A Cobra Coral (Celismando Sodré-Mandinho)
A Cobra Coral
(Celismando Sodré - Mandinho)
Acordou ainda tonto, o corpo todo trêmulo, principalmente as mãos que necessitava urgentemente de uma dose para “equilibrar os nervos”, como dizem no idioma do “cachacês”. Foi no armário da sala, caminhando tenso e duro igual a um robô ou feito um equilibrista de circo como se estivesse numa corda bamba, na esperança que tivesse sobrado um pouco daquela garrafa que estava consumindo junto com “os colegas de copo e de cruz” segundo a letra da música do grande Chico Buarque (outro grande chutador, se é que vocês me entendem). Imagine a grande decepção quando encontra a garrafa completamente vazia.
Voltou ao quarto para vestir uma roupa e só naquele momento percebeu que estava completamente nu, a porta estava aberta e já era de dia. De repente olha na beira da cama, arregala os olhos contendo o grito de medo que ficou engasgado ao ver aquela imensa e grossa cobra coral, o susto foi tão grande que ele criou equilíbrio e agilidade na hora!!! partiu igual um foguete para o quintal para onde havia alguns cabos de vassouras e se incumbiu de matar o perigoso e venenoso réptil. Sentou a vara pra dentro, quebrou um cabo e foi buscar outro e depois outro que logo quebrou também, pegou a vassoura nova da mãe e tome lhe vara nessa cobra coral.
Na casa da vizinha sua paciente e compreensiva mãe, ouviu o barulho daquele reboliço do outro lado da parede em sua casa e correu para ver o que estava acontecendo. Ao chegar, se deparou com aquela cena hilária para quem está de fora do problema e de grande sofrimento para ela e seu imenso coração de mãe. O filho de vassoura enfiada na cobra coral, já tinha estragado seu instrumento de limpeza, compreensivelmente, correu e abraçou o filho tentando acalma-lo gritando: “ já matou filho... não está vendo que já matou a cobra coral, agora tenha calma”. Ele se acalmou e foi tomar um banho. Calmamente, ele pegou o meião do Flamengo, todo rasgado a paulada, e foi dependura-lo no varal, pensando se ainda tinha um jeito de costura-lo.
Neste mesmo dia, saiu de casa coma certeza de que tinha realizado uma proeza, ter matado uma cobra coral, no primeiro boteco que encontrou parou para relatar a ato heróico e “ tirar a macacoa” que no idioma do “cachacês” significa beber uma pinga para aprumar as idéias.
Encontrou com um colega que lhe deu a notícia da vitória do São Paulo sobre o Corinthians, como era São Paulino roxo ficou muito contente, voltou e vestiu a camisa do seu clube do coração e subiu a rua que dava acesso a praça da feira, era dia de feira livre na cidade. Passou na frente de uma loja e estava lá, um sujeito estático e com cara de idiota vestido com a camisa do corinthians, pensou com seus botões: “como é que pode, o time dele leva uma surra do meu e ele fica lá parado, botando banca com aquele camisa”, pensou em tirar uma onda com o sujeito que estava parado igual um boneco e disse: “e aí cara... que tal a surra de ontem, teu time não é de nada! “ e tocou no ombro do sujeito com uma certa força, acontece que esse girou e bateu com a mesma força no seu ombro; ele revidou e bateu mais forte e o outro também revidou mais forte ainda e os dois embolaram no chão numa briga violenta.
A turma do deixa disso, achando aquela situação a mais estranha e inusitada como jamais tinham visto, entraram imediatamente para separar sua briga com um manequim de loja. Foi a primeira vez que alguém brigou com um manequim e apanhou feio. A dificuldade foi para explicar para ele que aquele sujeito atrevido não era gente de verdade.
Obs: Esse conto, baseado numa história real, estará no próximo livro: Fragmentos Filosóficos e Outras Histórias.