CONDENADO!

Ele poderia ter nascido em berço de ouro; ter tido uma educação esmerada; ter estudado nos melhores colégios do país; ter seguido a tradição da família e se tornado um empresário respeitável e renomado internacionalmente. Mas infelizmente ele nasceu nos esgotos da sociedade, assim como tantos, cujas histórias ilustram as páginas policiais. Uma novela da vida real, que já virou rotina, cujo roteiro nós já sabemos de cor.

Essa é a história de Jose S. B. vulgo “Zé Bôca de vulcão”. Ele nasceu numa manha invernal, a mãe era uma prostituta viciada em crack, o pai um cidadão qualquer que pagou por um prazer barato ou mais um na multidão que não tem noção de onde depositar as suas sementes.

Mal terminou o resguardo, a mãe voltou para a vida, deixando Jose sob os cuidados da avó na mais lastimável condições de miséria. Moravam num casebre próximo de um lixão. A renda familiar vinha do reciclado do lixão. Do lixo também se colhiam roupas, utensílios domésticos e até alimentos.

Um dia, quando José estava com cinco anos, o político F.T. filmou a miséria do lixão, na filmagem o político também aparece com Jose magro e anêmico nos braços. Chorando, F.T. prometeu que se ganhasse as eleições aquele quadro seria revertido.

Aquela matéria comoveu a população e somou muitos votos para F.T. que ganhou a campanha.

Passaram-se os anos e o lixão continuava esquecido. A miséria só aumentava.

Aos dez anos José perdera a avó. Sozinho no mundo e sem destino, ele pegou carona num dos caminhões do lixo. Desceu no centro da cidade e juntou-se a outros meninos sem rumo.

Sem instrução familiar e educacional, desconhecia as fronteiras do bem e do mal. Mas conhecia algumas rezas que a avó lhe ensinara e que havia um homem muito bom que morava no céu.

Sem noção da vida, passou a roubar para se alimentar. Todos os dias ele tinha que enfrentar uma guerra pela sobrevivência. Foi assim que se tornou um alvo fácil para os traficantes. Começou vendendo papelotes de maconha na praia e na frente das escolas. Aos treze anos já gerenciava algumas bocas de fumo. Aos dezessete anos já era um traficante de alta periculosidade.

Temido e odiado, espalhava medo e terror por onde passava. Mas não tinha pouso certo, vivia cercado de inimigos e a polícia tirava-lhe o sossego.

Tinha uma fortuna incalculável, mas não tinha vida. Vivia cercado de mulheres, mas não era amado; tinha muitos comparsas, mas não tinha amigos. Compensava a sua carência afetiva com farras e orgias.

Mas bandido também tem seus dias de meditação. Entediado, lembrou da avó, única que pessoa lhe deu afeto, triste, dispensou os comparsas e as mulheres e decidiu ficar sozinho. Ligou a televisão, e prestou atenção nas outras manchetes, pois, quando tinha tempo só via o noticiário policial para ver o seu “estrelato”. Naquela noite, uma das manchetes lhe chamou a atenção:

“O Deputado F.T. é um dos principais envolvido em um dos maiores escândalos de corrupção política que vinha assolando o país nos últimos meses”

Ao ver aquela notícia foi como tomar um soco no estomago. Naquele instante ele voltou ao passado. Viu-se no lixão comendo frutas estragadas, via sua avó agoniando em cima de uma cama por falta de assistência médica, viu-se nos braços do político sendo usado para sensibilizar os eleitores, lembrou da esperança do povo do lixão por melhoria de vida, lembrou das promessas políticas que nunca foram cumpridas, das condições sub-humanas em que ainda vivem a comunidade em que nascera.

É... “Os brutos também amam”

Aquelas recordações lhe feriu a alma ferida. Naquele momento ele foi tomado por um ódio mortal, instintivamente, ele metralhou a televisão. O que ele não sabia é que a polícia estava no seu encalço e rondava a sua casa. No momento dos disparos os policiais assustados pensavam que estavam sendo atacados, sacaram suas armas e atiraram contra a casa. José não teve tempo de se defender.

E agora está lá, “um corpo estendido no chão” uma estrela apagada, cujo sangue brilha nas páginas policiais.

“O CRIME NÃO COMPENSA”

Por um momento a sociedade respira aliviada.

Mas enquanto persistirem o descaso político e social essa estrela apagada renascerá no ventre da miséria.

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* texto e personagens totalmente fictícios, “Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência!”

jambo
Enviado por jambo em 27/03/2010
Reeditado em 20/11/2023
Código do texto: T2163080
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