5 o'clock
Andando pelas ruas incansáveis de Belo Horizonte, que nem tão bela é, conheci uma menina. Mariah, de Nova York. Foi com um sotaque forte, bem temperado que ela se apresentou. Eu, todo abobado, enrolei um mineirês com inglês e ela se riu toda. Me perguntou quantas horas eram e como faltavam apenas vinte segundos pras cinco horas da tarde, eu disse:
- Five o'clock.
- Thank you!
Ela se riu novamente e me olhou de um jeito perdido, carente de si mesma. Depois de muita luta, chegamos ao mesmo ponto: escrever ao invés de falar. E não é que deu certo? O mais engraçado, é que ela não conseguia falar meu nome. Se nem eu, que tenho esse nome, consigo falar, imagine ela. Piétrer. Consegiu pronunciar? Não costumo falar meu nome para as pessoas.
Enfim, fomos à uma lanchonete comer pão-de-queijo e acabamos tomando um cafézinho. Tradição! Descobri que ela não estava aqui a passeio, mas sim morando temporariamente. No dia dezoito de novembro - é, guardo bem as datas que considero importantes - conheci minha melhor amiga. Às five o'clock eu conheci Mariah. Eu acho que tem dias que são inesquecíveis, não é mesmo?
Ah, e quando eu digo melhor amiga, não me refiro à um mês de amizade, mas sim à onze anos e vinte e três horas. Ela voltou para Nova York, mas deixou a amizade aqui, pra sempre ter motivos para voltar. Às vezes ela vem pra cá no natal, às vezes eu vou para lá. Mas o que gostamos mesmo é de ir pra Paris, ficar lá três semanas.
Acho que uma amizade não exige estar sempre perto, ver todos os dias e nem ouvir a voz a todo minuto. Uma amizade como essa só pede amor e vontade. A minha menina, minha pequena, minha melhor. Mariah está grávida, vai se casar daqui duas semanas. Vou ser padrinho de casamento e do pequeno Phillip, o filho dela. Estou indo pra lá. Agora são duas e meia da tarde, e meu vôo está previsto para as cinco horas da tarde. Coincidência, não? Quem sabe não é coisa do destino?