Marineusa e sua ONU familiar
Marineusa é louca por uma viagem, não pode ver uma avião que fica extasiada. O seu maior orgulho é dizer que tem uma ONU familiar. Ela casou com um descendente de árabe, os avós do marido eram oriundos do Líbano. Marineusa é SRD – sem raça definida – e por conta desse detalhe ela cultiva as raízes do marido. Nem todas, bem entendido. Seu filho é paranaense, casou em Delft, na Holanda, com uma moça oriunda de Brasov, Romênia, e o casal tem uma filha nascida em Delft, na Holanda, mas registrada no consulado brasileiro e romeno, porque na Holanda só os filhos de pai e mãe holandeses têm direito à nacionalidade. A neta de Marineusa é brasileira-romena. E o casal tem um filho que é catarinense. A filha de Marineusa é paranaense e casou com um rapaz catarinense, descendente de portugueses e franceses, e as filhas do casal, são rondonienses. A filha americana de Marineusa, nasceu em Santa Catarina, mora nos Estados Unidos e vai se casar um rapaz de Dublin, na Irlanda. Pois Marineusa juntou a sua ONU familiar e foram para a Europa. Segundo Marineusa, foi a primeira vez dela em excursão na vida. Na Holanda encontraram os parentes da nora que são de Berna, Suíça, mas os parentes de Brasov, Romênia. E seguiram para Paris, foram até na Eurodisney. Foi divertidíssimo, mas o que ficou na estória foi uma passeio que a família extendida fez ao Marais. Depois de visitar os museus, eles seguiram até a casa onde morou Victor Hugo. Marineusa ama Paris e Marais. E Paris, Marais amam Marineusa. E seu sonho de consumo sempre sonhou com um estúdio no Marais. Passeando pelos arcos na praça de Vosger, onde morou Victor Hugo, Marineusa encontrou uma loja de chapéus e queria comprar um chapéu muito bonitinho, mas o marido castrador não deixou, alegando que não estava a fim de carregar pacote. E Marineusa foi ficando inticada. Logo adiante ela entrou numa loja onde vendiam bengalas de castão de prata. Ela escolheu três modelos, o marido não deixou ela comprar. Lá pelas tantas todos foram fazer um lanche e a Marineusa pensou: essa gente come demais! O filho de Marineusa lembrou de uma casa de chá com uma loja de variedades anexa. Marineusa muito animada, é pra lá que eu vou! E lá chegando, todos sentaram em volta das mesinhas de quatro lugares. Como eram muitos, não sobrou lugar para Marineusa e como ela não queria mesmo, ela foi cheretear as novidades. Porque ela fareja e acabou encontrando um serviço de porcelana para chá do mais puro estilo provençal. Não resistiu e não pediu para o marido comprar, porque ela sabia que ele ia se encolher. Marineusa comprou o serviço de porcelana e mandou fazer a embalagem para viagem longa e volumes pequenos e o resto do passeio, cada um dos integrantes da excursão familiar carregou uma caixinha, sendo que o primo de Berna, comprou na feira das pulgas um vaso, enorme, de Murano, sem embalagem. E a Marineusa foi feliz da vida com suas caixinhas. Só que o marido de Marineusa fechou a cara, mas ela estava vingada. Não comprou o chapéu, não comprou as bengalas, que eram fáceis de transportar. Ela estava feliz e o marido mais infeliz. Mas teve um porem, todos os parentes e contraparentes voltaram para os seus locais de origem e só restou o marido de Marineusa para carregar uma mala, com muito cuidado, contendo todo o serviço de porcelana, que hoje reina absoluto na copa de Marineusa. Pois é, essa é a Marineusa, e o marido ainda não aprendeu, ele pensa que sabe lidar com as extravagâncias da mulher, mas não sabe. Por que ele não comprou o chapeuzinho? Era a linda cabecinha de Marineusa que ia carregar! Mas ele esquece que Marineusa é obstinada e até hoje quando os dois saem para viajar, ele o descendente de árabe fica atormentando a mulher que olha para ele com aquele seu olhar a La Capitu, e ele não aprende, e complica a vida dela, que gosta de arte, vê arte em tudo e faz artes. Esta é a melhor parte de Marineusa.