Viviane, quando criança era saudável e sapeca...
Brincava com os irmãos e amiguinhas, de bola de gude e amarelinha; gostava de futebol, pião, e outras brincadeiras de criança, que hoje, infelizmente, estão esquecidas. Dentre todas... preferia o jogo de pedras. Às crianças procuravam com alegria,  pedaços de telhas, em tamanho pequeno. Cada uma delas fazia o seu jogo, que consistia de cinco pedrinhas, que raladas no chão ficavam  arredondadas, evitando machucados com as suas pontas. Também, facilitava ajuntá-las nas pequeninas mãos, durante o jogo.  
Sentadas no chão jogavam, 
com destreza, de forma graciosa. Cada etapa a ser vencida, era  difícil... Porém, a Vivi manejava bem as pedras, jogando-as para o alto e  pegando-as de volta, conforme a regra do jogo.
          Éramos vizinhas e morávamos, em uma cidade interiorana, Palmares - PE, onde passamos a nossa infância e parte da nossa adolescência.
          Lembro, saudosa, desse tempo de inocência, vivido na pacata cidadezinha banhada pelo rio Una.  Morávamos na rua Maurity. Por trás dos nossos  quintais...  No final da cerca havia um portão, que ao abri-lo, para a surpresa de muitos,  passava o rio "Una".
Que felicidade! Eu  observava os pássaros, conhecidos por  "lavadeiras", sobre as pedras, bebericando das águas do rio, que beijando-as, suavemente, escorriam pedras abaixo, levando tudo quanto nele era lançado.
Aos nove anos de idade, eu era, realmente, uma criança inocente, igual a Viviane. 
          O meu irmão mais velho tinha uma varinha de pesca,  e junto com o irmão de Viviane pescavam à beira do rio. Eu observava a pescaria, e falava baixinho, para não espantar os peixes, não tinha muito jeito para a pescaria, mesmo assim... Pegava muitas piabas. Encantava-me, quando o sol as prateava... Fisgadas,  pediam socorro, debatendo-se no anzol... Sempre, p
egávamos as varas de pesca dos nossos irmãos, e assentadas no chão batido, às margens do rio, sentindo o vento esvoaçando os nossos cabelos e refrescando os nossos corpos... sorvíamos o momento mágico de paz, inocência,  e bem estar...  Recebendo às carícias de Deus! 
          Vivi pegava o pão dormido, umedecia e fazia pequenas bolinhas – iscas para os peixes –, pacientemente colocávamos, cada uma delas, nos nossos anzóis. Algumas vezes, os peixes eram mais sabidos que nós... Conseguiam roubá-las, sem que ficassem presos. Cada puxão no anzol era motivo de grande euforia. Lá vinha um peixinho brilhando, sob o sol. Eu os guardava em um cestinho e depois, ali mesmo, na beira do rio, os tratava junto com a Vivi. Aprendi a  tratá-los, durante as nossas brincadeiras de “cozinhado”.
          Aos sábados convidávamos  nossas amigas, para brincar no quintal da nossa casa; a mamãe nos ajudava, sem interferir muito, para que aprendêssemos a lidar, com os alimentos. Cada uma levava um alimento. Preparávamos o nosso almoço, sobre o fogão improvisado, sobre tijolos. Três tijolos, serviam de base. Ali mesmo, no quintal, embaixo dos pés de mangueiras. Com euforia, colocávamos as vasilhas, com os alimentos... sentíamo-nos donas de casa, responsáveis.
A mamãe cuidava do fogo – posso dize, que ela era uma criança junto a nós –, e cozinhávamos a lenha ou a carvão.
Desta forma, aprendemos a cozinhar.
           Levavamos os peixes, d
epois de tratados, para a minha mãe, que terminava de limpá-los, os salgava e fritava, para que, pudéssemos comê-los, com inhame, ou macaxeira, bem quentinha.
Que saudade!... 
 
Crédito da imagem: GOOGLE.
Conto Cotidiano: Às Margens do Rio Una, Recife, 05/04/10

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EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 03/04/2010
Reeditado em 20/03/2018
Código do texto: T2174768
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