Nunca havia parado!

Durante anos andei perdido, sem direção.

Não sabia se o que eu fazia era o certo,

Mas tive medo de arriscar,

Tive medo de encarar o que supunha ser a verdade.

Então, decidi continuar na falsa verdade de que a minha vida

Era o que mais me importava.

Lutei? Quem sabe?!

Talvez minha luta fosse o mesmo que nada uns,

Sendo ínfima,

Ou quem sabe, um obstáculo imenso para outros,

Sendo uma barreira impossível de se vencer.

A fraqueza, o medo, o ódio e a angústia

Eram os piores amigos que poderia ter

E mesmo assim os tive,

Mesmo assim pedi para que eles ficassem ao meu lado,

Que não me abandonassem em hipótese alguma.

E mantendo sua palavra, eles ficaram.

Realmente acreditei,

Que com eles, poderia estar:

“Intransponível, forte, capaz de encarar tudo e todos”.

Durante anos segui pensando assim.

Esse foi o meu maior erro.

Menosprezei todos os que estavam a minha volta.

Fiz deles, insignificantes,

Deixando-os mais baixo que o pior ser

Já existente nesse mundo,

Que fatidicamente, chamava de meu.

Eu era o melhor.

Me desesperava pensar que pudesse existir

Alguém superior a mim, alguém que pudesse me superar.

Se alguém assim surgisse

Eu pisava, esmagava, deixava-o ao chão

E se o mesmo viesse a se levantar, eu pisava mais uma vez.

Será que tudo o que fazia era o certo?

Será que aquela pessoa não poderia um dia ser eu?

Será que o respeito era conquistado daquela forma?

No auge da minha loucura, eu era o rei,

No auge da minha insensatez, eu era o certo,

No auge da minha glória, eu estava acima de todos.

Mas meu teto era de vidro

E mesmo assim atirei pedras no telhado alheio.

O castigo foi ilustre.

Estava mais alto que todos

E isso não me adiantou de nada.

A queda foi grande,

No impacto, me dividi em mil.

Cada parte de mim estava espalhada ao chão,

O espelho, em que havia me tornado, se quebrou,

A aparência que julgava manter, se desfez,

O rei já estava destronado!

Aos poucos fui recolhendo meus cacos,

Que durante anos foram parte de um individuo

Seco, audacioso e principalmente estagnado

Em suas próprias vontades e pensar.

Pensei se tudo o que eu havia feito tinha me servido de alguma coisa,

De fato serviram!

Percebi, que depois da queda estava só,

Que todos estavam à minha volta por medo

E não por que eu despertava qualquer sentimento bom,

O respeito, a qual expunha, nunca existiu.

Decidi deixar tudo para trás,

Os cacos, que há tempos me foram importantes, deixei ao chão,

Passaram a ser um amontoado de nada,

Um amontoado de um rei destronado e exilado.

Não me serviram de nada, ou melhor,

Me ajudaram a perceber o quanto fui humano,

Me ajudaram a perceber que acresci nada mais que nada

A todos os que me cercavam.

Destrui sonhos,

Matei amores,

Corrompi os que se julgavam incorrompiveis,

Só para ter o prazer de provar que eles estavam errados de si.

De quê isso me serviu?

Provou uma verdade?

Qual?

Fui falho, julguei-me melhor!

Os cacos ao chão tinham sua importância,

Mas se os levasse comigo eles só alimentariam a minha culpa

E me trariam recordações que não deveriam existir.

Parti em rumo ao sol,

O segui até que não soubesse mais quem eu era,

Mas era quase impossível.

Andei, andei, andei e quando estava cansado

Andava mais e mais.

Os pés já estavam calejados,

A garganta, em desespero, pedia água.

O sol havia sumido, não tinha mais a quem seguir.

Parei e olhei ao céu,

Parei e olhei às estrelas,

Nunca havia parado!

Nunca havia prestado atenção nas belezas

Maiores que existiam na terra.

Queria eu ter visto esta beleza com antecedência,

Queria eu ter tido a oportunidade de assistir a um pôr-do-sol com antecedência.

Queria eu ter sido mais humano quando tive a oportunidade de o ser.

Talvez se a tivesse visto

Seria, com antecedência, o que sou hoje.

Adormeci.

As estrelas acalmaram meu coração e aliviaram a minha alma.

Um novo dia nasceu!

Nunca havia visto o nascer de um novo dia,

Nunca havia sentido uma brisa leve tocar-me a pele,

Senão ventania.

Nunca havia deitado ao chão e

Acordado como se tivesse dormido em nuvem.

Um novo dia nasceu,

Mas deu-se em chuvoso,

Nunca havia me banhado em água de chuva,

Senão em sangue.

Um espírito sulcado havia se despedido

De uma alma seca e amarga.

Fui me reconstruindo aos poucos.

Os cacos, que haviam ficado para trás, não tinham mais tanta importância.

O espaço que eles ocupavam

Foram sendo preenchidos por novos cacos

Que ao longo do caminho fui encontrando.

Vivi durante anos

Com a certeza de que eu deveria viver o resto dos meus dias sozinho,

Recluso, isolado de todos os que eu havia feito mal,

E assim o fiz.

Havia andado tanto,

Que mesmo que eu quisesse voltar não conseguiria.

Conheci um ser em mim que eu não sabia que existia,

Outro eu, que depois da queda, conseguiu fugir da prisão.

Um dualismo que me confundia.

Eu não sabia se eu era eu ou se eu era o outro,

Mas isso não me importava, ambos estavam certos de si,

O que me era confortante.

Habitava um novo ser em mim!

Me inspirei a seguir em frente,

Errei sim!

Mas quem não erra?

Aprendi a perceber as diferenças;

Aprendi a aceitar o outro, mesmo sendo ele cheio de defeitos;

Aprendi a ser eu, independentemente da situação formada ao meu redor.

Sonhava ,

Como nunca havia sonhado,

Cantava,

Como nunca havia cantado,

Tirei a armadura que vestia, deixei-a no chão

E continuei a seguir o sol por onde é que ele fosse.

Percebi que riquezas maiores existiam em mim.

Andei,

Cantei,

Fui, enfim, feliz!

Enfim eu me conheci!

Dsoli

Dsoli
Enviado por Dsoli em 08/04/2010
Reeditado em 06/05/2010
Código do texto: T2184828
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