela dá flores lindas, de uma cor rara. Só que ninguém passa por aquele pedaço do caminho, então a árvore fica ali, florindo sozinha. A árvore é muito forte, suporta muitos ventos, mas a árvore não gosta de estar sozinha naquele campo, é grande demais, é frio demais as vezes, é solitário demais. A árvore sabe que existe ali perto muita vida. Tem grama verde, tem umas abelhas que quando estão com fome, pousam em suas flores. Só que ninguém vê a cor das flores, seu perfume até é sentido, mas ninguém repara nas pequenas manchinhas amarelas das pétalas de suas flores. As abelhas só vem o nectar, só aparecem para matar a fome, e raramente notam a árvore.
O que a árvore queria mesmo, era alguém que colhesse algumas flores, um apaixonado que levasse a amada um belo ramalhete, ou uma senhora que com seu capricho arrumasse um belo vaso em sua sala. O que a árvore queria, era um poeta, que cantasse sua beleza em verso e prosa, ou mesmo um simples andarilho, que sentasse em sua sombra, e notasse o quanto sua cor é rara, e o quanto ela se esforça todos os dias para se manter firme, para florir apesar da distância e da solidão.
Pobre árvore, pobre criatura. Segue a vida sozinha, esperando. As vezes não quer florir, as vezes não quer nem mesmo suportar as chuvas, as vezes quer só existir simplesmente. Mas a árvore sabe que não pode, ela foi feita pra dar flores, independente de ter ou não quem delas se enfeite...