Príncipe

Alheio a todo o barulho ao seu redor, Ele pinta. Um pincel estreito e pequenos depósitos de tinta ligeiramente arrumados em uma surrada caixa de papelão compõem seu material de trabalho.

Vestido com roupas rasgadas, Ele traz em sua face negra manchas que não me parecem pertencer ao seu acervo de tintas. São resquícios da fumaça dos carros que por ali transitam e da poeira da rua que o vento, mensageiro da vida, conduz de um lado para outro.

Famigerada ironia do destino. Ele, que, na maior parte do tempo, consome-se na cotidiana angústia de saber que dinheiro poderá não suprir o aluguel, é o autor destas paredes.

Vejo cinco ou seis paredes já pintadas. Resta-lhe esta. Recordo-me das cenas que Ele pinta. Lembro-me de tê-las visto em um livro que li há muito. “Nos tornamos responsáveis por aquilo que cativamos...”. Observo, porém, algo diferente nestes desenhos. Já não são as mesmas ilustrações descritas por Exupéry. São outras obras de arte.

As pessoas passarão pelos muros daquela escola e verão apenas o pequeno príncipe. Eu verei uma nova arte. Lembrarei de um príncipe pintor.