A beleza é apenas a promessa da felicidade.Stendal
A beleza é apenas a promessa da felicidade. Stendhal.
Ela vinha se aproximando e sabia o efeito desta aproximação. A curiosidade que causava na roda de senhores freqüentadores do ambiente. Um shopping. Uma idade média de sessenta anos. Todos bem ou quase bem de vidas.Aposentados, velhos políticos, ex-funcionários públicos, antigos comerciantes, todos independentes e sem ter mais o que fazer. Aquele espaço era para os que nada fazem, já fizeram e agora quase nada. Política quase sempre era o assunto da roda. Mudava quando acontecia um escândalo na cidade ou caia um avião no meio do mar. E naquela tarde, era o avião que havia caído e pouco se sabia das causas e dos efeitos. Foi quando ela apareceu. Foi quando ela calou a boca dos mais palradores. O assunto do avião mornou. Avião era aquela ali, que passava ia para o café. O velho escritor arregalava os olhos e driblando, Alzilmer, seu eterno marcador, fazia um gol de placa com esta frase: “ A beleza é verdade, a verdade beleza- é tudo.O que sabemos na terra e precisamos saber”.Dito isto, tomou um gole de café, sem se lembrar que não havia posto açúcar.Um dos mais novos, que sempre botava catinga de barata, saiu-se com esta:”- Lembra-te de que as mais belas coisas do mundo são as mais inúteis; por exemplo, pavões e lírios, já dizia Ruskin, no século passado.” Ignorando estes comentários e olhares, ela vinha airosa e madura, num passo de quem sabe onde está pisando e em quem está pisando.Não direi bela, direi bonita, vistosa,apetitosa, provocadora e sabedora dos maus pensamentos de quem a admirava.Porque a mulher bonita tem radar.Ela sabe quem a observa e advinha os pensamentos dos observadores que comumente são chamados de paqueradores.Inocentemente, os senhores idosos, disfarçavam os olhares, mas, que diabo, parece que a mulher tinha visgo, obrigava a olhadas dos homens e até, das senhoras.Sim, porque as mulheres também olhavam para ela e o que é bonito é para ser visto. Sabedora da sua força, ela só, somente só, sorve um sorvete. Demora e na demora, pega no cabelo, tira a madeixa do ombro levemente desnudo e belo. E moreno. Moreno natural. Daquela cor do sertão de onde veio. Hoje tem a pele mais macia por força dos hidratantes e do sol que apanha na sua piscina. Bonita, muito bonita e madura. Como uma manga rosa desta verdadeira e não das enxertadas. E ela ,a bela, encosta no balcão e pede seu café com chocolate,sua cor. E na demora do pedido, fica lembrando do marido.Do tempo quando vinham os dois juntos, qual namorados,tomar sorvetes e olhar as vitrines, de braços dados e de vez em quando, ele lhe roubava um beijo e ela ralhava que o povo estava vendo mas ela achava era bom porque o povo via que ela tinha quem gostava, quem cheirava.O povo vendo e ela gostando do povo ver. O tempo passa e ela mesma ainda se acha bonita e sabe que não é só ela que se acha, os homens a olham com olhares pidões, uns audaciosos,tem velho que a come com os olhos, ela faz um jeito de mostrar a aliança de casada,bem casada,graças á Deus.Mas porque será que ela gosta de sair e sentir que os homens olham para ela com aqueles olhares pecaminosos, cheios de más intenções ? Acha engraçado é que quando ela anda com o maridão, a coisa muda. Até os que tem olhares ousados, num instante se tornam respeitosos. Homem é bicho falso...Depois dizem que são as mulheres. Ah bom... Besteira.Olhar não arranca pedaço e é bom ser olhada, admirada.Sabe que a beleza não é tudo.É apenas a promessa da felicidade. E ela é feliz ?