Indignação tardia
Não consegui compreender porque o Jorge demonstrou tanta indignação, com a qualidade do ensino no Colégio Dois de Dezembro. Ficou profundamente irritado e repetia, como se eu não o tivesse ouvido - aquele colégio era uma “merda” e eles nos enganavam dizendo-se lideres do ensino; eram desavergonhados e corruptos...O grande caso é que ele estudou no tal colégio, onde eu também estudei, no admissão, ginasial e científico de 1941 a 1950. Repetia em tom agressivo e patético, com grande ênfase à má qualidade do ensino. Repetia e explicava que nenhum aluno conseguia passar em vestibular, que eu era uma exceção, pois, não podia entrar em conta, por estudar muito, além do que a escola exigia. Evidentemente, ele não atentou para um seu pequeno detalhe - não gostava de estudar e preferia um bom jogo de bola. Agora, 46 anos depois, sua tia explicou-me o drama sofrido pelo revoltado amigo. Sua mãe morrera e seu pai expulsou-o de casa, obrigando-o a trabalhar para manter-se. Sendo assim, está explicado! Apesar de tudo, ele teve sucesso e fez dois cursos superiores e conseguiu uma vida estável. Conclui-se, que a escola serve pouco para preparar um aluno para o sucesso. O colégio era bom e tinha bons professores nas disciplinas chaves; todavia, o que havia de melhor mesmo era o pão francês fresquinho, que se comia com mortadela e uma garrafinha de coca-cola. Bons tempos...Eu acho que entrei para a faculdade com relativa facilidade, sem cursar outra escola ou freqüentar cursos; segui um roteiro pesado de estudo, mas obedecendo à orientação da escola, o resto é magoa...