AS DELÍCIAS DE JOANA

Jair e Roberto

“Rapaz, quando cheguei à casa do Luizinho já fiquei preocupado. Estava um clima carregado, sabe como? Não sei explicar direito, mas achei estranho. Fui até a porta e bati... nada. Então comecei a chamar por ele; ‘Luizinho, Luizinho!’. Nada de novo. Saí da varanda e dei a volta, para ver se tinha alguém nos fundos. Dei com a porta da cozinha entreaberta. Fiquei um tempo ali, entreolhando a fresta para ver se enxergava alguma coisa lá dentro, mas estava muito escuro. Mais uma vez tentei chamar o Luizinho. Depois que gritei seu nome, agucei os ouvidos e percebi que havia alguém chorando lá dentro. Foi só então que empurrei a porta.”

“Chorando? Caramba, Jair, e você entrou? Eu, a essa altura, já estaria me pelando todo. Quem tava lá? Quem tava chorando?”

“Olha, Roberto, foi uma cena triste. Quando eu abri a porta, demorei a entender o que passava. Estava muito escuro lá dentro. Era dia, mas todas as cortinas estavam fechadas. Levei alguns segundos para me acostumar com a penumbra. Neste meio-tempo, continuava ouvindo o choro. Logo fui percebendo os objetos que formavam a cozinha. A geladeira, logo à direita, atrás da porta. À esquerda, a pia, posta sob a janela fechada e depois, colada a ela, o fogão. Entre a pia e a geladeira, a mesa que o pai do Luizinho construiu e deu de presente de casamento para ele e para a Joana...”

“O Seu Nivaldo é um marceneiro de mão cheia mesmo.”

“Verdade. Como eu ia dizendo, passei pela mesinha e segui reto, em direção à porta que dá para a sala. Era de lá que vinha o choro. Era um pranto bem baixinho, sabe? Doído mesmo.”

“Sei, sei, mas e aí, quem era que estava chorando?”

“Pois então, é o que estou tentando contar. Quando cheguei à porta, virei à esquerda, na direção da sala. Eu já havia me acostumado à escuridão. No canto da sala, bem à minha frente, havia um vulto sentado. Era estranho, pois estava tão encolhido, com as pernas juntas ao corpo e envoltas pelos braços que, num primeiro momento, acreditei ser uma criança. Mas logo vi que era o Luizinho.”

“O Luizinho?! Mas o que aconteceu? Conta...”

“Eu tô tentando...”

“Certo, certo, continue.”

“Ele estava lá, no chão, logo ao lado de uma mesinha, todo encolhido e chorando muito, sem parar. Pendurado sobre ela balançava o telefone, fora do gancho, preso pelo fio enrolado. Foi só então que o Luizinho se deu conta de que eu estava lá. Ele tomou um susto e tentou se recompor, enxugar as lágrimas, mas o seu estado era lastimável. Não havia como esconder que há algum tempo chorava copiosamente.”

“E você perguntou para ele o que estava acontecendo?”

“É óbvio que perguntei, Roberto. Porém, ele demorou a me contar. Primeiro ficou em pé, disse que estava tudo bem, que não era nada demais e foi até o banheiro. Jogou um pouco de água no rosto e voltou perguntando se eu queria um copo de suco, pois não havia nada além de suco de pacotinho para se beber. Eu disse que estava tudo bem e insisti que ele me contasse o porquê de ele estar daquele jeito.”

“E...?”

“E foi aí que veio a bomba!”

“Bomba? Bomba mesmo? Tipo, terrorismo?”

“Não, besta. ‘A bomba’, o motivo de ele estar daquele jeito.”

“Ah tá. E...?”

“‘E...’ que ele disse que descobriu que a Joana o está traindo.”

“Papagaio!”

“Pois é...”

“Mas como, quando, onde, com quem? Ele disse quem é? Ele sabe de alguma coisa? Quem contou? A Joana já sabe que ele sabe? E o Seu Nivaldo e a Dona Marta, estão sabendo também?”

“Calma, homem, parece uma matraca. Pelo que entendi, ele só sabe isso, que ela o está traindo.”

“Mas e a Joana, disse o quê?”

