Poucos com tanto,muitos com pouco*
O sol amanhecia dengoso,dourado abraçando a fa
zenda,onde tudo acordava.Os animais,as pessoas,as árvores.
Todo dia fizesse sol ou chuva,era assim,um cuidava das ver-duras,outro dos gansos e patos,outros dos cavalos.O mais importante
era tirar o leite das vacas, e tamá-lo quentinho na hora.
O dono era meu avô,homem sizudo,sempre apressado e man
dão.Estava sempre de terno e não sei porque era todo branco.Parecia que só tinha um o que não era verdade,pois umas das coisas que ele mais gostava era dos ternos de linho branco,que no final do dia estava todo amassado,e não sei como,todo branco.
Minha voinha,era muito bonita,gostava de festas,e sempre estava prás bandas da cidade.Mais estando na fazenda,andava de cavalo,dava comida aos patos,abria a portinhola,e ficava rindo quan
do eles partiam correndo para o rio.
Eu estava de férias e adorava tudo isso.Passava os dias correndo,deitava na beira do rio e ficava a ver o céu,enquanto o ca
valo sempre ficava olhando a terra,principalmente onde tinha capim.
De repente um dos trabalhadores chegou apressado perto de
mim,e disse que voinho estava me chamando.
Voltei contrariado peguei a rédea de Manga Larga(o nome do
cavalo) e em disparada ,só parei em frente da porta de casa.
Meu avô,mandou que eu fosse a casa de um dos vaqueiros e
procurasse saber o que tinha acontecido,por ele não aparecer para
trabalhar.
Sai apressado feliz por fazer alguma coisa importante,pedido
pelo meu avô.
Demorou um pouco a chegar à casa do vaqueiro,e quando cheguei,me deparei com uma humilde casinha.Diferente da casa grande
que tinha de tudo,aparentemente esta, faltava tudo.
Quando parei e desci do cavalo,o vaqueiro já estava de prontidão esperando às ordens.Depois que disse a que tinha vindo,co
meçou a cair grandes pingos de chuva,desses que cada pingo enche
um pote,e em seguida uma trovoada.Entrei e sentei num banco,espe
rando a chuva passar.A mulher do vaqueiro chegou a sala com uma criança no colo,e disse que estava doentinha,essa a razão da falta
do vaqueiro ao trabalho.Às horas foram passando,e minha barriga foi
ficando oca de comida.
Demorou tanto,que o vaqueiro e a mulher me chamou para sentar com eles à mesa.Sem um pingo de constrangimento,disse que
seria uma honra que o neto de uma pessoa tão boa como meu avô,es
tivesse sentado para comer com eles.Tudo estava limpo,e bem orga
nizado.Quando a dona da casa chegou,só com uma panela,é que vi que o almoço seria só feijão verde(com uns bichinhos pretos)farinha e ovo.A barriga dava voltas de fome ,até que não podendo fazer feio,
nem ser indelicado comecei a comer,e quando terminei fomos para a sala,e como a chuva tivesse passado agradeci o almoço e ia embora
quando o vaqueiro olhou-me e disse bem calmo e digno"quando você chegar
em casa,diga a seu avô que almoçou a melhor comida do mundo,não faltou nada,e está bastante satisfeito".Piscou um olho para mim e deu
adeus.
Voltei para casa,feliz com essa lição,e triste por descobrir um mun
do completamente separado,onde poucos tem tudo,e tantos tão pouco.
Alzira Paiva Tavares
Olinda 05/04/2010