O ENCONTRO
Foi difícil marcar, mas, finalmente, estava definido. Nosso encontro seria no Madureira Shopping, às 18h do dia 14 de agosto de 2002. O Brasil tinha acabado de ganhar sua quinta Copa do Mundo. A euforia ainda estava no ar. Só eu é que ainda não marcara um tento no amor. Mas, ao que tudo indicava meu dia estava chegando. Aquela era a chance que eu tanto esperava.
Cheguei uma hora antes do combinado. Passeei pelo Shopping. Reconheci o terreno. Queria me certificar do que estava fazendo. Achei um restaurante que permitia o acesso a Internet, por quinze minutos, aos clientes. Tentei achá-la no MSN apenas para dizer: "- Querida, cheguei! Estou lhe esperando!"
Mas ela não estava lá. Tinha mais gente querendo falar comigo pelo MSN, mas eu não queria. Queria só ela. Mais ninguém. Desliguei a conexão com o provedor. Saí. A ansiedade era tamanha; pelo menos ela já estava a caminho. Era meu primeiro encontro com alguém que conhecera pela Internet.
Passeei pela Praça de Alimentação: “Será que faríamos um lanche?” Caminhei um pouco mais. A moça de um quiosque de perfumes me ofereceu uma prova num retângulo de cartão embebido com “Prumo”. Fiquei cambaleante. A emoção de encontrar-me com a minha ninfa era demais, me embriagava. Pensei: “Vou comprar um perfume deste para dar-lhe de presente!”
Continuei caminhando. Volta e meia cheirava o cartão perfumado e associava aquele odor à minha amada. Passei em frente aos cinemas: “Será que veríamos um filme juntos?” Era meu sonho. Estar do lado de minha linda, enquanto os protagonistas do filme romântico me estimulassem a paixão.
O tempo foi passando. O calor era grande. Tomei um suco de laranja bem gelado. Não mais que isso. Porque ainda tinha planos de estar junto com ela, na lanchonete, tomando sucos, trocando sonhos, expressando palavras, acariciando olhares... Quem sabe - viajei nos meus sonhos etéreos -, até um beijo poderia lhe dar se a simpatia provocada pelo frio meio, que é a mídia Internet, se transformasse numa empatia irreversível ao calor do primeiro olhar.
Como prometera a ela, trazia em minha pasta um livro de presente. Ela também gostava de ler. O livro que lhe prometera - “Lolita” de Vladimir Nabokov -, era de leitura muito agradável, tendo-o lido em poucos dias, apesar do tamanho do volume e de meus intensos compromissos de trabalho. Queria que ela experimentasse o mesmo prazer que tivera ao lê-lo. Queria trocar idéias com ela, sobre essa leitura, posteriormente.
Deu o horário aprazado. Levantei-me para ir ao seu encontro no local combinado. Mas, qual foi o local combinado? Fiquei confuso e inseguro. Marcara no Shopping Madureira e só. “Grande definição!”, pensei comigo mesmo. Ela havia me informado que o Shopping era pouco freqüentado e seria fácil nos encontrarmos. Não foi o que constatei: O Shopping era imenso e estava abarrotado de gente.
Se havia chegado uma hora antes do previsto para me preparar para o encontro; agora, suando em bicas, gastei mais outra hora circulando rápido entre os possíveis locais onde poderia encontrá-la: entrada principal, saguão de recepção, praça de alimentação, cinemas... Transitei por diversas vezes nestes lugares, detendo-me por alguns minutos neles, para dar chance dela chegar.
A cada menina bonitinha que passava – e as feinhas também -, detinha-me a olhar mais detalhadamente na vã tentativa de encontrar aquele rostinho bonito que me apetecera quando a conheci pelo MSN.
“Idiota!”, pensei eu de mim mesmo! Ela me conhecia de ter-me visto na câmara. E eu? Só por fotos! E se aquelas fotos não fossem dela? Fiquei a imaginar que deveria ter passado inúmeras vezes ao lado dela e ela, rindo interiormente do bobalhão que ousou conhecer uma menina que valia a pena, só por ter achado que umas boas conversas pelo Messenger poderiam render um bom papo ou amizade pessoalmente.
Lembrei-me que dissera para ela qual seria minha roupa: uma calça preta e camisa azul clara. Vestiria uma roupa social e ela se agradara com isso. “E ela? Com que roupa iria?” Mais uma vez me senti idiota por estar à mercê de um sentimento bobo de paixão que me dominara.
Fui-me embora. Cento e vinte minutos jogados fora. Nem tanto! Rendeu-me material para este e mais outros três contos que escreverei em breve.
Enquanto o táxi que tomei em frente ao Shopping rodava suave pela avenida, pensei na vida. E a vida era muito divertida aos meus olhos. De repente o motorista do táxi passou defronte de um bar. Foi quando pude ainda ouvir uns fanáticos por futebol vibrarem com as sucessivas reprises dos gols marcados pelo Fenômeno na partida final da Copa que dera o pentacampeonato ao Brasil. Coisa de subúrbio. Sorri.