Anjos sorrateiros...



A Moça chegou quieta. Cabelos encaracolados, louros, compridos até à cintura. Olhos azuis, desbotados. Rosto pálido, sem pintura. De calça legue preta, blusa decotada, agarrada ao corpo, mostrando, inadvertidamente, parte rasgada da calcinha vermelha. Sentou-se com a filha nos braços, ao meu lado. Na hora da homilia, o padre perguntou quais seriam os demônios que nos atormentavam nos dias de hoje, e ela referiu-se rapidamente, à precariedade do sistema carcerário brasileiro. A filha, de uns três anos- olhos lânguidos, melancólicos-- não se movia, agarrada à mãe. Como se temesse algo. Dificilmente, uma criança daquela idade se comportaria daquela maneira. Chamou a atenção pela beleza angelical e pelo silêncio. Contida. Imobilizada. A mãe parecia derramar todo o sangue de suas chagas , no mármore frio do Santuário. À hora da comunhão, jogou-se ao chão em frente ao altar e ficou com a filha nos braços, demoradamente, em profunda comunhão com Deus! As lágrimas saltaram de meus olhos. Maria Madalena estava ali. Ela enxugou os pés do Mestre com seus longos cabelos. Pegou uma rosa branca da corbelha, entregou à filha e saiu. Ficou a presença de Jesus em mim.


Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 11/04/2010
Reeditado em 11/04/2010
Código do texto: T2189956
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