“Não sei, quando saí de lá ela não havia chegado ainda. Vou te falar, o Luizinho estava tão transtornado que fiquei preocupado.”

“Concordo, concordo. E você fez o que então?”

“Primeiro, tentei tirá-lo de lá, levá-lo para a minha casa ou para a casa dos pais dele, mas ele não quis. Disse que ia esperar a Joana e tirar a história a limpo. Como percebi que ele não arredaria pé, liguei para o celular da Joana, logo que saí de lá, e pedi para que ela não fosse para casa, não atendesse nenhuma ligação do celular do Luizinho ou da casa deles, e que me encontrasse mais tarde. Só pedi isso, sem dar maiores explicações.”

“Boa, Jair, boa. Mas, escuta, como o Luizinho descobriu que a Joana está de malandragem?”

“Pois é, vou te contar...”

O telefonema do Benitez

“Lembra, Roberto, que te falei que o telefone estava fora do gancho, pendurado na mesinha ao lado do Luizinho, quando cheguei na casa dele? Pois bem, foi o Benitez quem tinha ligado há pouco para ele.”

“Benitez?” Que Benitez?”

“O Benitez, ora! Aquele que trabalhou um tempo no posto do Zezo e que era bem amigo do Seu Nivaldo. Coisa dos tempos em que serviram no exército.”

“Lembro vagamente.”

“Bom, o que importa é que o Benitez, por ser muito amigo do Seu Nivaldo, foi ao casamento do Luizinho e da Joana. Foi a última vez que vi o Benitez.”

“Ah, sim, lembrei agora. Era um senhor careca e baixinho que estava usando um terno marrom um tanto quanto folgado; um que não largava o copo de cerveja, não é?”

“O próprio. Ao que tudo indica, foi o Benitez que entregou todo o lance pro Luizinho. Ele está trabalhando em outro posto agora. Um desses sem bandeira, que fica bem em frente ao Motel Casanova.”

“Sim, sim, sei qualé. Aliás, já foi naquele motel? É um pulguero, mas bem baratinho. Eu sempre vou lá com a Janaina, hehe, pois não vale a pena gastar muito com ela, né não? Já com a Lurdes é diferente, com ela capricho um pouco mais e vou num que tem até hidromassagem.”

“Sei bem como é o Casanova, Roberto. Agora, presta atenção e não viaja, me deixa terminar.”

“Tá.”

“O Benitez ligou para o Luizinho e perguntou se ele havia mudado de carro.”

“Mudado de carro? Por que ele queria saber se o Luizinho havia mudado de carro? Não entendi mais nada agora.”

“Ele perguntou isso porque disse ter visto a Joana entrar no Motel Casanova num carro que não parecia nada com o carro do Luizinho.”

“Papagaio!”

“Pois é, entendeu agora? Só que o Benitez não viu quem dirigia e nem viu a hora em que saíram. Agora o Luizinho tá lá, doente de raiva e com vontade de pegar a Joana de atravessado.”

“E o Benitez chegou a dizer que carro ele viu?”

“Disse sim.”

“E...?”

“E é aí que mora o problema.”

“Por quê, Jair, que carro ele disse que viu?”

“Um Gol, daqueles quadrados, modelo antigo.”

“Um Gol?! Mas não pode ser... Um Gol? Tem certeza?”

“Claro que tenho, Roberto.”

“Mas o tal do Benitez deve ter visto errado, não é possível.”

“Ele não viu nada errado, Roberto, era um Gol, e é por isso que vim falar com você antes de ir conversar com a Joana.”

“Mas essa Joana é uma quenga mesmo. Um Gol?! Onde já se viu?”

“Pois é, na hora o Luizinho não se deu conta, mas logo-logo vai cair a ficha.”

“Ficha? Que ficha, Jair? Do que cê tá falando?”

“Do Gol.”

“Pois é, também estranhei o Benitez ter visto um Gol, mas, vindo da Joana podemos esperar qualquer coisa. Eu tentei avisar o Luizinho que ela não valia o ó do borogodó, mas ele não me ouviu, parece que foi enfeitiçado. Pior: parece coisa de drogado, que tá viciado naquela mulher. Não faz mais nada, deixou os amigos de lado, quer viver colado no rabo da saia dela, gastar até a última gota. Um tal de meu amorzinho pra cá, meu chuchuzinho pra lá. É triste, sabe?”

