O Calçamento não Estava pra Peixe ( Celismando Sodré- Mandinho)

O Calçamento Não Estava Pra Peixe

( Celismando Sodré Farias - Mandinho)

Gostava muito de pescaria e toda vez que ia tinha que levar o “combustível”, outro nome que é dado para a danada da cachaça. Aliás, é de longe a bebida que tem mais sinônimos no mundo, em cada região e lugar aparece uma designação diferente para a danada.

Cita-se aqui apenas alguns nomes conhecidas só aqui na região para exemplificar: pinga, cana, fubuia, fofa olho, marvada, mé , a que matou o guarda, etc. voltando ao pescador, um sujeito prestativo e de bom coração, só que ele tinha uma teoria alimentar não comprovado cientificamente: achava que uma pessoa tinha condições de sobreviver só tomando pinga e água sem alimentação, e para provar fazia periodicamente essas experiências. Acontece que essas experiências sempre terminavam em alucinações e foi o que aconteceu também dessa vez.

Foi muito estranho para as pessoas que passavam, quando viram ele chegar com uma tarrafa e as redes de pesca e começar a armar essas redes em plena avenida calçada com paralelepípedos, ele realizando essa tarefa e as pessoas passavam e não podiam dizer nada. Alguns esboçavam um sorriso disfarçadamente, porém com todo o cuidado para que ele nãp percebesse a ironia, já que nesse estado era de uma brutalidade sem igual. Terminou de armar as redes na rua e pegou a tarrafa e começou a jogar em pleno calçamento, jamais foi visto labuta tão inglória e infrutífera.

Essa labuta já durava alguns minutos, quando um gaiato passou e bem de longe gritou: “o que tu pegar aí eu asso no dedo”, ainda quis correr atrás do infeliz que percebendo a gravidade da situação disparou para não ser alcançado, um outro gozador cochichava no ouvido do colega bem baixinho e com todo o cuidado: “só saio daqui quando pegar algum peixe”, o outro mais gozador ainda, respondeu; “esse milagre só o Mestre Jesus que multiplicou os peixes lá na Galiléia”.

Na rua, já havia um certo números de curiosos para ver se o milagre acontecia, mas não tinha movimento de carro até que apareceu um viajante que foi se aproximando e achando aquilo muito estranho, quando quis passar recebeu a maior bronca da sua vida dada pelo pescador: “desvia... Desvia logo esse carro rapaz! Não ta vendo que estou pescando, quer rasgar minhas redes” , o sujeito precavido, compreendeu logo a situação e caiu fora pela outra rua. Enquanto isso a tarrafa continuava a chiar no calçamento: chuaaaá... chuaaaaá... e nada de peixe nem na tarrafa e nem nas redes e todos alí como no título daquele famoso filme “A Espera de um Milagre”.

De repente, já cansado da pescaria e para decepção dos que gostam de algazarra, começou a recolher as redes sem dizer nada, as pessoas olhando o fim de mais uma pescaria, dobrou e colocou a tarrafa e as redes em um saco e partiu para sua casa para guarda-los e por lá mesmo dormiu de cansaço. A maioria dos pinguços que assistiram a cena, foram para os bares, comentando sobre os malefícios das bebidas alcoólicas, cada um com uma dose no copo, é claro.

Obs: Estará no próximo livro: Fragmentos Filosóficos e Outra Histórias:

Tel: 74-36541616

MANDINHO
Enviado por MANDINHO em 09/04/2010
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