O SUTIÃ

Na sua essência, o sutiã tem a tarefa de sustentar os seios. Mas, nem sempre foi assim ao longo da sua história. Pode-se dizer que o sutiã é um descendente do espartilho. Este, sim, parecia uma prisão. O espartilho, ou Corselete, surgiu no século 16, auge da Renascença, e tinha a função ingrata de corrigir a postura do tronco e segurar os seios. Só que essa missão era realizada à dura custa do sofrimento feminino. Os espartilhos pareciam mais uma camisa de força, um calabouço íntimo.

Com o passar do tempo, foram desenvolvidos espartilhos, digamos, mais sensíveis à silhueta feminina, o que não impediu o surgimento e a difusão do seu filho mais nobre, o sutiã. Na verdade, essa peça existiu desde sempre. Remonta a 2.000 a.C. quando, na ilha grega de Creta, as mulheres amarravam os seios com tiras de pano. Seguindo a mesma linha, as romanas usavam uma faixa para diminuir o volume dos seios.

A primeira versão mais próxima do que se conhece hoje desse suporte para as mamas veio da cabeça de uma norte-americana, mais especificamente uma nova-iorquina. Mary Jacob era rebelde por natureza e, como toda rebelde que se preze, não aceitava amarras. Isso também se aplicou ao sutiã. Revoltada com o espartilho, ela desenvolveu um porta-seios usando dois lenços, uma fita cor-de-rosa e um cordão. Fez tanto sucesso entre as amigas que passou a confeccioná-los para comercialização. Em seguida, vendeu a patente do produto para a Warner Bros. A partir daí, sutiã passou a ser sinônimo de charme e sedução com o seu desenvolvimento mercadológico.

A cada ano novos modelos eram lançados para possibilitar às mulheres desafiarem a lei da gravidade em grande estilo. Além do universo da moda, o sutiã também foi símbolo de protesto nos anos 60. Revoltadas com a opressão masculina, feministas ensaiaram queimar as peças durante o concurso Miss America, em setembro de 68. As ativistas não aceitavam a imposição do ideal de beleza e da exploração comercial da figura da mulher. Imaginem o que elas não fariam hoje!

Atualmente, o sutiã é não só uma peça indispensável no vestuário feminino como também é a ela que cabe ditar as últimas tendências do mercado de lingeries. De tão desenvolvido e popularizado, o sutiã hoje saiu debaixo da blusa e tornou-se até peça para ser usada como roupa de cima. Estilo é assim. Gosta-se e adota-se. E foi um sutiã assim, bem estiloso, diferente, que estava no porta-luvas do carro de Alfredo. Quem achou foi a mulher dele. E não era dela. Era dele!