UM LUGAR -*

- Deite-se aqui comigo.

- Para que?

- Simplesmente deite-se aqui.

- Não vou me deitar no mato, vai me sujar toda e deve ter formigas. Você sabe, as detesto, e no mais, sei exatamente quais são suas intenções, não estou bem e você só se preocupa com isso. (Querer eu quero mas...)

- Não é nada disso isso aqui não é mato é uma grama macia e pode ter certeza, não tem nenhum bicho e nós estamos no meio de um parque. Vem, sente aqui. Eu tenho certeza que você vai gostar. Há quanto tempo não ficamos assim juntos? Ficar aqui é uma desculpa para ter você perto de mim, conversar, trocar idéias, um tempo para lembrarmos quando ficávamos juntos e sozinhos, não era bom? (com a voz carinhosa e sedutora).

- Mas acho que a gente podia achar um lugar melhor, vamos beber e comer alguma coisa em um lugar confortável, quem sabe não tem um lugar assim aqui perto? (Disse lindamente)

- Aqui já tem gente demais, para todo lado que se olha há pessoas. Relaxe, sente aqui, fica comigo, outro lugar não vai ser como este, não vamos ter privacidade.

- Está bem! E no mais, estou precisando, me sinto cansada de tanto andar.

- Ótimo. Aconchegue-se então. Essa grama mais parece um tapete, de tão macia, e essa noite está fantástica, olha só como está esse céu.

- Só você mesmo para me convencer. Tenho tendência a me afastar desses pequenos prazeres.

- Use meu casaco como travesseiro.

- Você não vai ficar com frio?

- Não se preocupe comigo, você me falou para trazê-lo, mas a noite está quente, e agora vou dar uma utilidade para ele: vai virar travesseiro para apoiar a cabeça de uma princesa.

- E você?

- Passe-me a sua bolsa: é mais do que suficiente para descansar esse humilde servo que lhe ama.

- Você ainda não sentiu que o que tem ai dentro não tem nada de macio?

- Não importa. Está ótima! E só dar uma ajeitadinha e pronto não podia ficar melhor.

- Nossa, por um segundo me deu uma sensação de poder dormir e só acordar amanhã.

- Deitar aqui com a pessoa que mais amo, só me dá alegria, ainda bem que consegui convencer você.

- Não teve que fazer muito esforço vamos, confesse. (com o ar de quem cederia por muito menos).

- Meu amor, a única coisa que lhe tenho para confessar é que lhe amo demais.

-Isso não é novidade nenhuma, pois te amo muito mais. (e o som de um beijo foi ouvido pelas estrelas).

- Você já reparou como está esse céu?

- Cheio de nuvens carregadas, que mais parece que vai cair uma tempestade.

-Claro que não, ele está é lindo, repleto de estrelas. (com a felicidade estampada em seus olhos).

-Está nada!

-Está sim. Vê aquela bem ali, a mais afastada?

- Estou vendo.

- É para você. Assim, toda vez que estiver olhando para o céu, vai ser lembrar de mim.

-Já que é assim vou lhe dar uma coisa gigante: toda a parte escura do céu.

- Que coisa! Pensei que seria a Lua! Só mereço a noite eterna?

- Assim quando precisar de luz me chame.

- Muito esperta. (riam a vontade, o sorriso dos apaixonados).

-Faz muito tempo que ficávamos assim tão próximos.

-Você se lembra como nos conhecemos?

- Claro! Você estava lindo, de blazer e gravata com uma pasta preta, nada mais cafona...(dizendo as gargalhadas).

- Eu?

- Domingo, em um churrasco com um sol de rachar,e você, ali, de paletó e gravata, e o pior, com uma pasta preta na mão para completar. Desculpa-me amor, eu nunca tinha lhe dito isso, mas você estava ridículo (a última palavra quase não saia, de tanto rir).

- Não acredito nisso, nos conhecemos na biblioteca procuravamos o que ler.

- Realmente procurava um livro do Guimarães Rosa, e você estava procurando um desses livros de auto ajuda, como “Hei de Vencer” e companhia, "super estranho". Como fui acabar me apaixonando por um cara que lê livros de auto ajuda (ria a vontade).

- E foi graças a eles que te conheci.

- Não foi não! Foi o sol escaldante do churrasco, você suava “em bicas” e me pediu para guardar o paletó, dei uma risada e perguntei se você iria vazar pela gola da camisa se eu tirasse a sua gravata.

- Por ai você vê o que um cara não faz, para chamar a atenção de uma gata com aquela cabeleira linda caída sobre aqueles ombros que elegantemente se equilibravam naquele corpo esguio e gracioso, cheio de balanço, você estava linda e apaixonante.

- E eu tive o maior trabalho para conter o meu namorado.

- Naquele dia eu não falei nada, estava era com vergonha cheio de medo e mesmo assim ainda incomodei o seu namorado (certa duvida).

-Claro, um cara que aparece dissolvendo-se dentro daquela roupa, só podia ser muito perigoso. Enfrentar aquilo era demais (a mão dela pega na dele e ele a acomoda com carinho entre seus dedos), só podia estar com um objetivo, e o pior, achava que ninguém reparava que você estava me “secando” de tanto olhar. O outro, coitado, estava de bermuda e chinelo na sombra de um bambuzal e suava mais que você, de ciúmes. Deu-me foi muito trabalho, eu não sabia quem ia derreter primeiro (e riam mais ainda).

- Ora era só um problema de goteira...(e riam,riam,riam até que...).

Eles adormeceram ali mesmo um ao lado do outro, felizes e juntos na alma e no corpo, riram para valer o tempo todo e os detalhes daquele churrasco os encheram de felicidade e a única coisa que não lembravam foi do que se comeu ou bebeu.

A lua não podia ficar indiferente, só se pôs ao raiar do dia para garantir que aqueles amantes adormecidos não ficassem desprotegidos de luz e assim pudessem despertar com mais alegria.