“Sim, sei sim, mas isso não vem ao caso agora. Todo mundo sabe das peripécias da Joana. Se o Luizinho não vê, e não via antes de casar, azar. Agora a questão é a porra do Gol, Roberto.”

“Verdade, tô intrigado com isso também.”

“Meu Deus do céu, homem, você pediu pra ser retardado e entrou duas... não, três vezes na fila. Ainda não se tocou?”

“Do quê?”

“Quem, diabos!, tem um Gol desse modelo, Roberto?”

“‘Quem tem um Gol desses?’. MEU CANÁRIO-BELGA! VOCÊ! Você tem um Gol quadrado, Jair!”

“Fala baixo, cacete! Quer me foder?”

“Que merda, cara, o Luizinho vai acabar achando que você pegou a mulher dele.”

“Achar é pouco.”

“Como assim?”

“Olha, sabe, eu tentei resistir...”

“Puta que pariu, Jair, não acredito que você comeu a mulher do Luizinho.”

“Pois é, comi. Pior: foi a primeira vez. Bom, paciência, agora a cagada tá feita. A questão é: o que fazer?”

“Não sei. Nossa, não sei mesmo. Já-já o Luizinho vai se ligar. Só não se ligou na hora porque devia estar em estado de choque e porque jamais imaginaria que você fosse aprontar uma dessas com ele.”

“Nem me fale. Pode acreditar, isso tá acabando comigo. E, quer saber, a essa altura ele já deve ter se ligado.”

“Nossa, é mesmo! Mas como isso foi acontecer, Jair?”

“Como? Ora, eu te digo como...

Joana

“Você já viu as coxas da Joana, Roberto? Bronzeadas, fortes, torneadas? E o pezinho dela, então? Miudinho, com as unhas bem feitinhas. Já viu os joelhos, as batatas da perna, a cicatrizinha que ela tem na altura do Tendão de Aquiles?”

“Irresistível, não é mesmo?”

“Como irresistível? Você já viu? Eu tava só tentando explicar, não imaginei que você já tivesse visto também, Roberto... Quando viu? Foi de perto? Como?”

“Calma aí, Jair, só me falta agora você estar com ciúme da desgraçada. Bom, claro que eu já vi tudo isso. Aliás, quem não viu? Ainda mais com essas sainhas e vestidinhos justos, curtinhos, que a Joana usa.”

“É disso que eu to falando, rapaz. Dá pra aguentar? Não dá... não dá!”

“Concordo, não dá mesmo.”

“E ela ainda provoca. Passa na minha loja e fica procurando os produtos no alto da prateleira, só pra ficar na pontinha do pé e, assim, a saia subir ainda mais...”

“Ui, delícia! É, ela é desse jeito.”

“Daí ela vem e escreve bilhetinhos picantes, fala obscenidades, diz o que vai fazer comigo quando estivermos a sós.”

“Ela escreveu bilhetinhos pra você, é? Mas que lazarenta!”

“Sim, escreveu. Sem contar os dias em que ela passava por lá, na loja, vestindo uma blusinha branca. Pedia para usar o banheiro e voltava sem sutiã. Sem sutiã! Na primeira vez, me pegou de surpresa. Não imaginei que ela fosse me aprontar essa. Quando vi aquele par de peitos... ai-ai!... Fiquei de queixo caído, estático, sem fala. Ela chegou a confessar que molhava os seios pra que eles colassem na blusa, deixando-a transparente. Como é que se resiste a isso, Roberto, me diga? Teve uma vez que tentei proibi-la de usar o banheiro. Era um suplício; aquela loja cheia de gente e ela lá, de sainha pra lá, peitinhos pra cá. Não consegui impedi-la, ela me fazia de gato-e-sapato. Era uma briga dentro de mim, sabe? Um lado queria ser correto, acabar com aquele jogo, mas o outro pegava fogo, louco de vontade de ver de novo aqueles peitinhos...”

“E ela tem uns biquinhos tão durinhos, né?”

