O rei, a rainha e suas princesas
Em um reino encantado muito distante no meio da floresta amazônica, no estado de Rondônia, na capital de nome Porto Velho que limita-se ao norte e a nordeste pelo rio Amazonas, a leste e sudeste pelo Mato Grosso, a sul e oeste pela Bolívia, e a noroeste pelo estado do Acre. Os rios dos estado fazem parte da bacia amazônica, e os principais são: rio Madeira, rio Mamoré e rio Guaporé. Grande número de árvores frutíferas deliciosas e variadissima fauna: macacos, jaguares, tatus, preguiças, antas, cotias e etc. O reino mineral está representado pelos diamantes, ouro, mercúrio, granito, etc. Pois bem, neste reino encantado encontram-se os domínios do rei Luiz Fernando e da rainha Maria Angélica. O rei Luiz Fernando escolheu Porto Velho para instalar seu principado. Convém frisar que eles são reis modernos e, demais a mais, cada um de nós em sua casa é rei. O rei Luiz Fernando, depois de um certo tempo, sentia que estava-lhe faltando algo mais na vida e resolveu escolher entre as casas reais, uma princesa. E viajou, viajou, para muito longe, percorreu outros reinados e acabou encontrando a sua princesa no sul do país. Uma princesa inteligente, muito bonita por dentro e por fora, e que estudava engenharia. Ele é advogado. E tratou de se comprometer com a princesa Maria Angélica que, por sua vez, ficou apaixonadíssima pelo ilustre monarca, pois, como falei, eles são modernos. Algum tempo depois ela terminou a faculdade e eles se casaram. A noiva vestida de rainha, as festas do casamento duraram três dias, pois foram três festas, com três cerimônias, como convém à realeza: o civil, o religioso, e a rainha, mãe do noivo, organizou uma cerimônia holística. Pois bem, com todo esse aparato, a coisa só poderia dar muito certo e deu, pois já se vão oito anos de união muito feliz. E dessa união nasceu a infanta Maria Alice que vai ter o seu dia de conta-anos no mês de março. Vai completar cinco anos. Ela é linda, linda, lourinha, clarinha, o cabelinho até parece fios de ouro, é longo e cacheado. Grandes olhos castanhos. Ela muito cuidadosa com as coisas dela e da família. Tudo ela sabe colocar no seu devido lugar. Gosta de pintar, desenhar, brincar com seus brinquedinhos didáticos, modelar. Anda sempre muito bonita. O guarda roupas dela é lindo. Ela é muito chic, educada, comportada, sabe comer com garfo, sabe como deve se comportar à mesa. O quarto dela é muito organizado, tudo no seu devido lugar. Ela só não gosta é de falar. Não é que ela não saiba, ela sabe; mas não fala e pronto. A vó materna jura que ela tem um computador no cérebro e que está armazenando tudo e que um dia ela vai explodir e tagarelar muito. Já foi diagnosticada que ela tem autismo leve, mas a psicóloga e a fonoaudióloga dizem que não é autismo. Ela é muito afetuosa, não é chorona, é alegre, gosta de fazer carinho nas pessoas e de fazer novas amizades. Gosta muito de livros e musica. Adora música. E se emociona quando ouve música clássica. Quando a infanta Maria Alice contava com três anos e meio, nasceu a infanta Maria Cecília que é tão linda quanto a irmãzinha. Tem cabelos avermelhados, cacheados, os olhos claros, olhos da cor d’água. Ela conta um ano e meio e já é muito falante. A primeira frase dela foi: é meu, eu não quero! As duas irmãzinhas são muito unidas, pois a infante Maria Alice sabe cuidar direitinho da infanta Maria Cecília.Pela manhã as duas saem para a escola, uma vai para creche e a outra vai para o Colégio Laura Vicunha, das irmãs Salesianas. Ela gosta muito do colégio, dos amiguinhos e das professoras e também sabe que é muito querida por todos. No final do ano passado, os avos maternos também resolveram mudar para o norte. O vovô à trabalho, o que lhe fez muito bem; ele até ficou mais jovem. E a vovó ficou só de preguiça, arrumando a casa, que ela denominou a Abadia dos Bosques, porque fica em frente a um lindo bosque. É uma casa branca de arquitetura rural. Enormes varandas, portas grandes e janelas pequenas. Explica-se: janela, no norte, só serve para ventilar a casa de madrugada pois o calor é muito grande. No norte o calor não dá trégua; a água sai quente das torneiras, mas tudo é preparado para dar muito conforto. De dezembro a julho tem o que é chamado de “fruagen”, temporada de muitas chuvas. Não é chuvisco, é chuva que não acaba mais. De julho a dezembro é a seca que chamam de verão e aí o pessoal vai para praia.