Ágata

O céu ainda nublado insinuava que estava por vir uma chuva ainda mais forte que a anterior. Ágata parecia não se importar com isso e seus pés descalços chapinhavam nas poças enquanto abordava os transeuntes.

"Leio sua sorte! Seu futuro está em suas mãos!"

E assim passava os dias, vestida em sua saia indiana muito gasta, a cada dia em um canto diferente da cidade vendendo as mesmas ilusões para aqueles que passavam, para aqueles rostos anônimos que nunca veria duas vezes em sua vida. Com destinos inventados e vidas que se cruzavam a partir de linhas, que se ligavam por fios invisíveis.

Mãos calejadas, peles mais finas, cicatrizes, esmaltes, anéis. Isso tudo lhe dizia mais sobre as pessoas que abordava do que as próprias linhas, que para ela não tinham significado algum. Sim, ela era uma farsa, Ágata nem mesmo era seu nome verdadeiro pois quem levaria a sério uma cigana que se chama Berenice? Apesar de ser uma farsa, gostava do que fazia. Tinha consciência de que poderia conseguir um emprego de verdade e ganhar mais dinheiro ou até mesmo ser respeitada, mas gostava de pensar que levava alguma esperança para as pessoas que acreditavam no futuro. Dinheiro, saúde, amor; ela via apenas o que se quisesse ouvir e isso estava estampado no rosto, nunca nas mãos.