Luizinho

Enquanto isso, Luizinho divaga em casa:

“Aquela vadia, filha duma cadela rameira. Quem ela pensa que é pra me aprontar uma dessas? Ainda mais no Casanova, aquele pardieiro empoeirado. Logo ela que diz adorar lençóis limpos, quarto cheiroso, banheiro impecável. Deve ser engano; ela é uma dama, oras! Ou não? Desde quando estará isso acontecendo? Será que sempre foi assim? Será que ela já vinha de caso com esse cara antes de nos casarmos? Não, não pode ser! E todas a juras e promessas? Ela até falou para o padre que seria fiel, na saúde e na doença. Na saúde e na doença, porra! Ninguém fala que será fiel na saúde e na doença, dentro de uma igreja, para um padre fardado, de batina e tudo, e depois descumpre o prometido... é pecado. Ô, meu deus, isso é pecado sim.”

Luizinho caminha de um lado para o outro com o celular em mãos, pensando em ligar para a mulher, mas continua indeciso se deve fazê-lo.

“Pecado e pecado dos brabos. Será que ela não tem medo do Inferno? Vai ver o Benitez realmente se enganou. Afinal, ele já não é nenhum jovem. Deve estar com problemas de memória, vista ruim, essas coisas. E se ela não me amar mais? Mas recém nos casamos, não pode ser isso. Pelo que sei a crise só vem com sete anos de casamento. Tudo bem que juntando namoro e casamento dá sete anos, mas nós nunca moramos juntos antes de casar, daí não é casamento de sete anos, não é mesmo? Deve ser outra coisa. Ou não é nada... o Benitez, aquele filho-da-puta, é que viajou e tá me fazendo passar esse sufoco. Calma, Luizinho, você precisa se acalmar. Vamos esperar ela chegar em casa e ver o que tem a dizer. Vamos esperar e ver se ela não tem um álibi. Não posso imaginá-la assim, entrando em motel barato dentro de um Gol... Gol? Peraí!”

De volta a Roberto e Jair

“Vamos, Roberto, como você sabe dos biquinhos dela?”

“Calma lá, Jair, todo mundo sabe dos biquinhos da Joana. Ela sempre teve os biquinhos famosos. Desde a época em que o Martinez tirou a virgindade da danada, naquela festa na casa do Neco, e saiu contando pra todo mundo como foi. Mais: detalhou, com biquinhos, coxas, cicatrizes e tudo mais, como era aquela delícia de menina e as delícias que ela, mesmo naquela época, já fazia. Pois, convenhamos, ela sempre foi fogosa... mesmo aos 15 aninhos.”

“É, isso não podemos negar.”

“E perder a virgindade foi um mero detalhe, pois ela já praticava todo o resto do cardápio.”

“Fato.”

“Bom, Roberto, só temos uma saída.”

“Pular da ponte com uma lata de tinta forrada de cimento amarrada aos pés?”

“Não. Você e a Joana precisam de um álibi.”

“Você anda vendo muito filme de advogado, Roberto.”

“É sério, pensa comigo. Há uma porrada de gols quadrados espalhados nesta cidade. Foi só uma coincidência. Duvido que o Benitez tenha anotado a placa. O velho deve ter ficado tão eufórico para dar uma de dedo-duro que garanto que não se preocupou com esse lance. Só precisamos te colocar em um local longe da cena do crime. Ah!, e com uma testemunha a seu favor, é claro.”

“Pode ser, mas isso não livraria a cara da Joana e, sendo assim, ainda corremos o risco de ela não aguentar o tranco e dar com a língua nos dentes.”

“A Joana dar com a língua nos dentes? Discordo, pois se tem malandra dissimulada e boa de mentira tá ali. Sem contar que, como eu disse antes, o Luizinho é caído por ela. Vai acabar acreditando no chuchuzinho dele. O que precisamos é de um álibi para ela também.”

“E quanto ao Benitez?”

“Ora, com álibis e testemunhas para ambos, ele estará automaticamente desqualificado e será tido como um gagá que não tem mais o que fazer da vida além de difamar as pessoas.”

“Tô falando que você anda vendo muito filme de advogado.”