(?) Pois é quando o rio desce e a seca é grande. E onde o rio fica seco o pessoal coloca cadeira de praia, guarda sol e toma banho de rio. Se olhar de longe até parece uma praia de verdade. Uma quantidade enorme de guarda sois coloridos e as crianças brincando na areia. A comida típica é muito boa e tem nomes engraçados: pirarucu de casaca, baião de dois, tapioca com côco (que é uma delícia), tem cacacá que é um caldo bem forte e frutas tem que é uma beleza. O abacaxi é bem doce, a manga é deliciosa. A vovó e o vovô estão gostando muito de morar no norte. O povo é muito receptivo. Recebe bem quem escolhe o estado para morar. Com muito carinho eles dão aconchego e nós vamos nos aninhando nos braços deles. Que gente generosa, que gente boa! A infanta Maria Alice e a infanta Maria Cecília gostam de visitar os avós na Abadia dos Bosques. Lá elas podem se divertir à vontade, pois a vó, quando mudou do sul, trouxe três cachorros e uma gata: a Tiquinha. Tem o Dom Pipo, um Cocker grande que faz a maior bagunça, ele é muito alegue e brincalhão. Faz festa quando as infantas chegam. A infanta Maria Alice alimenta o Dom Pipo e ele dá duas beijos de lambida na bochecha dela. Ela adora brincar com ele e ela adora brincar com ele. Todos estão felizes, até o Kadu que é um Lhasa Apso, sem pelo. E a Domitila, uma Cocker ruão. Quando a rainha Maria Angélica vai viajar a trabalho o rei, Luiz Fernando é quem fica cuidando das meninas e à tarde é a tia Neiva, que já foi tia da escolinha da infanta Maria Alice. A mesma escolinha onde está hoje a infanta Maria Cecília. Tia Neiva dá tarefas para elas, elas fazem fichas, desenhos, etc. Depois vão tomar banho na piscina e elas fazem muita bagunça. Quando retornam para o seu castelo, tomam banho, e já é hora de jantar. Aí a tia Neiva serve o jantar e vai para a casa dela. E o rei Luiz Fernando assume o posto de cuidar das irmãzinhas. Como ele é um rei muito moderno, ela dá mamadeira, troca fraldas, dá banho e as coloca para dormir. E a vovó fica encantada: como é que eles são tão bem organizados! Pois bem. É que naquela família, tudo o que eles fazem é com muito amor, boa vontade e harmonia. De segunda a sexta-feira os avós almoçam juntos no castelo deles, pois foi a rainha Maria Angélica que assim decidiu porque é a oportunidade que eles têm de se encontrar diariamente. Depois do almoço, todos vão ao trabalho. Sábado ou domingo, elas visitam os avós na Abadia dos Bosques. Por que Abadia dos Bosques? Porque quando os avós chegaram na cidade para morar, não trouxeram mudança, só algumas coisas que lembram o Divino, porque nós sabemos que existe um Deus que nos protege. Pois a rainha Maria Angélica e o rei Luiz Fernando foram tratando de deixar a casa bem confortável para os avós e entre as peças do mobiliário que eles trouxeram do castelo para a Abadia dos Bosques veio um récamier. O récamier é um estofado muito bonito que tem este nome em homenagem a Joana Francisca Bernard, francesa célebre pela sua formosura e pelo seu espírito e das suas qualidades e que morava em uma residência que se chamava Abadia do Bosque onde se reunia, durante a restauração (nome que se deu à França no período que se mediou entre o restabelecimento dos Bourbons e sua queda, entre 1814 e 1830. Distingue-se a primeira restauração e a segunda depois da Guerra dos Cem Dias. Pois bem, madame Récamier recebia os amigos queridos e entre eles, o mais constante, Chateubriand. O Visconde Renée Chateubriand, celebre escritor frances, nascido em Sant Malo. O brilho incomparável do seu estilo, a riqueza de sua imaginação, o seu extraordinário poder descritivo, asseguram-lhe um dos primeiros lugares nas letras francesas, pois o ilustre Visconde era amigo de todas as horas de Madame Récamier. Assim sendo, como a vovó e o vovô moram na casa branca que dá frente para os bosques, onde tem calangos, lagartos, cotias, capivaras, dizem, até, jacarés, também tem um igarapé, o maior da cidade. Muitas árvores nativas, muitos buritis (uma palmeira nativa), enfim que lugar mais paradisíaco poderia servir para homenagear tão ilustre francesa e seu amigo. Pois exatamente nesse lugar que o rei Luiz Fernando e sua consorte, escolheram para edificar o seu castelo e criar suas princesas. Sua majestade já está programando a festa de sua majestade a rainha Maria Angélica, no dia 27 de março que é o dia do seu conta-anos. E um arauto já anunciou que a princesa Maria Alice vai receber nos salões de festas do colégio todos os amiguinhos. Parabéns para a família real pelo dia de conta-anos de sua rainha e de sua princesa. Felicidades sempre. Saúde, paz e amor. Que no reino do rei Luiz Fernando e sua rainha Maria Angélica todos os dias sejam dias de sol. Essa é a história de uma família onde reina o amor, o elemento fundamental para uma família equilibrada, bonita, feliz, que tem fé em Deus e na união de seus semelhantes. A verdade é que nenhum monarca verdadeiro pode comprar: o respeito, o amor e a união, pois não ouro que pague.
(Em nossas casas, entre as paredes que nos abrigam, podemos ser reis, rainha, príncipe, princesa, marionetes ou feiticeiras – cabe a cada um de nós a escolha – e somos responsáveis pelas nossas escolhas, porque senão a conta demora, mas chega)
Poema de Emily Dickinson (1830)
Não viverei em vão, se puder
Salvar de partir-se um coração
Se puder aliviar uma vida
Sofrida ou abrandar uma dor
Ou ajudar exangue passarinho
A subir de novo ao ninho
Não viverei em vão