FILHOS...

O cidadão já passara dos setenta... Teria feito diversas cirurgias e, fora hospitalizado novamente para fazer a segunda, do coração... Na primeira, passara muito mal, ficara no hospital, entre tratamento e cirurgia, durante um mês. Na segunda dois meses, de muito sofrimento!

Criara os filhos, como todo pai dedicado, esforçando-se para que não lhes faltasse nada. Dera-lhes estudo e, tudo o mais que se fizesse necessário. Até mesmo, festas de aniversário, até quase completarem dezoito anos...

Depois de todos criados, casados, com filhos também, o pai ainda os ajudava, com suas economias, a resolverem qualquer problema de dinheiro que por ventura aparecesse... Dera ao filho mais velho, ajuda para liquidar contas na construção de uma bela casa que, juntamente com sua esposa haviam arquitetado...Pagara dívidas de emprétimos feitos em banco, mensalidades atrazadas da faculdade quando cursava direito e etc...

Teria o velhinho, economizado, durante toda uma vida, pequenas quantias á cada mês, de modo a que, no futuro, não viesse a precisar dos filhos... Estava aposentado, trabalhara no mesmo local, durante o tempo em que se fez necessário para a conquista de sua aposentadoria. Não conhecera outro patrão, a não ser aquele... Boa gente o velhinho!

Mas, heis que, na segunda cirurgia, não teria ele condições de arcar sozinho, com a despesa da troca da válvula do coração que se fazia urgente naquele momento.

E agora? O que fazer então?

Era recorrer ao filho, aquele mesmo á quem ajudara sempre que lhe pedira auxílio... O mais velho. Era o que se apresentava em melhores condições de vida, advogado... Os outros dois, no momento, não teriam condições para tanto!

Ajudou... Mas, sem muita vontade, com metade da despesa.

Vendo que o pai estaria muito mal, pois tivera uma parada cardíaca, seis dias após a cirurgia, tendo voltado para a UTI.

Achando que o pai não resistiria, que desta vez partisse... Pedira permissão para uma visita fora de hora, dando a desculpa de que iria viajar a serviço. Fora dizer ao pai, na UTI, para que este levasse a impressão de que estaria sendo um bom filho e, que a conta estaria totalmente paga. O que não era verdade!

Mas como Deus só faz a “coisa” no momento certo e, a mentira tem pernas curtas... O pai não partiu... E como pessoa honesta, de bom caráter, obrigou-se a liquidar o restante da dívida...

O filho? Não apareceu até hoje... Nem mesmo para uma pequena visita...

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Filhos... Muitos deles, não sabem e nem podem imaginar, até onde pode chegar o amor de um pai ou de uma mãe...

Estando, este mesmo senhor, um dia destes, á procura de certo documento e, revirando seus guardados, encontrou entre eles, um recibo datado de certo mês do ano de l967. Recibo este, que proviera para comprovação da entrega de um aparelho de TV que havia ido para o conserto e, quem o teria assinado como recebedor do tal aparelho, fora este seu filho, que na época contava com oito pra nove anos... Lá estavam estampadas as “garatujas”, de menino de um segundo ano primário...

E, a expressão deste pai ao se deparar com tal “achado” foi:

_Olha só! O meu guri, desde pequeno colabora tanto comigo!! Bom guri!!.

Zelia C Silva.

Zelia C Silva
Enviado por Zelia C Silva em 14/03/2010
Reeditado em 29/03/2010
Código do texto: T2138289
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