A Dama de Negro
Era uma vez...
Uma mulher simples e que andava vestida de roupa inteiramente preta. Essa mulher que andava com os pés descalços e carregava sempre em suas mãos uma cruz negra de madeira e, segundo se dizia, essa cruz foi roubada do cemitério local.
Ela sempre era vista com uma enorme quantidade de cães, que ela designava com nomes de pessoas e os tratava com se seus filhos fôssem.
Todos tinham um tremendo medo, porque ela tinha a fama de ser uma poderosa feiticeira, com poderes ilimitados no campo da bruxaria, e que se alguém ousasse transpor seu caminho, ela logo levantava aquela ameaçadora cruz negra, e transformava as pessoas incautas naquilo que ela quisesse. As crianças que dela zombavam, ela as tranformavam em lindas gaivotas que ficavam para toda a vida sobrevoando entre o Canal do Itajurú e a Praia do Forte.
Antigamente haviam muitas crianças desobedientes que teimavam e teimavam desafiá-la, e quando a feiticeira passava pela rua essas crianças maldosas, ficavam a provocá-la e a atirar-lhe coisas. E mais uma vez quando isso acontecia, a mulher de negro levantava sua cruz negra e as transformavam em graciosas gaivotas. É por isso que hoje as praias de Cabo Frio estão cheias dessas majestosas aves marinhas, e elas de uma forma ou de outra, já foram crianças que procederam de maneira incorreta com a mulher de negro.
Contam também, que sozinha, essa mulher conseguiu povoar nossas praias de gaivotas e acabou com todas as crianças desobedientes e malcriadas que existiam naqueles tempos.
Essa mulher, cujo nome verdadeiro pouca gente sabe, bons serviços prestou a nossa cidade, e sempre foi muito cantada em prosas e versos, inclusive teve sua imagem imortalizada nas paletas do artista plástico José de Dome, além de ter inspirado algumas agremiações carnavalescas, que se orgulham de conduzir o estandarte com a imagem da Dama de Negro.
Quando a temível feiticeira da cruz negra faleceu, com ela desapareceu uma das últimas figuras de forte significado folclórico do lugar. Mas a comunidade não esqueceu dessa musa inspiradora de muitos compositores e poetas. Como reconhecimento a essa figura imortal , foi-lhe designado um jazigo perpétuo no Convento da Ordem dos Franciscanos, convento esse que ela foi a guardiã até os últimos dias de sua vida.
Na entrada daquele campo santo, onde só eram sepultadas pessoas que pertenciam aquela ordem, voce vai encontrar bem junto 'a porta, uma sepultura simples, mas muito bem cuidada, encimada com a inconfundível cruz negra, e nela um nome. Um nome que nada tinha a ver com sua figura mística, pois ninguém jamais ourira falar de Priscila. Mas na mesma cruz,um pouco no cantinho, está escrito entre parênteses, com letras simples, como foi a vida dessa mulher. Um nome que ninguém até hoje esqueceu. A famosa dama de negro foi imortalizada pelo carinhoso nome de "O T I L I A" .