UM ACIDENTE NA ROÇA

Era um dia de domingo como outro qualquer, após o almoço, tio Agenor estava sentado em sua cadeira preguiçosa na varanda da casa, fumando um cigarro de palha, eu juntamente com meus primos e alguns colegas brincávamos no quintal quando o Bidu e Periquito, dois cães vira latas que estavam estatelados no sol levantaram o focinho como que farejando algo de estranho no ar e derrepente saem latindo, primeiro Periquito, o mais barulhento e logo atrás vai o Bidu em direção ao portão de entrada do sitio.

Titio levantou-se da cadeira, olhou em direção a entrada, para onde os cachorro se dirigiam e reconhecendo o seu Compadre Déco que morava no bairro e que vez por outra aparecia para prosear, ralhou com os animais gritando forte numa voz de comando que só ele tinha:

________ Passa Periquito.

E os animais obedecendo as ordens, ficaram desenxabidos, pararam de latir e o homem, abrindo a porteira , entrou para o quintal, apeou do animal, jogou os cabrestos num palanque de cerca e caminhou em direção a casa, cumprimentou muito educadamente titio que o convidou a entrar, puxando logo uma cadeira para ele se assentar, coisa dos homens do campo, ele agradecidamente se acomodou e ferraram num prossório danado ate quando titio gritou:

________Candinha, traz uma xícaras café pro compadre Déco.

Candinha era minha tia que não tardou com a bandeja de café, e conhecendo-a como eu conheço, não pelo pedido de titio, mas por curiosidade em saber como foi o acidente em que as meninas do visitante sofrerá. Ao chegar com a bandeja de café, titia cumprimentou o compadre e como de praxe foi logo perguntando da comadre Formosina, das crianças e coisa e tal.

Respondeu o homem com seu rude e belo linguajar caboclo:

_______ Quaaah cumadre, Formosina agora tá bem mas ficou meio “asvoraçada” quando soube do acidente das meninas. Bem que graças a Deus, dos males o menor, só alguns arranhões e a carroça quebrada.

Era a oportunidade que titia estava esperando para especular sobre o ocorrido e foi logo dizendo

_______ Pois é compadre, fiquemos sabendo, mas como foi mesmo o acidente?

E o caboclo como exímio contador de causos, sem meias palavras, começou a narrar o ocorrido detalhadamente e a sua narrativa estava tão interessante que até nós meninos, colegas de escola do Genésio, irmãos das moças e o condutor da carroça, paramos de brincar e fomos ouvir o relato que demorou mais ou menos meia hora para ser contada nos seus mínimos detalhes.

Em ressumo ele disse que as meninas foram para cidade fazer as compras de final de ano e algumas peças do enxoval de Lurdinha, a mais velha que estava de casamento marcado para o começo do ano, ventava muito e um pedaço de jornal velho, jogado a beira do caminho se levantou movido pelo vento, vindo de encontro com o animal que puxava a carroça, o burro apesar de manso se assustou, refugou e não obedeceu as rédeas do condutor, saiu do caminho e acabou subindo no barranco e tombando a carroça, foi uma gritaria danada mas por graça de Deus, não tiveram nenhum ferimento grave, apenas alguns arranhões.

Assim que terminou, todos nós estávamos boquiabertos com o ocorrido, sabíamos que foi um acidente, mas nas narrativas do seu Déco, aquilo ganhou vida e as meninas saíram como heroínas do ocorrido, juntamente com o Genésio. Estávamos ainda que maravilhados quando titia, que ouvira tudo calada, pergunta de novo

_______ Foi mesmo compadre, mas, como é que foi mesmo?

O Sistemático caboclo, fitou nos olhos de titia, parecia que queria agarrá-la pelo pescoço e esganá-la e até nos ficamos chateados com a pergunta, mas apesar da revolta em seu olhar simplesmente respondeu:

_______ Ahhh! Cumadre! Eu já contei.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 23/03/2010
Reeditado em 23/03/2010
Código do texto: T2155431
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