“Façamos o seguinte, e façamos logo, pois o tempo está correndo: o seu álibi é fácil, basta dizer que estava comigo jogando sinuca no Boteco do Arlindo, que fica lá no centro. Depois, para não corrermos nenhum risco, ligo para o Jardel, que é garçom lá e meu chapa, e dou a letra do negócio para que ele confirme a história. Só para o caso do Luizinho resolver investigar. Até dou uns trocados pro Jadel, assim ele se sente mais motivado a participar do jogo.”

“E quanto à Joana?”

“Acho melhor você ficar longe dela até ajeitarmos tudo. A essa altura o Luizinho já deve ter se ligado sobre o Gol. Deixa que eu vou falar com ela. Onde vocês combinaram de se encontrar?”

“Sabe uma lanchonete chamada Ki-Delícia, que fica na esquina da cancha de areia? Tem umas mesinhas que ficam no segundo andar, escondidas da vista da rua. Ela estará lá, dentro de quinze minutos.”

“Ki-Delícia, é? Nome apropriado, hehe! Bom, deixa que eu vou até lá e acerto as coisas do lado da Joana. Agora, some daqui, nem me fale para aonde vai. Eu te ligo mais tarde pra afinar o plano.”

Roberto e Joana

Na lanchonete:

“Oi, Robertinho, o que tá pegando? Cadê o Jair?”

“O que tá pegando? Eu vou te dizer o que tá pegando... Você tá trepando com o Jair, sua cadela?”

Roberto pega Joana pelo braço, com força, e a arrasta até uma mesa nos fundos da lanchonete.

“Nossa, Robertinho, não precisa ficar nervoso. E você está me machucando...”

“Machucando? Eu devia é te encher de bolacha!”

“Nossa, você nunca me contou que gostava de violência, Robertinho. Você sabia que eu tenho um chicote guardado lá em casa?”

“Você não tem jeito mesmo, né?”

“Vai dizer que você não gosta?”

“Não é disso que eu to falando. Agora, me conta logo que parada é essa aí com o Jair.”

“Então ele te contou, né? Não se preocupe, foi só uma vezinha, mais pelo desafio do que por qualquer outra coisa.”

“Joana, você tá maluca? O Jair é do tipo sério, como é que você fica atiçando o coitado assim?”

“Cada pessoa nasce com um talento na vida, Robertinho, esse é o meu...”

“O problema é que, dessa vez, você fez mal feito. O Benitez disse pro Luizinho que te viu entrar no Motel Casanova em um Gol. Teu marido tá botando fogo pelas ventas.”

“O Benitez o quê? Mas que Benitez? Que história é essa?”

“É aquele amigo do pai do Luizinho, que estava no seu casamento. Ele trabalha no posto que fica em frente ao motel.”

“Mas que velho fofoqueiro do caralho!”

“Nem me fale.”

“E agora?”

“Calma, tive uma idéia que acho que dará certo. Só preciso arrumar um álibi para você.”

“Um o quê?”

“Álibi... Bom, não importa. Preciso que você arranje alguém; e que seja mulher. Uma amiga, uma desconhecida – se for desconhecida é até melhor – que diga que estava com você, ou que te viu em outro lugar no mesmo horário em que o Benitez diz ter te visto entrando no motel. E precisamos achar esse alguém agora. Nem que tenhamos de pagar a pessoa para mentir.”

“É por isso que eu gosto de você, Robertinho. Porque, além de safado e gostoso, é um cara esperto.”

“Se gostasse tanto assim não tinha se metido com o Jair.”

“Ai, meu bem, vai ficar com ciuminho agora, é? Adoro quando você fica assim, sabe? Me dá um fogo louco!”

“Você não vale nada mesmo. Mas, vou te dizer, tomei um susto quando o Jair disse que o velho falou que havia visto você, em um Gol, entrando no motel. Foi uma mistura de raiva, surpresa e alívio.”

“Hehehe, eu imagino, querido. Você devia estar pensando que o velho Benitez havia dito que, ao invés do Gol, teria visto um Tipo...”

“Azul escuro...”

“Quatro portas...”

“Com insulfim...”

“Igualzinho ao seu...”

“Você é uma tentação, Joana.”

“Vem cá logo e me dá um beijo com essa boca que eu tanto adoro, Robertinho.”