Uma vida

Ela foi adotada pela sociedade massacrante da capital. Uma sociedade elitizada e burocrática ao qual ela não havia se acostumado ainda.Sempre viveu no campo levando uma vida livre e saudável,cercada pela fartura de frutas, verduras e carne. Acordava ao clarear o dia e levantava-se com disposição, corria para a cozinha e o fogão á lenha já estava aceso, cozinhando feijão ou carne e o café quentinho no bule, em cima da chapa para não esfriar. Pegava logo um copo grande com achocolatado no fundo e caminhava para o curral onde o pai estava tirando leite das vacas, enchia o copo com leite cru, após o homem magro e sorridente lavar bem as tetas da vaca com bucha e sabão. Costumava chegar com os pés molhados pela grama que ainda continha gotículas de orvalho e ouvia a sinfonia dos pássaros. Na primavera as árvores cobriam-se de flor. As crianças que tinham a idade para estudar iam para a escola rural na fazenda vizinha, os outros ficavam brincando o dia todo ; subindo em árvores, nadando nos rios e andando á cavalo pelos pastos, ora ajudando o pai,ora passeando em meio a mata.As meninas ajudavam a mãe nos serviços domésticos e depois iam brincar.Naquele “mundinho” parecia não haver problemas. Á noite, o pai chegava cansado, tomava um banho com a água aquecida pela serpentina e jantava com a família toda reunida em volta da grande mesa no centro da cozinha. Depois ele sentava-se perto do rádio e ficava ouvindo as belas canções da época e as “modas de viola”.As crianças, sob a luz do luar, ficavam brincando no vasto terreiro acompanhadas pelo atencioso olhar da mãe.

Depois que se tornou adolescente o pai resolve levar os filhos para morarem na cidade. Tudo diferente, foi difícil acostumarem-se. O pai morou por um tempo com a família e depois voltou para a roça, deixando a mãe com as crianças, mas sempre os visitando.

Julia cresceu vendo as coisas acontecerem sem poder modificá-las.

Foi se acostumando com a frieza das relações humanas e a burocracia dos serviços públicos para melhoria da qualidade de vida do povo. Ás vezes ia com sua mãe a um posto médico e via a tristeza das pessoas estampada nos rostos doentes e ainda tendo que ficar na fila para marcar uma consulta ou um exame. Dentista? Só dormindo na fila para conseguir.Tudo era trabalhoso na cidade.As moças bonitas eram assediadas por homens machistas que viam a Mulher como objeto.

Julia casou-se aos vinte e quatro anos, após dez anos que seu pai falecera,morto por um pião da fazenda que fora despedido e revoltou-se.

Ela trabalhava e ajudava o marido nas despesas da casa e comprando roupas para ela e o filho, ás vezes até para o marido ela comprava. Mas ele nunca a valorizou; sempre chegando bêbado em casa, vez ou outra com “mulheres”...não era exemplo para o filho.E Julia criou o menino nas leis de Deus e ele tornou-se um ótimo homem, com dignidade, caráter, princípios cristãos, sem vícios, trabalhador e com ambições construtivas.

Atualmente, Julia tem três filhos, duas adolescentes, que tem os mesmos princípios do irmão e ela segue a vida com mais maturidade e mais objetivos para ser feliz e transmitir paz e harmonia ao lar. Amou uma vez e nunca mais esqueceu, mas as circunstâncias da vida afastou esse amor. Ás vezes ela se apaixona; por um olhar, por um sorriso, por palavras reconfortantes, mas não se entrega mais a ninguém, somente a amizade tem lugar em seu coração. E Deus que é seu AMIGO em todos os momentos.